Olá, pessoal do Flatout! Muito prazer, meu nome é Antonio Estevam, tenho 25 anos e moro em São José dos Campos/SP. Sou engenheiro civil, mas dentro do meu coração sou um tarado maníaco por qualquer coisa relacionado a carros, motores, graxa e assemelhados (que até em certos momentos penso que cursei a engenharia errada, tamanho é meu vício).
E antes de tudo, gostaria de agradecer aos votos recebidos em meu Project Car e aos editores por escolher meu projeto. Já fazia um bom tempo que conto a trajetória do meu carro no fórum do FlatOut, e fico muito feliz e agradecido em ser eleito e poder descrevê-lo detalhadamente aqui no site. Lá contei muito do que já foi feito, mas quero aqui nos posts, aprimorar o nível de detalhamento em cada uma das etapas (sim, terá textos longos, fotos e com um excelente nível de detalhe e farei meu melhor para isso).
O nome Celtanás foi devidamente adotado após a sugestão do Adenilson, na inscrição dos Project Cars. Ele teve outro Project Car escolhido nessa leva, com seu Lada Samara. Curti muito o nome! Obrigado!
Minha História
Bom, há gostos que você nasce com eles, e considero a área automobilística como um deles. Pois meus pais nunca gostaram de carros e nunca tiveram vontade de ter um veículo, então não posso dizer que houve qualquer influência na minha infância ou histórias marcantes de passeio com eles. E demorou muito até que minha família comprasse um (verão logo abaixo).
Até quem eu menos esperava, ao longo do tempo e convivência com minhas dores de cabeça, aprendeu o gosto de reparar/fuçar seu próprio carro (meu pai)
Na minha infância, uma das cenas mais memoráveis foi quando vi pela primeira vez em 1999, um Vectra CD 2.0 16v, na cor prata, estacionado na escola (depois de alguns anos, pelo meu pai, descobri que era de um professor mais abastado e aposentado que lecionava lá). Para uma criança, que não entendia absolutamente nada de carros, ver uma “máquina” diferenciada daquelas foi diferente, que via apenas Gol e Uno estacionados no dia a dia. Não conseguia entender que eram aqueles círculos enormes nas rodas (os discos de freio preenchendo totalmente as rodas aro 15” usadas por ele, que por coincidência, é exatamente o mesmo sistema de freio que utilizo em meu carro hoje).
Não acredito que esse carro, desde a primeira vez que o vi até hoje, prende a minha atenção…
Nessa época, nunca fui muito de curtir filmes referente a carros (sim, fui assistir Velozes e Furiosos e companhia limitada bem depois de lançados), pensar em ler revistas sobre automóveis ou procurar saber algo mais (foi um gosto que veio aparecer bem tarde). Não havia ainda despertado o incentivo necessário para isso.
O incentivo mesmo veio quando meu pai comprou o primeiro carro, com 14 anos (em 2006). Um Corsa Sedan 1999, básico, tão manco que meu pai não suportou ficar 2 meses com ele (sim, isso é sério). Acabei ficando tão fissurado que até rodas para ele havia conseguido com um amigo meu que trabalhava comigo (do Astra Sport, em aro 15”, já trabalhava na época e não foi complicado conseguir comprar). Sim, foi extremamente frustrante isso; mas foi a sementinha que foi plantada.
Não tenho fotos dessa época, infelizmente perdi. Mas é a mesma cor (esquerda) e a mesma roda (direita), até que ficou uma combinação bonita para um leigo na época
Depois desse ocorrido, fiquei literalmente fissurado, queria saber cada vez mais e mais sobre carros/motores e o que desse na cabeça. Li e absorvi muito conteúdo de sites e fóruns existentes na época, nas horas vagas do meu trabalho (lembrem-se, o ano era 2006, não havia todo esse material e conteúdo como temos hoje, e Internet não era tão comum e popular como é agora). E para a minha leitura não tinha uma preferência por modelo ou marca, qualquer coisa que envolvia um veículo eu queria conhecer o projeto e saber.
