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Car Culture

Clássicos na Itália: um passeio fotográfico pelo Automotoretrò de Turim

O Automotoretrò é um evento anual de carros clássicos e colecionadores realizado em Turim há 34 anos. Recentemente ele começou a ser realizado na antiga fábrica da Fiat em Lingotto, aquela que tinha uma pista de testes no telhado. Nosso leitor Giorgio Pasquali esteve no evento neste último fim de semana e conta como foi. 

Torino é mundialmente conhecida por sediar a famosa Fabbrica Italiana Automobili Torino ou simplismente FIAT. Sendo um pouco mais específico, Lingotto. Prédio inaugurado em 1923 para ser a casa da marca italiana, atualmente é um centro comercial, mas teve preservada toda sua arquitetura e, claro, o famoso oval de testes no topo do quinto andar (clique no link para ler a história).

Foi neste templo da indústria automobilística que aconteceu o 33° Automotoretrò Salão Internacional, entre os dias 13 e 15 de fevereiro de 2015.

Tive acesso exclusivo à pista. Normalmente, ela não é aberta ao público, quem dirá um pobre mortal como eu. E aqui vou contar o segredo do Santo Graal! Depois de perder uns 40 minutos entre escadas, elevador e tentando pedir informações em inglês, português e um italiano arranhado, não obtive sucesso. Já estava saindo do prédio sem ver o oval, completamente desolado e me conformando com a derrota quando encontrei um hotel dentro do centro comercial. Nesse momento pensei: minha última chance, a última nitrada!

A simpática moça do hotel falava inglês, então perguntei como faria para acessar o último andar, ao que ela prontamente respondeu. Precisei de duas tentativas, pois não há informação alguma de como chegar lá, claro, é uma área restrita. Então ela esticou o braço e disse “Você vai precisar da chave! E, por favor, tranque ao sair”. Meus olhos brilharam como estrelas no céu, e lá fui eu!

Automotoretrò 2015

Curva em Lingotto

Bem, foi relativamente fácil chegar até o evento. Saindo de Bergamo ainda no sábado, peguei um trem até Milão que custou €4,80 e levou aproximadamente uma hora, depois outro até Turim, mais duas horas de viagem a um preço de €12,75. Logo em frente à estação, peguei o metrô a €1,50 e ele para bem em frente ao centro comercial. O valor da entrada para a expo custou €10,00 e um detalhe importante para quem não domina a língua italiana, como eu: poucos italianos falam inglês e não são muito receptivos, nem muito dispostos a ajudar caso você esteja perdido. Nas cidades turísticas isso muda um pouco, mas só um pouco.

Deixando o temperamento italiano de lado, eu não fazia ideia do que estava por vir. A quantidade de carros, de pessoas, de miniaturas e de peças era surpreendente! Foi então que a ficha caiu: eu estava na casa do automobilismo italiano.

Segundo o jornal local, o evento recebeu cerca de 60.000 pessoas e um total de aproximadamente 1.200 veículos distribuídos em cinco pavilhões e mais uma pista ao lado externo onde havia demonstração com kart e alguns carros de rally. Infelizmente eu tinha somente um dia para olhar tudo.

Logo de cara fui surpreendido por um Citroen “Sistema Maserati” de 1972. O modelo foi projetado e desenvolvido depois que a Citroën comprou a Maserati, em 1968. A ideia era fazer um grã-turismo matador, com a suspensão da Citroën e o motor V6 da Maserati. O modelo da foto é um cabriolet, mas não é original — o SM foi feito apenas como cupê, mas houve várias adaptações e conversões para sedã, cabriolet e até perua.

Automotoretrò 2015

Citroen SM 1972

Podemos usar como referência um encontro como o Sul-Brasileiro de Veículos Antigos, ou o tradicional encontro de Águas de Lindoia (que agora é em Campos do Jordão), mas de proporções um pouco maiores. Entrando logo no primeiro pavilhão, confesso que fiquei apavorado ao ver os carros sem isolamento algum e todas aquelas pessoas circulando ao entorno de tudo e de todos.

