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Project Cars Project Cars #433

Chevette País Tropical: a recuperação da pintura e do acabamento interno do Project Cars #433

A terceira parte deste PC do Chevette País Tropical 1976 se concentra basicamente na melhoria estética da parte externa e interna além do que ja foi feito anteriormente como vocês puderam ver nos tópicos anteriores (aqui e aqui).

Para conquistar a placa preta de forma merecida e respeitosa e não dar nenhuma margem para ser considerado “placa-treta” o proprietário precisa ser detalhista e cobrar ao máximo de si mesmo para que mesmo os detalhes mais ínfimos sigam o padrão (obs: A vistoria da placa preta foi feita em um momento intermediário ao restauro por isso nas fotos finais ele ja aparece com as placas pretas, mas eu conto melhor na próxima fase).

Sem um bom caixa isso se torna um desafio mais complexo então da-lhe parcelamento no cartão de crédito. Uma das primeiras coisas que fiz foi trocar as borrachas do para-brisa e vigia traseiro pelas originais com frisos cromados que dão um toque mais sofisticado. Pra minha deliciosa surpresa, não existia nem um podrinho embaixo das borrachas. Nadinha mesmo, nem sinal de ferrugem. Isso pra um Chevette, é praticamente um milagre.

Mas antes de prosseguir com estética vamos aos problemas mecânicos que surgiram depois da revisão geral e restauração da parte mecânica e que me deram muita dor de cabeça. Existe uma máxima que deve ser levada muito a sério por quem tem carro antigo: “Carro parado estraga”. Ou você roda seguidamente ou deixa ele de enfeite para sempre”.

Se você achou que seria fácil colocar um carro atrofiado pra rodar em plena forma novamente, você se enganou feio. E tem outra máxima que levo a sério: “Um carro antigo só é bom mesmo quando ele é bom pra andar”. Ou seja: não adianta ser lindo, ser potente, ser visualmente impecável se na hora de pegar a estrada ele não te da prazer e satisfação ou tem algum probleminha irritante.

Depois de tudo desmontado, revisado e remontado surgiu uma vibração no cardã durante a desaceleração ou seja, quando você pisava no acelerador o carro rodava liso, quando tirava o pé ele começava a trepidar e isso me dava nos nervos de uma forma que não tem nem como explicar. Simplesmente não tinha como entender o porquê, antes da revisão geral ele tinha vários defeitos mas este definitivamente não era um deles.

Meu mecânico quebrou a cabeça, mandou o cardã pra conferir o balanceamento que estava OK, mexeu aqui, mexeu ali e descobriu um rolamento “emperrado”. Foi só engraxar que o problema desapareceu. Outro problema que voltou a incomodar foi a fumaça. Meu mecânico teimou comigo que era anel porque os retentores eram novos, o cabeçote havia sido retificado, válvulas novas mas eu insisti com ele que era retentor, e realmente, somente após a terceira troca de retentores que o carro parou de fazer fumaça.

Os retentores estavam se rompendo e não tinha uma explicação lógica para isso, a única coisa plausível foi a qualidade dos retentores (talvez havia algum lote de peças falsificadas no estoque dele da marca Sabó). Pre terminar o carburador também incomodou mesmo estando revisado, mas é normal, o DFV original do Tubarão não é lá estas coisas e vai um tempo até que ele pegue o acerto ideal. Mas agora tá redondinho ja faz um tempo. Concluindo, tem que rodar com seu antigo com bastante frequencia para que ele se mantenha 100% afinado.

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Esta é a única foto conhecida de um Chevette País Tropical zero-quilômetro. Foi retirada do livro do Chevette

Pra quem ja vem acompanhando este PC #433 desde o início viu que as modificações estéticas iniciais se concentraram nos bancos e no motor e um belo polimento para reativar o brilho perdido há anos. Mas ainda faltava corrigir parte das imperfeições e digo “parte” porque no momento só estou conseguindo fazer por partes mesmo e não por completo como seria o ideal.

Só quem for muito detahista percebeu que na primeira foto de traseira que publiquei o Chevette estava com lanternas de bordas vermelhas. Estas lanternas eram padrão de 1973 a 1975 e passaram a ser usadas somente nos Chevettes Especial e Luxo apartir de 1976. A séries especiais como País Tropical, GP e Super Luxo passaram a vir com lanternas de borda prateada ou cromada.

Por sorte, logo que comprei o Tropical, me encontrei com um amigo que tem um Chevette 74 e estava com as lanternas de bloco prata e queria as minhas de bloco vermelho. Perfeito, corrigimos este detalhe nos dois carros ao mesmo tempo. Esta é umas das coisas mais legais nos carros antigos. A troca de informação, de peças, enfim, a transferência de conhecimento. Eu mesmo nem tinha certeza de quais eram as lanternas corretas deste modelo. Tive a certeza logo que comprei o livro do Chevette. Tem a foto de um zero km de traseira.

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Além das lanternas, outra coisa extremamente perturbadora na traseira deste Chevette Tropical eram as faixas. Elas estavam totalmente fora do padrão de fábrica. Deslocadas, mal feitas além da pintura geral do painel traseiro e um amassadinho abaixo do para-choque. Eu sentia raiva e vergonha toda vez que olhava pra ela e precisava urgentemente resolver este problema. Mas geralmente um problema leva a outro e neste caso seria.