E segui assim, lendo, estudando e conhecendo, até chegar aos 18 anos onde finalmente poderia conseguir minha habilitação (setembro/2010). Lembro que foi até engraçado, dia 6 era meu aniversário, dia 7 feriado de independência… E dia 8 as 08:00 da manhã já estava plantado na porta do CFC para dar entrada na minha CNH. E meus pais sem entender nada porque estava tão ansioso assim para isso (para eles isso que tenho, até hoje, não é normal).
Pensa na felicidade da pessoa assim que pegou a habilitação…
Nesse meio tempo, meu pai comprou outro carro, um VW Gol Star 1.6 1998. Ficou praticamente sete anos conosco (de maio/2010 até março/2017). Foi o carro no qual aprendi a dirigir e tive as primeiras (e grandes) dores de cabeça mecânica, a descobrir mecânicos safados e picaretas e começar a aprender a fazer tudo com minhas próprias mãos. Não é um carro no qual morri de amores e ter aquela paixonite de nunca querer desapegar dele, mas pude aprender bastante e colocar em prática a teoria que aprendi na minha leitura, sendo uma boa escola.
Foi mantido praticamente original, salvo pequenos upgrades na sua motorização (deslocamento aumentado para 1869 cm³ – diâmetro e curso de 83 x 86,4 mm, comando VW 027.7, coletor de escapamento refeito e outros pormenores) e instalação/melhorias em seus acessórios que não vieram de fábrica.
Espero que seu atual proprietário faça bom uso dele, foi muito bem cuidado enquanto esteve em nossas mãos (minha e do meu pai).
A escolha do meu próprio carro
Em 2012, após conseguir um emprego estável, quis a minha independência. Não estava mais a fim de dividir o carro com meu pai e gostaria de ter um carro que fosse meu (e o carro infelizmente nessa época não tinha ar condicionado, fazia muita falta nos dias quentes/fornalha/visão do inferno que ocorre aqui na cidade).
A princípio, estava na procura de um carro seminovo íntegro, que não demandasse tamanha atenção na parte mecânica e de funilaria com defeitos graves. Não procurava um modelo ou versão específica, e sim algo que atendesse meu bolso (meu teto era de até R$ 30.000,00). Então olhei uma variedade grande de carros (desde Palio 1.8, Corsa C, Astra, Vectra… até drogas mais violentas como Brava/Marea (quem sabe um dia)). Mas infelizmente nenhum acabou me agradando nessa procura, sempre tinha defeitos ou problemas que para mim desabonavam muito, e principalmente, donos e lojas desonestas. Desisti da busca.
Aqui vale um parêntese: na busca de um veículo seminovo, sempre há algo para fazer, algum problema ou defeito que é necessário verificar, não tem jeito. O que me deixou mais puto é a falta de honestidade existente nesse ramo, com os proprietários/revendas querendo esconder os problemas, ou ainda pior, fazer maquiagem para disfarça-los. Poxa, você está lá, é algo delicado a escolha de um veículo, e ainda com o vendedor/dono achando que está fazendo um favor ao deixar você verificar o carro em busca de problemas. Sinto muito, meu dinheiro não dá em árvore.
Diante disso, no fim de 2012, fui pesquisar veículos 0 km. Nessa faixa de valores, não haviam tantas escolhas: teria que ser um veículo “popular”. Nessa escolha havia o Renault Clio, Ford Ka e o Chevrolet Celta. Acabei descartando o Clio, pois sabia que ele havia sido bem capado ao longo dos anos e a reestilização que ele sofreu terminou de matar o carro.
Quase fechei no Ford Ka (estava bem tentado na versão Sport 1.6). Sabia do potencial que ele tinha, ainda mais vindo com o motor 1.6 de fábrica. Mas algumas coisas acabaram matando para mim:
- Ser somente 2 portas (nunca curti, e não ligo para essa questão que parece ser mais “esportivo” assim);
- Extremamente adesivado nessa versão (melhor é a discrição, ser bem sleeper);
- Gosto pessoal, mas o visual dele analisando melhor não desceu pra mim (tanto por fora, quanto por dentro). Não me sentia bem dentro dele e com seu interior;
- Atendimento terrível dos distribuidores Ford, parecia que estava esmolando informações e atendimento na concessionária (e não foi em apenas uma que fui conhecer o veículo). Acho que isso terminou de assinar a sentença.
