Até hoje a Porsche conseguiu dobrar a física para manter intacta uma das maiores tradições do 911 – o motor traseiro. Sua silhueta depende disto, assim como a imagem do nine-eleven aos olhos de seus donos e admiradores. O 911 é o carro que nada contra a corrente em termos de layout e mesmo com todas as desvantagens de ter tudo lá atrás, consegue ficar melhor a cada atualização. Mas um dia isto precisará mudar – se até o Corvette vai ganhar um motor central-traseiro para manter-se a par dos rivais, por que o 911 não o faria? Aliás, o 911 RSR já precisou dar um giro de 180 graus no powertrain para se manter competitivo nas pistas.
É claro que a Porsche evitará ao máximo uma manobra como esta em seu 911 de rua, afinal, muito do apreço dos entusiastas pelo 911 vem justamente de suas tradições. O mesmo não vale, porém, para oficinas e preparadoras independentes, que podem fazer o que quiserem – até mesmo criar um 911 de motor central usando como base um Porsche Cayman. Ou quase isto.
Foto: WVortex
Você provavelmente reconheceu o carro da foto acima como um Porsche Cayman, ainda que modificado, com a carroceria visivelmente alargada e a dianteira do 911 GT3 RS. Seu nome é Cayman GTR, e atrás dos bancos está um flat-six de 4,2 litros com potência estimada de 400 cv – o carro ainda não foi testado no dinamômetro.
A Road Scholars é uma oficina de restauração, preparação e manutenção especializada nos clássicos da Porsche que fica na Carolina do Norte, EUA. Eles têm uma bela reputação e uma bela frota de automóveis à venda que foram restaurados por eles mesmos – com direito até mesmo a alguns “intrusos” de outras fabricantes, como Ferrari e Bentley.
Com o Porsche Cayman GTR, eles decidiram fazer algo diferente: criar um esportivo moderno, juntando o melhor de dois mundos da Porsche, construído com a mesma qualidade de seus clássicos – nível de concours, como eles mesmos dizem. O resultado foi este monstrinho vermelho candy com rodas douradas. E apesar do visual meio stance gourmet do conjunto, o Cayman GTR tem bala na agulha.
Abra a tampa traseira e você verá o porta-malas revestido de couro e, pouco mais além, sob uma redoma de vidro, o motor de 911. Trata-se de um flat-six praticamente novo, com pouco mais de 1.200 km quando foi instalado no Cayman. Além de ter deslocamento ampliado de 3,8 para 4,2 litros, o motor recebeu componentes do pacote de performance X51, que incluía cabeçotes de maior fluxo, novo coletor de admissão, corpos de borboleta maiores, injetores de maior vazão e reprogramação eletrônica. Naturalmente, o conjunto mecânico foi instalado “invertido”: no 911, o motor fica atrás do câmbio; no Cayman, à frente dele.
Não duvidamos que chegue (ou até passe) dos 400 cv declarados pela Road Scholars. O novo sistema de escape em inox também garante uma nota extremamente agradável aos ouvidos quando o motor ronca, como Matt Farah, do The Drive, demonstra no vídeo abaixo.
Os caras até poderiam ter enfiado o motor no cofre e deixado tudo por isto mesmo, criando no processo um belo sleeper. Mas esta não era a proposta, lembra? O engine swap foi só o começo: absolutamente todos os painéis da carroceria foram modificados: os para-lamas e as portas foram alargados (em metal, nada de fibra!); a dianteira é a mesma do Porsche 911 GT3 RS; o para-choque foi feito sob medida para encaixar nos para-lamas traseiros, o teto foi alisado e a tampa traseira recebeu a asa traseira de fibra de carbono do Cayman GT4. Os espelhos retrovisores também são de fibra de carbono, enquanto o assoalho e as saias laterais são de alumínio usinado em CNC.
A carroceria widebody repousa sobre rodas feitas sob medida pela Rotiform, de 19 polegadas e calçadas com pneus Nitto Tire (as medidas não foram informadas). Atrás das rodas estão os discos de freio de carbono-cerâmica do GT3 RS, ventilados e mordidos por pinças de seis pistões na dianteira. Mais impressionante ainda é a suspensão, igual à utilizada pelo Porsche 911 GT3 Cup e equipada com amortecedores ajustáveis da Bilstein, além de um sistema hidropneumático que eleva a suspensão dianteira para entrar em garagens e cruzar valetas.
E aí encontramos a razão para a carroceria alargada: ao instalar a suspensão do 911 GT3 Cup, as bitolas dianteira e traseira cresceram entre dois e três centímetros cada. Isto sem falar dos enormes pneus de 325 mm de largura na traseira e 245 mm na dianteira.
Por dentro, o carro também recebeu algumas modificações. O interior de quase dez anos de idade foi modernizado com detalhes em fibra de carbono exposta e revestimento de couro Nappa bege e marrom, as costuras combinando com a carroceria. O volante de base reta foi feito sob medida, e a alavanca do câmbio manual tem o mecanismo exposto para uma dose extra de carporn.
É claro que, do ponto de vista estético, há certos detalhes que faríamos de outra forma (e provavelmente vocês também), mas uma coisa é louvável: se a Porsche não faz um 911 com motor central-traseiro, estes caras fizeram. Quer dizer, não é exatamente um 911, e sim um Cayman modificado com todos os componentes mecânicos importantes do 911. Ficamos bem curiosos para descobrir na prática como ele se comporta.
O Porsche Cayan GTR da Road Scholars será exibido na Monterey Car Week, na Califórnia, que começa a partir da semana que vem, do dia 11 ao dia 20 de agosto.