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Car Culture História

Camaro Yenko: o carro que ensinou a Chevrolet que um motor maior é sempre melhor

O mundo dos muscle cars tem alguns nomes consagrados por ajudar a criar modelos icônicos ou, de alguma forma, terem seu nome associado a eles. Carroll Shelby criou o Cobra, e depois preparou Mustangs que fazem fama há cinco décadas. John DeLorean, antes de criar o esportivo homônimo que fez fama como máquina do tempo, simplesmente inventou o muscle car com o Pontiac GTO. Junto deles, está Don Yenko. Ele não é tão conhecido, mas nem por isso deixa de ser uma lenda: ele criou um dos muscles mais incríveis da história: o Camaro Yenko/SC.

Direto ao ponto

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Em 1957, Donald Frank Yenko abriu uma oficina preparadora especializada em Chevrolet, aproveitando o espaço da concessionária aberta por seu pai dez anos antes em Canonsburg, Pensilvânia. Naquele mesmo ano, ele estreou em corridas de turismo pelos EUA, e a oficina era seu trabalho secundário. Foi assim até 1965 — ano em que Yenko começou a preparar o Chevrolet Corvair. Apesar da má fama do modelo graças ao livro Unsafe at Any Speed, de Ralph Nader, que fazia duras críticas à sua suspensão traseira, Yenko gostou de como o Corvair, com seu boxer de seis cilindros refrigerado a ar e montado na traseira, se comportava. Ele não do tipo que enrolava — se tinha uma ideia e gostava dela, ele fazia.

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Ele produziu 185 Corvair preparados entre 1965 e 1969 — com motores de até 240 cv e melhorias na suspensão, transmissão e direção. Os carros eram homologados para competir nas provas organizadas pela SCCA, mas Yenko jamais pilotou um deles — ele dizia que não queria competir com suas próprias criações, e preferia que elas ajudassem outros pilotos a vencer.

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O Yenko Stinger — como ficaram conhecidos os Corvair preparados pela Yenko — fizeram sucesso entre equipes privadas no circuito de automobilismo americano, e Yenko passou a concentrar seus esforços na preparação, deixando as corridas em segundo plano. Mas há uma razão para você não ter ouvido muito sobre o Stinger: em 1966, a Chevrolet lançou o Camaro como resposta ao Mustang, e Yenko enxergou imediatamente o potencial do novo carro.

Coração de Corvette

Aaron Summerfield ©2010 Courtesy of RM Auctions

Quer resumir o Camaro Yenko em uma frase curta? Repita comigo: um Camaro com motor de Corvette. Pronto. Mas você, logicamente, sabe que há muito mais para conhecer sobre ele, e não vamos te decepcionar, de forma nenhuma.

Ainda que os motores V8 do Camaro — tanto os small blocks 302 e 327, quanto o big block 396 — tivessem desempenho excelente, eles ainda não eram suficientes para os mais sedentos por desempenho. Yenko era um desses caras — afinal, ele agora vivia de deixar os carros da Chevrolet mais potentes, e viu no novo modelo um enorme potencial.

Intencionalmente, a Chevrolet deixava seus maiores motores, como o V8 427 (7 litros) para o Corvette, seu modelo mais importante desde 1963, quando se tornou o Sting Ray. Obviamente isso não impedia que alguém comprasse um Camaro e colocasse nele o motor do Corvette. E foi exatamente isto o que Don Yenko fez.

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Yenko encomendou em 1967 alguns Camaro SS para sua concessionária/preparadora. O Camaro SS era o segundo modelo mais potente da linha, e usava o small block 350 (L48) ou o big block 396 (L78). O primeiro entregava 295 cv em sua especificação mais forte, enquanto o segundo entregava até 375 cv.

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Com o motor 427 (L72) do Corvette, a potência crescia para estrondosos 430 cv. A transmissão era manual de quatro marchas, com relações mais curtas, e o capô era substituído por uma peça de fibra de vidro com entradas de ar funcionais e visual parecido com o do Corvette — o original era de lata e as entradas eram meramente decorativas. Além disso, a suspensão traseira era reforçada e o diferencial recebia relação 4.10. Foram feitos cerca de 50 carros (a maioria das fontes especifica 54 carros, mas não há um número oficial), que rapidamente foram vendidos pela Yenko Chevrolet.

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A razão da alta procura pode ser o fato de que, naquela época, nenhum carro compacto ou médio da Chevrolet podia sair da fábrica com motor maior do que 400 pol³ (6,6 litros) — era uma norma interna, provavelmente criada pela mesma pessoa que resolveu banir os investimentos da marca em competições. Mas assim como esta regra deu origem ao primeiro muscle car, felizmente a proibição de motores grandes deu visibilidade ao Camaro Yenko, pois ali nascia uma lenda.