Quase foi você hein… Quase…
Nisso, sobrou o Celta. Sempre soube que ele é um Corsa B piorado, que foi concebido para ser uma versão de baixo custo e concorrer com o Fiat Uno (mas foi sendo melhorado ao longo dos anos, pelo menos). Mas nisso, você herda inúmeros projetos já feitos para o Corsa B (inclusive da linhagem GSi) tanto aqui no Brasil quanto fora (havia pesquisado exaustivamente em 2006 o que poderia ser feito com ele, quando ainda meu pai possuía o Corsa Sedan). Para motores, havia 1.0 Turbo, swap para 1.4/1.6/1.8 (bloco Família 1) e 2.0/2.2 e o “novíssimo” 2.4 (para a época), sendo esses blocos Família 2, tanto 8 quanto 16v (até V6 baseados nos motores do Vectra/Calibra existem na gringa).
Há diversos setups de suspensão e freios, peças melhores OEM que poderiam ser utilizadas plug and play (veremos adiante que nem sempre isso é 100% verdade)… Ou seja, era o paraíso. E de quebra, o visual dele e leves melhorias que a GM fez na versão “G3” do Celta me agradavam muito.
E bem, no dia 18 de janeiro de 2013, finalmente tinha o meu carro (obrigado pai por me ajudar com seu nome no financiamento!).
Eu também na foto, só uns 15 kg mais magro e mais feio (em 2013)
A versão escolhida foi a LT 2012/2013, na cor preta, com conjunto de opcionais R9L (mais completa que havia na época), com ar condicionado, direção hidráulica e vidros elétricos nas portas dianteiras.
Resumo – Chevrolet Celta
Como sabemos, o Celta foi a resposta da Chevrolet no final dos anos 2000, para concorrer em valor e vendas com o Fiat Uno, e ser o carro mais barato do mercado. Era basicamente um Corsa B Wind, simplificado e otimizado para custar menos. Houve basicamente desde seu lançamento até sua descontinuação em 2015, algumas melhorias ao longo dos anos (demoradas, mas bem-vindas).
Acabamento espartano é comigo mesmo, só faltava ter pneus e volante como opcional também
Desde melhores motorizações (1.4 somente gasolina de 2003 até alguns “G2” em 2007), opcionais (os primeiros modelos nem direção hidráulica ou ar condicionado eram oferecidos sequer como opcionais, para se ter ideia), até a incorporação do ABS e Air-Bag (por obrigação da legislação, infelizmente) e sutil melhora nos acabamentos externos e internos (vindo do finado Prisma) em 2014.
Para mim, os modelos recomendados são as versões de 2012 para frente, as ditas “G3”. Baseando-se no excêntrico Agile (no qual são derivados em plataforma) e na mudança global que a GM teve, houve leves mudanças nos acabamentos externos (faróis escurecidos e novo para-choque dianteiro) e internos (que em minha opinião, melhorou muito, com um painel de instrumentos melhor e mais legível e seletores de ventilação e A/C melhorados).
Mas as melhores mudanças foram principalmente no isolamento acústico (utilização de manta na parede corta fogo e maior quantidade de materiais de isolamento no interior) e eliminação de componentes problemáticos (abafador intermediário foi retirado, resolvendo um problema crônico dele viver pegando nos dejetos viários (lombadas) mesmo na altura original).
Celta “G1” (2000-2006), “G2” (2007-2011) e “G3” (2012-2015)
Desde 2009 até sua descontinuação, vem de fábrica com seu pacato motor Família 1 VHC-E de 999 cm³ (ou N10YFH para os íntimos), tem 78 cavalos furiosos no álcool @ 6400 rpm e 9,7 kgf.m de torque @ 5200 rpm (e injeção eletrônica que passou a ser sequencial nos modelos 2010/2011). E seu câmbio mais curto que coice de porco F17 MHR, que embora deixe ele bem ágil, é muito desconfortável em uso em rodovias (fazer 4400 rpm a 120 km/h não é coisa de Deus, poderia ser usado as mesmas relações de câmbio dos finados Corsa B EFI/MPFI que teriam melhor uso sem perdas no dia a dia).
