Estamos de volta com mais uma edição do nosso Best of Project Cars, quando relembramos os projetos concluídos do Project Cars do FlatOut. Nesta segunda-feira vamos rever a história da Caravan V8 do Alexandre Garcia — não aquele da TV, o outro, mais conhecido por seus swaps e receitas de V8 em Opalas.
O início
Esta história começa nos idos de 1987, quando o pai de Alexandre comprou uma Caravan quatro-cilindros para transportar as coisas de seu sítio, no interior do Rio de Janeiro. Alexandre se apaixonou pelo carro à primeira vista, mesmo tendo um Dart 1976, e acabou usando a Caravan para carregar as coisas de sua mudança para Sorocaba, onde começaria em um novo emprego.
O problema é que no meio do caminho tinha trânsito parado, e ao volante da Caravan um Alexandre distraído pela mudança de ares que teria pela frente. Resultado: mesmo desviando dos carros, a Caravan acabou machucada. Ao chegar em casa, o dono do carro nem deu bola: seu pai mandou que a vendesse para o ferro-velho. Afinal, ela já tinha cumprido sua missão como “transportadora de tralhas do sítio”. Mas Alexandre, felizmente, achou que a Caravan merecia um futuro mais digno e logo começou a reparar a perua. No dia de sua mudança o carro ficou pronto, e ele foi devolvido do jeito que estava antes. A viagem de mudança foi feita em seu Dodge Dart 76.
Chegando em Sorocaba, Alexandre tratou de encontrar um motor 250, um radiador para o motor de seis cilindros e um diferencial Dana. Você já sabe onde isso vai parar, não é mesmo? Quinze dias depois de chegar em São Paulo, Alexandre foi de ônibus para o Rio de Janeiro, pegou a Caravan e voltou para Sorocaba.
No chão de sua própria garagem Alexandre o quatro pelo seis, algo que “facilitou” muito o trajeto entre as duas cidades. Até aí, contudo, o carro ainda era de seu pai. A mudança definitiva da perua aconteceu somente no Natal de 1988, quando seu pai entregou um envelope de presente, contendo o DUT da perua, assinado e pronto para transferência.
Imagine você, ganhar uma Caravan 4100 1976 em 1988. Eram só 12 anos — e a Caravan ainda estava em produção. Baita presente. Mas sempre que abria o capô, Alexandre não podia deixar de notar que havia espaço para mais cilindros ali dentro. E você mais uma vez já percebeu onde isto vai parar…
A chegada do V8
A ideia de colocar um V8 na Caravan veio em 1989, em 1990 as coisas mudaram radicalmente no Brasil: importações e viagens ao exterior ficaram muito mais fáceis. Alexandre aproveitou para conhecer os EUA e trazer um punhado de peças para o swap. No ano seguinte o 4.100 foi retirado do cofre e trocado por um V8 283, que deu lugar a um 350 em seu Impala. Com a grana do seis-em-linha Alexandre trouxe mais peças para o swap.
Depois do 283 veio um 307 que, mais tarde, Alexandre descobriu estar com o bloco rachado. Nesta mesma época um amigo de Alexandre no Rio de Janeiro estava com um V8 350 sobrando. Era de um Camaro que acabou destruído em um acidente por aquelas bandas. Era o motor perfeito.
Alexandre arrematou o motor, desmontou o 350 do Impala e reconstruiu os dois juntos. Na reconstrução foram usados pistões forjados TRW de cabeça plana, comando mecânico Iskenderian Z25, coletores tubulares Edelbrock dos anos 1960, coletor Edelbrock Torker e um carburador Holley 700 DP. Com essa configuração o motor na Caravan ficou “muito bom, mesmo”, segundo as palavras do próprio Alexandre.
O carro era usado regularmente, todos os bugs e probleminhas que geralmente aparecem em swaps estavam corrigidos quando, do nada, a porca borboleta que fechava a caixa do filtro de ar se soltou e o filtro ficou batendo no prisioneiro do carburador, que se soltou e caiu dentro do motor. Mais uma vez, você já sabe o que aconteceu…
Um dos cilindros foi para o espaço. Por sorte o reparo foi fácil: uma camisa de Opala quatro-cilindros, um pistão avulso e pronto. Back in the game. Na remontagem o V8 ganhou uma bomba de óleo de maior volume que funciona até hoje.
Os últimos acertos
A Caravan V8 passou dez anos com esse setup, ainda mantendo o câmbio original. A nova fase do carro começou em 2000, quando Alexandre mudou para Brasília/DF. No caminhão foi um diferencial Dana 44 de Maverick, um blocante de Ford F-1000, uma carcaça de eixo Braseixos com um diferencial quebrado de Opala, uma luva deslizante de Camaro 68 e um cardã completo de Maverick V8.
Com o conjunto Alexandre montou o novo eixo traseiro, com bloqueio do diferencial, tornando o carro mais dócil, seguro e robusto. O câmbio continuou o mesmo do Opala seis-cilindros original, que era leve e suportava numa boa o torque do V8 preparado.
A troca de cor e a conclusão do projeto
Alexandre nunca gostou muito da cor original da perua, verde ouro metálico. Ela queimava com facilidade e era difícil de retocar. Por isso, um dia Alexandre decidiu mudar pra valer e pintou o carro de super verde. Uma pintura sólida e mais fácil de trabalhar. Depois da pintura veio um jogo de rodas palito de 14 polegadas com tala 6 na dianteira e 14×7 na traseira.
Com o carro “pronto” (Project Cars nunca ficam prontos…) Alexandre até arriscou algumas puxadas na drag strip, como mostra esta foto do Dragster Brasil. A Caravan correu na categoria desafio e deu trabalho para a molecada que achou que seria fácil bater o velho barbudo com a Caravan velha, como disse o próprio Alexandre.
Atualmente carro está praticamente pronto. Tudo funciona como deve, o visual está como Alexandre gostaria e, afinal, é uma Caravan V8. Mas ainda há algo a fazer em um futuro próximo: Alexandre quer substituir os cabeçotes originais por novos de alumínio, que já estão comprados e guardados. Também há planos para trocar a bomba d’água original por uma nova de alumínio e o comando de válvulas old school da Iskenderian por algo mais moderno e amigável. Mas enquanto isso não acontece, a Caravan V8 segue acelerando por aí como vem sendo desde aquele distante 1987.
Não deixe de reler o projeto em detalhes
Parte 1 – A história da Caravan