Há alguns dias, fizemos aqui uma pequena lista de carros com nomes de armas brancas – espadas, lanças, machados e projéteis. Aquela era apenas a primeira parte, na qual prometemos que a sequência falaria sobre carros com nomes de armas de fogo. Pois bem: chegou a hora!
Conforme foi dito no post anterior, não se trata de associar carros com armas – longe disso. É claro que existem aqueles que insistem a dizer que carros e armas não são muito diferentes, pois é possível ferir e até matar pessoas com tanto com carros quanto com armas. Nós, entusiastas, sabemos que não é assim que as coisas funcionam, pois de acordo, facas de cozinha, portões com barras pontiagudas, equipamentos de pesca, brinquedos de parque de diversão (meu pai me contou uma vez a história de uma menina que teve o baço perfurado em um escorregador e morreu de hemorragia) e instrumentos musicais também são como armas e não podem ser usados/manipulados por muita gente…
Agora, uma questão interessante: enquanto os carros com nomes de armas brancas costumam, de fato, ser inspirados pelas armas, no caso das armas de fogo a coisa é menos explícita e, em muitos casos, é apenas coincidência. O primeiro nome da nossa lista, por exemplo, até causou problemas para sua fabricante por causa do nome.
Chevrolet Beretta
O carro: o Chevrolet Beretta foi um cupê de tração dianteira produzido pela General Motors nos EUA entre 1987 e 1996, e seu estilo é assinado pelo mesmo departamento de design da GM que criou o Camaro e o Corvette da época, o Chevrolet Exterior Studio 3.
Apesar de usar uma plataforma diferente, ele tinha o mesmo conjunto mecânico do Chevrolet Cavalier, que por sua vez era gêmeo de plataforma do nosso Chevrolet Monza. Seu motor mais forte era usado na versão Z26: um V6 de 3,1 litros e 160 cv. Não é o GM dos anos 90 mais lembrado do mundo, mas até que seu visual era bacaninha.
A arma: como dissemos, na maioria dos casos o fato de um carro ter o mesmo nome que uma arma de fogo é coincidência. No caso do Chevrolet Beretta, este é o nome de uma famosa fabricante de armas italiana, a Fabbrica d’Armi Pietro Beretta S.p.A, fundada por… Pietro Beretta. Costuma-se chamar de Beretta, de forma geral, qualquer arma fabricada pela Beretta. A Beretta fornece a pistola M9 para o exército norte-americano desde 1985.
A Chevrolet se meteu em problemas por causa do nome do carro, inclusive: no fim dos anos 80 a empresa italiana levou a fabricante de automóveis ao tribunal, acusando a GM de violar os direitos da marca. Em 1989 a disputa foi resolvida: para continuar chamando o Chevrolet Beretta de Chevrolet Beretta, a General Motors precisou fazer uma doação de US$ 500.000 a uma instituição de caridade apoiada pela fabricante de armas. Além disso, as duas empresas trocaram presentes simbólicos: a Chevrolet deu à Beretta um carro, e a Beretta deu à Chevrolet um par de espingardas.
Ah, e quem jogou Resident Evil (o primeiro do PlayStation) vai lembrar da Beretta M92FS, que já apareceu em praticamente todos os títulos da franquia.
Dodge Magnum
O carro: este aqui é bem divertido. No Brasil, Dodge Magnum é o nome de uma das versões do Dodge Dart, que começou a ser vendido por aqui em 1969 e foi fabricado até 1981 – o que tecnicamente faz dele um carro com dois nomes de armas. O Magnum foi lançado em 1979, dez anos depois do lançamento do Dart, e era uma versão cupê de luxo, com teto parcialmente revestido em vinil e dianteira igual à do sedã LeBaron. E, claro, o mesmo motor V8 318 (5,2 litros) usado pelos outros membros da família.
Stallone, é você?
Nos EUA, o Dodge Magnum foi lançado em 1978 como um complemento ao Dodge Charger, usando a mesma plataforma B-Body, porém adotando um estilo mais aerodinâmico e moderno, com uma grade saliente e faróis retangulares atrás de lentes de acrílico. Ele teve vida curta e deixou de ser fabricado em 1979.
No entanto, existe outro Dodge Magnum muito mais interessante, que você provavelmente já quis em algum momento da sua vida: a perua Dodge Magnum, feita com base na plataforma LX da Chrysler – a mesma do opulento Chrysler 300C, que por sua vez tem sua origem no Mercedes-Benz Classe E W211 e compartilha a mesma suspensão traseira. O Dodge Magnum foi vendido entre 2005 e 2008 e teve até mesmo uma versão SRT-8, equipada com um V8 Hemi de 6,1 litros e 430 cv e câmbio automático de cinco marchas. Com este conjunto, era capaz de acelerar de zero a 100 km/h em 5,1 segundos e de cumprir o quarto-de-milha em 13,1 segundos a 174 km/h. Além, é claro, do visual badass.