Inspirando os grandões

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Com a alta demanda, no ano seguinte Don continuou com a produção do Yenko Camaro. O carro mantinha a mecânica de Corvette com câmbio mais curto, porém esteticamente as coisas mudavam um pouco: o capô de fibra de vidro era novo, agora com duas entradas de ar, e emblemas exclusivos adornavam a traseira de algumas unidades, bem como as laterais. Estima-se que 68 carros foram produzidos naquele ano.

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Mas foi em 1969 que veio o melhor Yenko de todos. Naquele ano, a Chevrolet viu que estava perdendo clientes entre os adeptos das corridas de turismo e arrancada por não oferecer um Camaro com “motorzão”. Os competidores preparavam seus próprios carros ou procuravam os serviços de gente como Don Yenko. Sendo assim, em uma medida emergencial, a Chevrolet usou seu sistema de encomendas especiais, o Central Office Production Orders (COPO) — destinado a receber encomendas de frotistas, como empresas de táxi — para disponibilizar aquele que ficaria conhecido como COPO Camaro. Era um pacote que usava exatamente a receita de Yenko, recebendo o motor 427 do Corvette, agora com 456 cv.

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Você acha que Yenko se abalou com isto, lamentando a concorrência da própria Chevrolet? Não: agora seu trabalho havia ficado mais fácil, e ele encomendou exatamente 201 COPO Camaro para transformá-los no Yenko Camaro — e ainda aproveitou para estender sua atuação ao Chevrolet Nova e ao Chevelle, embora ambos jamais tenham tido o mesmo reconhecimento.

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E ele caprichou pra valer na personalização. Agora, os carros recebiam faixas nas laterais, que traziam na porção traseira os dizeres YENKO/SC (de “Sports Car), um spoiler na traseira que era discreto, porém cheio de personalidade, spoiler do tipo lip na dianteira, capô cowl induction com faixas duplas e emblemas “sYc” nos bancos.

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Dos 201 carros, 171 vieram com câmbio manual de quatro marchas, e os 30 restantes tinham câmbio automático, de três marchas. Destes 30, só se tem notícia de dois exemplares restantes.

Ah, e se você tem entre 20 e 30 anos, certamente se lembra de um certo Camaro azul — mais precisamente, Le Mans Blue — que Brian O’Conner (Paul Walker) ganha depois de uma disputa com seu Lancer Evolution tunado em “Mais Velozes, Mais Furiosos” (2 Fast 2 Furious, 2003). Sim, aquele é um Yenko/SC 1969 de verdade.

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Os pouco mais de 300 Yenko Camaro que existem no mundo são verdadeiras lendas entre os fãs do muscle car da Chevrolet, não apenas por sua raridade, mas seu desempenho — que não era medido em 0 a 100 km/h ou velocidade máxima, mas nos 402 metros. Com pneus de rua, o Yenko Camaro era capaz de virar o quarto-de-milha nos 12 segundos baixos a 183 km/h. Não surpreende que a própria Chevrolet tenha copiado a receita.

O legado de Don Yenko

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O Yenko é tão adorado pelos fãs do Camaro que, em 2008, uma empresa americana chamada  Classic Automotive Restoration Specialists conseguiu autorização para dar continuidade à produção do Camaro Yenko. Em março daquele ano, o primeiro carro, um Camaro 1969 feito usando componentes da época de lançamento, foi registrado como o Camaro Yenko 1969 n° 202.

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Dada sua raridade, cada vez que um Yenko troca de mãos, toda a mídia especializada fica sabendo.  No último fim de semana, a Mecum Auctions vendeu um Camaro Yenko 1968 por US$ 320 mil (R$ 709 mil) em Indianapolis. Mesmo que o carro tenha uma história obscura (passou por quatro donos e uma restauração, e ainda assim só tem 2.150 km marcados no hodômetro) e não tenha mais o V8 instalado por Don Yenko — o último dono trocou por um V8 427 preparado por ele mesmo durante a restauração — só o fato de ser um Yenko o torna muito mais valioso.

Mas…

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Agora… lembra quando dissemos que a Chevrolet usou seu sistema especial de encomendas para criar o COPO Camaro? Pois bem existe um Camaro ainda mais fodástico do que o Yenko. Ele se chama ZL-1, e era a versão nº 2 do COPO Camaro, de código 9560, mas tinha conjunto mecânico totalmente diferente — motor de carro de corrida com mais de 500 cv. Mas nós não vamos falar dele agora — fica para uma próxima, muito em breve.