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California: a última Ferrari com câmbio manual da história

Nesta semana, a Ferrari conseguiu algo impressionante: nos deixou tristes ao dar uma notícia que já sabiam. A fabricante afirmou, oficialmente, que jamais voltará a construir carros com câmbio manual. Como dissemos, a gente já sabia disso havia algum tempo, e o que fabricante fez foi só tornar oficial a decisão. Mas vai dizer que não dá um nó na garganta?

Em um dos primeiros posts do FlatOut, falamos justamente sobre a morte do câmbio manual, e como as fabricantes a justificam. Na época, dissemos que a Ferrari foi uma das maiores responsáveis pelo fim do pedal de embreagem, e mantemos a afirmação: foram eles que introduziram as aletas para trocas de marcha na Fórmula 1, no fim da década de 80. Nos anos 90, a primeira Ferrari de rua com câmbio automatizado foi revelada – a F355, de 1994.

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Com o passar dos anos, os fabricantes e compradores de superesportivos começaram a achar que o desempenho superior dos carros com câmbio automático/automatizado compensava o envolvimento mecânico perdido com o abandono da caixa manual. Em um processo que vem durando 15 ou 20 anos, mais e mais companhias foram deixando o pedal de embreagem de lado, especialmente com o advento da transmissão de dupla embreagem e de suas trocas sempre suaves e muito rápidas, na ordem dos milissegundos. Piloto nenhum consegue ser tão eficiente usando seus braços e pernas, e você não precisa ser um profissional experiente para conseguir andar mais rápido com duas embreagens trabalhando por você.

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É por isso que, por exemplo, só existem 29 exemplares da 599 GTB Fiorano equipados com câmbio manual de seis marchas, sendo que os dois últimos foram fabricados em 2011. O grand tourer que a Ferrari vendeu entre 2006 e 2012 tem um V12 de seis litros e 620 cv na dianteira, capaz de girar a 8.400 rpm e levar o carro de 1.800 kg até os 100 km/h em 3,7 segundos. Considerando que uma parcela considerável dos clientes da Ferrari não sabe exatamente o que fazer com tanta força, até faz sentido que um computador ajude nas trocas de marcha.

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Em 2015, um exemplar de 2007 foi anunciado na Holanda por €450 mil, ou R$ 1,58 milhão em dinheiro de hoje, sem taxas. É quase o triplo do que costuma custar uma 599 com câmbio sequencial automatizado “F1”, de seis marchas.

Quer algo ainda mais raro? A Ferrari California com câmbio manual. Hoje em dia, o atual modelo de entrada da Ferrari tem um V8 biturbo (por isso o “T” em seu nome) de 3,9 litros e 560 cv, sendo capaz de chegar aos 100 km/h em 3,6 segundos com máxima de 315 km/h. Seu estilo ficou mais agressivo, o interior foi remodelado e agora há um sistema de suspensão ativa magnética revisado, garantindo excelente comportamento dinâmico. Só que você só consegue encomendar um exemplar com caixa de dupla embreagem e sete marchas.

E, na boa, nem dá para falar mal do ronco dela

Ao ser anunciada, a Ferrari California não foi uma unanimidade. Os puristas (sempre eles) diziam que, por ter um motor V8 na dianteira, ela não era uma Ferrari de verdade. E tem mais: quando ela finalmente foi apresentada, em 2008, circularam boatos de que, na verdade, a California tinha sido desenvolvida pela Maserati e só recebeu um emblema Ferrari para poder custar mais caro. A Ferrari nega e nós acreditamos nela.

O motor era um V8 naturalmente aspirado de 4,3 litros e 460 cv, era capaz de chegar aos 100 km/h em menos quatro segundos, com máxima de 310 km/h.

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A imprensa especializada que testou a California na época só falou bem da Ferrari de entrada, elogiando seu ronco, seu acabamento e sua tocada. Tanto que, para agradar os puristas (e os jornalistas), a Ferrari decidiu oferecer o câmbio manual de seis marchas como em opcional em 2012. Com o fim da 599, isto significava que a California era o único carro da família de Maranello que te deixaria trocar as marchas sozinho, coordenando movimentos do pé e da mão.

Não dá nem para encontrar um vídeo dela. Fiquem com este aqui, de uma 599 manual

Alguns dizem que apenas dois carros receberam o opcional, enquanto outros dizem que formam cinco. A Automobile Magazine diz que, na verdade, dez ou doze exemplares com câmbio manual foram fabricados, para fins de homologação em diferentes mercados. Estes teriam sido, depois, mandados para diversas concessionárias Ferrari, mas só dois foram vendidos: um no Japão, outro nos EUA.

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Qualquer que seja a versão correta, uma coisa é inegável: a Ferrari California com câmbio manual deixou de ser um patinho feio para se tornar um dos carros mais raros e desejados da marca italiana. E, naturalmente, só vai ficar mais valiosa nos próximos anos, pode apostar. Quer uma prova? Em fevereiro deste ano, a agência de leilões francesa Artcurial vendeu uma delas por €330 mil, o que dá cerca de R$ 1,16 milhão. E é incrível quando lembramos que a California é uma das Ferrari mais criticadas pelo público nos últimos anos.

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Seu futuro, para nós, é certo: dentro de alguns anos, a Ferrari California com câmbio manual estará entre as mais desejadas e caras. Se depender da gente, ela já está.