Comparativo entre cartuchos .38 Special e .357 Magnum. Repare como os cartuchos Magnum são maiores. Foto: Lucky Gunner
A arma: novamente, se você jogava Resident Evil, vai lembrar da Magnum, o enorme revólver que arrancava as cabeças dos zumbis com um só tiro – e que era usado com parcimônia, pois era difícil encontrar munição. Pois então: não existe uma arma chamada “Magnum”. O termo, na verdade, é usado para se referir à própria munição – trata-se, literalmente, de uma versão maior ou mais potente de um cartucho já existente. O exemplo mais conhecido é o cartucho .357 Magnum, que é uma versão do cartucho .38 Special com estojo (a “casca”) mais longo.
Mitsubishi/Dodge Colt
O carro: este aqui é meio complicadinho, porque a Mitsubishi e a Dodge utilizaram o nome Colt ao longo de 25 anos, entre 1970 e 1994. O Mitsubishi Colt veio primeiro: ele foi lançado em 1962 como Colt 600 e tinha um motor bicilíndrico de 594 cm³. Nos anos 70, o Mitsubishi Colt passou a ser um hatchback de tração dianteira, enquanto o Dodge Colt era, na verdade, um Mitsubishi Galant rebatizado. Se parece confuso, é porque é mesmo.
A partir dos anos 80 a coisa fica ainda mais complicada, porque o Mitsubishi Colt e o Dodge Colt passaram nesta época a ser o mesmo carro. Nos anos 90, o Mitsubishi Colt GTI foi vendido no Brasil, equipado com um motor 1.6 de 113 cv.
O último Mitsubishi Colt foi fabricado no Japão entre 2002 e 2012, e era um hatchback com perfil de minivan e u visual agressivo na dianteira que não condizia muito com a personalidade do carro – exceto pela versão Ralliart, que tinha um motor 1.5 turbo de 163 cv.
Colt M16. Foto: zib-militaria
A arma: Colt era o nome da companhia que vendia os carros da Mitsubishi no Reino Unido até meados dos anos 80, embora a relação desta com a origem do nome Mitsubishi Colt. Também é o nome de uma fabricante de armas fundada em Connecticut, nos EUA, em 1863 por Samuel Colt.
Colt Python, a “Magnum” de Resident Evil, em seus dois tamanhos
A Colt é responsável por diversas armas de fogo famosas, como o fuzil M16 e o rifle AR-15. E já que é para citar Resident Evil, também é a fabricante da Colt Python, verdadeiro nome do revólver “Magnum” encontrado nos games clássicos da franquia.
Ford Maverick
O carro: este é um daqueles que dispensa apresentações, de verdade. O Ford Maverick foi criado nos EUA como uma alternativa mais barata e descolada ao Ford Mustang, mas no Brasil se tornou “o muscle car da Ford”, com seu motor V8 de cinco litros e 199 cv brutos, seu estilo tipicamente americano e a rivalidade com os Dodge V8 e o Chevrolet Opala. Ele foi vendido de 1973 a 1979, e teve mais de 108.000 unidades comercializadas. A palavra maverick não tem um termo exato correspondente em português – a definição é “uma pessoa não-ortodoxa, que pensa de forma independente.”
O nome Maverick também foi usado pela Ford na versão europeia do SUV Ford Escape, comercializado no Velho Mundo entre 2001 e 2004 e… bem, é isso. Ele não é um Maveco de verdade.
A arma: AGM-65 Maverick é o nome de um míssil ar-terra (em inglês, air-to-ground missile, ou AGM) fabricado desde 1972. Na verdade o Maverick é o míssil teleguiado mais produzido do planeta. Feito para suporte aéreo de curta distância, ele é eficaz contra blindados, defesas aéreas, navios, veículos transporte terrestre e reservatórios de combustível. Sua propulsão é feita através de um foguete de combustível sólido, localizado atrás da ogiva (o projétil do míssil, localizado em sua extremidade frontal).
BMW M1
O carro: lançado em 1978, o BMW M1 foi o primeiro superesportivo de motor central-traseiro produzido em série pela BMW, e o único até 2013, quando foi lançado o híbrido i8. Certamente é um dos carros mais incríveis já feitos pela marca. Para começar, ele foi desenhado por Giorgetto Giugiato, o que é sempre um plus. Então, tem o motor: o M88, um seis-em-linha com deslocamento de 3,5 litros, comando duplo no cabeçote, corpos de borboleta individuais e injeção mecânica de combustível.
Na versão de rua, ele era capaz de entregar 276 cv a 6.500 rpm, mas as versões turbinadas de competição (como o M1 Procar) encostavam nos 800 cv. No total, 453 exemplares do M1 foram feitos entre entre 1978 e 1981.
A arma: o rifle M1 Garand, lançado em 1935, é um rifle semi-automático que foi a escolha do exército norte-americano na Segunda Guerra Mundial e na Guerra do Vietnã. Batizado em homenagem a seu projetista, John Garand, o M1 foi considerado um dos melhores rifles de todos os tempos.
Feito para cartuchos de calibre .30-06, o M1 ainda é muito procurado por adeptos da caça esportiva, e também como colecionável por entusiastas de equipamentos militares.