Por isso ver apenas números isoladamente não se determina nada, veja como o torque vem linear até próximo ao corte (torque/potência neste caso medidos na gasolina) (Fonte: Oficina Brasil)
Mas como será que ficaria esse mesmo carro e seu peso pena de 910 kg em ordem de marcha, com um motor com 36 cv a mais de potência (114 cv @ 5600 rpm) e 8 kgf.m de torque (17,7 kgf.m @ 2800 rpm), que são as especificações OEM do motor X18XF ou N18XFH (código do motor após 2009), bloco Família 1 1.8 (1796 cm³) que vieram nos Corsa/Montana/Meriva 1.8 a partir de 2006. Junte isso com câmbio, freios e suspensão devidamente dimensionadas para sua nova potência. Eis que surge o projeto Celta LT 1.8 (vulgo Celtanás).
Curvas de torque/potência do motor Família 1 1.8 OEM (Fonte: Best Cars Web Site)
Peso favorável e uma razoável distribuição deste, a fonte da diversão para incomodar carros com motores maiores (ou muito maiores)
Idealização do Project Car
Agora, com o carro comprado, fiz o planejamento do que e como poderia ser feito o projeto (não havia pensado nisso 100% antes da compra, de verdade). Acaba sendo meu jeito de ser, não consigo planejar tão a frente a ideia de um projeto sem ter algo palpável em mãos (que nesse caso, é o carro).
Alguns projetos inspiradores foram o do Daniel (proprietário da Home Garage, nunca o conheci, mas aqui vai meu agradecimento), que montou o motor C20XE no Corsa B e o restante do seu carro na própria garagem (me motivou totalmente a fazer o mesmo); o Raphael Montemor (fórum Preparados), que fez seu Corsa C 1.8 Turbo com os freios à disco nas quatro rodas (que encheu meus olhos ao ver isso, e vi que era possível fazer o mesmo, e porque não, ainda melhor) e o Leonardo Perez com seu Project Car #12 e seu Corsa B de pista, inspirando principalmente a não desistir, mesmo quando tudo parece dar errado (e que de vez em quando enchia a paciência dele com perguntas no WhatsApp). Há sim, outros projetos, acabei lendo tantos na minha vida que até perdi a conta, e acaba sendo impossível lembrar de todos agora.
No planejamento, a base era utilizar o máximo possível de peças de “prateleira” GM, evitando grandes adaptações que demandariam maiores custos e tempo (nos próximos posts verão que nem sempre isso é possível, mas se o resultado é compensador, faremos exceções). E principalmente, evitar o principal motivo que causa desânimo e desistência em muitos projetos: carro parado.
Alguns upgrades são totalmente plug and play…
Outros nem tão plug and play assim…
Já instalar esse kit deu um trabalho monstro do cara***, mas deu certo!
Com isso, é importante ter tudo que é necessário na mão com procedimentos e como será feito, prazo estimado… Tentando assim evitar ao máximo imprevistos e aumento de custos. E outro parêntese: Se quer algo barato e bem feito, tem que ser tu mesmo a colocar a mão na massa. Infelizmente entristece muito entrar no site e ver Project Cars prejudicados por mecânicos/funileiros/etc, que não respeitam procedimentos e principalmente, os prazos combinados de conclusão.
A vida como um todo é assim, não somente para nossos amados Project Cars
Sendo assim, porque não desenvolver o conhecimento adquirido e ter prática junto com as melhorias no carro, quer coisa melhor? Ter a sua evolução junto com seu carro.
No próximo capítulo, contarei como começou os primeiros upgrades, o que foi feito e os detalhes da suspensão e freios utilizados. E como até itens planejados, não são isentos de problemas… Até breve!
E… Uma pequena amostra da aceleração, logo após o swap…
Por Antônio Estevam, Project Cars #473