Quem fará este serviço? Conheço muita gente boa no meio mas a maioria pouco disposta a mexer com antigos. Ou querem cobrar um absurdo ou ficam enrolando o cara. Fui até uma restauradora de renome aqui da cidade que pintou o meu Chevette 1973 rosa pantera mas o valor pedido pelo serviço foi muito alto, ele queria fazer tudo de uma vez.

Passei em mais duas outras oficinas de conhecidos meus e ambos ficaram de pegar o serviço menor mas ficaram só me enrolando, eles simplesmente menosprezam os carros antigos ou pelo menos aqueles que não são de proprietários ricos. Depois de uns dois ou três meses no vácuo um amigo meu indicou uma oficina bem conhecida aqui na cidade que eu já conhecia muito bem o dono mas não sabia que eles estavam trabalhando com foco nos carros antigos. Foi a minha salvação.

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Espelho original: encontrei no Olx, bem como um rádio Nissei, mesma marca e modelo original

O pessoal da Renovadora Pessalli (do meu amigo Eder Pessalli) aproveitou este nicho de mercado com forte demanda e pouca aceitação pela concorrência e resolveu atender de uma forma ágil, com preço justo e serviço de acordo com a necessidade do cliente e não aquele papo de “se fizer só isso aqui não fica bom, tem que fazer o carro inteiro”.

Quem decide se o carro tem que ser feito por inteiro ou não é o bolso do dono e não a vontade da oficina. Se no momento eu preciso fazer parte por parte, preciso de alguém que concorde com isso. Claro que o meu desejo é uma restauração profunda mas no momento não está ao meu alcance. Bom, o foco era corrigir o painel traseiro, pintar o porta-malas que estava fosco e corrigir o painel dianteiro que também estava feio.

Outra coisa que eu fiz foi a pintura de toda a parte plástica e vinil interno. O interior monocromático marrom do Chevette sofre muito mais com a ação do tempo do que o interno preto. E pra piorar é muito, mas muito mais difícil conseguir os acabamentos internos marrons. O interno do Tropical estava 100% original porém as peças desbotadas, cada material de uma cor diferente e não era assim que saiu de fábrica. Na época era tudo de uma cor só. Mas o volante é de baquelite, o tabelier de borracha, o painel das portas é vinil, o console central é plástico e cada um reage de forma diferente ao tempo e ao sol.

Definindo a cor do interior. Desmontei tudo, peguei a peça interna em melhor estado, aquela que estava menos desbotada e que menos sofreu ação do tempo e usei como base para fabricação da tinta. É praticamente impossível saber como era exatamente quando novo, até porque foto de época não é confialvel pois elas não apresentem coloração fidedigna. O jeito era fabricar uma cor que combinasse com o conjunto geral e combinasse com a decoração externa (rodas e faixas) e cheguei a um marrom muito legal. Existe fundo especial para pintura em plástico e vinil. Comprei um tabelier preto, o melhor que encontrei porque são raros e caros. Achei uma peça por 500 reais com poucos trincados.

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Pra realizar este serviço de chapeação e pintura dos painéis dianteiro, traseiros, porta-malas e acabamentos internos foi em torno de de R$ 2.000 e finalmente o Chevette estava ficando digno de um modelo raro de colecionador. Outra coisa fundamental neste modelo é claro, são os acessórios. Além das rodas exclusivas iguais as do GP 76 ele também vinha com o espelho esportivo do GP e um radio toca-fitas da marca Nissei.

Achei o espelho no Mercado Livre e o rádio, este foi complicado. Depois de meses procurando achei um sem botões e comprei, procurei um tempo os botões e nada, até que encontrei outro radio completo no OLX e arrematei. Dos dois eu fiz um. Entre os dois rádios mais frete e instalação foi 500 reais. Dolorido, com este valor daria pra colocar um DVD mas como diz o ditado: “Se não for pra brincar, não desce pro play.”

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Outra coisa que fiz pra melhorar a estética das caixas de roda, foi refazer a pintura de preto, mas pra isso, eu mesmo botei a mão na massa. As caixas de roda podiam vir originalmente na cor do carro ou com uma camada de emborrachamento preto que eu particularmente acho muito mais bonito. Como não pretendo usar este carro em estrada de terra, não fiz emborrachamento, apenas pintura. Antes passei pra novamente lavar as “partes baixas” com jato de alta pressão e produtos pra eliminar resíduos de sujeira, graxa e mesmo tinta velha que estava desprendendo.

Após tudo bem lavadinho pra remover o máximo da parte “suja” da história deste velho Chevette País Tropical, foi hora de usar o bom e velho spray preto “semi-brilho” pra deixar tudo mais discreto.

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Agradeço por terem acompanhado até aqui e em breve vocês vão acompanhar o carro já pronto para exposição e mais informações e detalhes sobre esta rara versão e sua história pouco conhecida. Fotos antigas que pessoas me enviaram após me verem com o modelo e outros Tropical de amigos que estão sendo recuperados, um deles inclusive com a minha contribuição.

Por Gutto Morais, Project Cars #433

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