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C’était un rendez-vous: os segredos do curta-metragem que é um dos melhores filmes sobre carros já feitos

A sétima arte já contribuiu bastante para entreter os entusiastas — seja com clássicos como “Bullitt”, blockbusters como a interminável saga “Velozes e Furiosos”, franquias consagradas como “Mad Max” ou lançamentos recentes como “Drive” e “Rush – No Limite da Emoção”. No entanto, milhões de fãs de carros e cinema concordam que um dos maiores filmes automotivos já feitos não é uma super-produção hollywoodiana, mas um curta-metragem feito apenas com um carro, uma câmera e muita sensibilidade: Cétait un rendez-vous, clássico francês de 1976.

É surpreendente o quanto há para falar de um curta-metragem de pouco mais de oito minutos mas, para se ter uma ideia, as críticas são impecáveis. Jeremy Clarkson já disse que é o melhor filme de perseguição do mundo — melhor até mesmo do que o próprio “Bullitt” —, mesmo que não seja uma perseguição.

É um filme minimalista. As ruas de Paris, com seus carros, pessoas e belas construções, são tomadas pelo ronco incontrolável de uma Ferrari 275 GTB por volta das 5:30 da manhã. Dá para ver que o motorista sabe se virar ao volante de um carro rápido. Com um ronco destes a centímetros dos ouvidos, em plena década de 1970 — quando crianças viajavam de pé no “chiqueirinho” dos Fuscas e cintos de segurança eram considerados muito mais uma incômoda sugestão do que um equipamento fundamental para se manter vivo —, daria para entender se o dono da Ferrari quisesse apenas aproveitar o trânsito menos intenso das primeiras horas da manhã para curtir seu esportivo italiano.

Ele dirige na contramão, desvia de veículos vindos no sentido contrário, fura sinais vermelhos e percorre vias de mão única pelo lado errado. Claro, é um perigo, mas também é ficção. Não sejamos moralistas de um jeito feio e falso — a gente não faria isto e nem recomenda que seja feito, mas não vamos deixar de apreciar esta bela obra cinematográfica que, em 2016, completa 40 anos. Apague a luz, arranje um bom par de fones de ouvido e apenas assista.

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“Era um encontro”, é o que significa o título do filme. E era, mesmo. O motorista dirige alucinadamente enquanto vemos monumentos históricos como Arco do Triunfo, o famoso teatro Palais Garnier e a Praça da Concórdia com seu obelisco. Não faltam ocasiões em que uma tragédia parece prestes a acontecer, e a gente começa a se perguntar o motivo de tanta urgência. Era um encontro e, quando já está quase amanhecendo, a Ferrari estaciona em frente a um passeio, com a Basílica do Sagrado Coração de Paris ao fundo. Uma garota loira vem subindo as escadas e o motorista, apressado, vai até ela. Os dois se abraçam. Era um encontro.

Agora, estamos falando de uma obra de ficção. E isto significa que nem tudo é como parece na tela. Primeiro — talvez você já saiba disso, mas não custa relembrar —, o carro não era uma Ferrari 275GTB. Claro, o ronco que se ouve é do V12 de 3,3 litros e quase 300 cv do esportivo italiano, reduzindo marchas (dá até para escutar o punta-tacco às vezes) e acelerando a até mais de 200 km/h em determinados momentos. Mas o carro que percorreu loucamente as ruas de Paris em 1976 era outro: um Mercedes-Benz 450SEL 6.9, bem mais macio que uma Ferrari

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sleeper alemão já apareceu aqui no FlatOut, quando fizemos uma lista com os melhores sedãs esportivos de todos os tempos. Seu motor V8 M100 de 6,9 litros — derivado daquele usado na limusine ultra-luxuosa 600 Grosser — desenvolvia 290 cv e 55,9 mkgf de torque. Aliado a uma caixa automática de três marchas, o V8 era capaz de levar o grande sedã de quase duas toneladas aos 100 km/h em apenas sete segundos, o que é uma bela marca para um carro enorme lançado em 1975. Aliás, isso significa que o Merc havia acabado de ser lançado quando C’etait… foi gravado, e era mais do que habilitado para “interpretar” uma Ferrari na telona. A propósito, a Ferrari que cedeu a “voz” para o filme pertencia ao próprio diretor, Claude Lelouch.

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Assim como Climb Dance, C’était un rendes-vouz faz parte do gênero cinema vérité que, como o nome diz, consiste em documentar a realidade de forma artística e provocadora, fazendo uso de ângulos ousados, trilha sonora envolvente e pouco (ou nenhum) diálogo. No making of abaixo, Lelouch explica um pouco sobre o processo de filmagem do curta e esclarece alguns mistérios.

O vídeo tem legendas em inglês que podem ser traduzidas automaticamente pelo Youtube

Foi o próprio diretor quem dirigiu o carro. Como você deve ter suspeitado, tudo foi feito de forma independente e, para quem não notava a câmera enorme no para-choque do carro (olha só como as GoPro de antigamente eram grandes!), se tratava apenas de um maluco acelerando um Mercedes às 5:30 da manhã no centro de Paris. Dois amigos de Lelouch se posicionaram nos pontos mais críticos do trajeto, para avisar Lelouch pelo rádio caso ele precisasse reduzir a velocidade. Só que os rádios não funcionaram e, em um golpe de sorte, todos saíram inteiros da produção.

E quem é a garota? A atriz Gunilla Friden que, na época, era namorada de Lelouch e recebeu apenas a instrução de esperar na Basílica e aparecer quando ele chegasse. Era mesmo um encontro.

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C’était un rendez-vous atravessou décadas um tanto desconhecido pelo grande público. Isto mudou em 2003, quando o documentarista Richard Symons conseguiu convencer Lelouch a recuperar o filme de 35mm (cuja capacidade de armazenamento foi o que limitou a duração do curta) e remasterizar a obra e permitir que a companhia de Symons, a Spirit Level Films, a distribuísse em DVD.

Pouco depois, a banda escocesa Snow Patrol pediu permissão à Spirit Level para utilizar imagens de C’était un rendez-vous no clipe de “Open Your Eyes”, single do álbum Eyes Open, lançado em maio de 2006.

Foi a primeira vez que Lelouch permitiu que trechos de sua obra fossem usados comercialmente, o que acabou apresentando o famoso curta-metragem a toda uma nova geração. Por sorte, agora vivemos na era da Internet, e todos podem ter acesso a verdadeiras obras de arte automotivas como esta.