Crianças, adultos, jovens e cachorros por todos os cantos. Sim, na Itália os peludos são aceitos em praticamente todos estabelecimentos! Mas ninguém parecia se importar muito com as obras de arte de Pininfarina, Bertone ou Giugiaro. Foi então que compreendi um pouco daquela febre frenética das torcidas e dos pilotos italianos de rali e Fórmula 1 dos anos 1980 e 1990.

Automotoretrò 2015 Automotoretrò 2015 Automotoretrò 2015

Outro ponto que chamou bastante a atenção foi a quantidade de lojistas vendendo miniaturas, brinquedos antigos, plastimodelismo, artigos militares, cédulas, moedas, memorabilia em geral. Eles dão muito valor a estas coisas e, é claro, eu não consegui sair de mãos vazias. Havia ainda alguns artistas com quadros incríveis, muito bons mesmo e o valor das obras não destoava da qualidade do trabalho. Infelizmente não era possível fotografar.

Automotoretrò 2015

Em seguida topei com o Renault 12 Gordini, a versão “original” do nosso Corcel I. A Willys produzia o Renault Dauphine sob licença no Brasil e planejava um substituto baseado no sucessor do Dauphine na França quando a Ford entrou em cena e comprou a marca. Mas em vez de lançar o Escort Mk1 no Brasil, eles optaram por adaptar o estilo do Ford à plataforma francesa. O resultado foi o Corcel I e II e depois o Del Rey, Belina e Pampa.

O Renault 12 Gordini é a versão esportiva do modelo, com motor 1.6 com bloco de alumínio e dois carburadores Weber duplos que produziam 125 cv. O câmbio era de cinco marchas e ele tinha freios a disco nas quatro rodas, além da suspensão mais esportiva. Chegava a 185 km/h. Nada mal para um “Corcel 71”, não?

Automotoretrò 2015 Automotoretrò 2015

Deste outro eu nunca havia escutado falar: Marcos, uma fabricante de carros esportivos britânica fundada em 1959 cujo nome é a junção de seus dois fundadores Jem Marsh e Frank Costin. E vejam só que curiosidade bacana: Frank é irmão de Mike Costin, que também usou o “Cos” de seu nome para batizar sua empresa de motores e componentes com Keith Duckworth. Acho que vocês já sacaram de quem estou falando, não é?

Automotoretrò 2015 Automotoretrò 2015

Por ali também estavam um Fiat 131 Abarth em sua versão de rua, necessária para homologar o modelo de rali, um Lancia Fulvia HF, campeão do International Rally Championship de 1972 — o precursor do WRC —, um Fiat Sport 850 e um belo Lancia Fulvia Zagato em fase de restauração:

Automotoretrò 2015

Fiat Abarth 131

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Lancia Fulvia HF 1972

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Fiat Sport 850

Automotoretrò 2015

Lancia Fluvia Sport 1.3 S Zagato 

À medida que fui andando pelos corredores, imaginava como teria sido aquele lugar há 70 ou 80 anos. Os operários da Fiat chegando para trabalhar em uma manhã do gelado inverno italiano, montando um Balilla ou um Topolino, os testes, projetos e toda a questão da evolução tecnológica até chegar em uma nova forma. Será que eles imaginavam que todo seu trabalho ainda permaneceria vivo tantos anos depois?

Automotoretrò 2015

Maserati 3500 GT Superleggera

 

Lancia na Fórmula 1

Automotoretrò 2015

A cada corredor uma surpresa e eu estava sendo surpreendido a todo o tempo. Esta Lancia tem motor V8 de 90° 260cv e atinge velocidade máxima de 300km\h.

Desenhado por Vittorio Jano, este carro faz sua estreia no GP da Espanha, com Ascari que ficou com o melhor tempo da prova, mas acabou abandonando a prova por um problema mecânico. Em 1955 Alberto Ascari vence o GP de Valentino a Torino, o GP de Napoli e finalmente no GP de Montecarlo, a poucas voltas do final, saiu da pista e caiu dentro do mar, sem consequências muito graves.

Automotoretrò 2015

Em 26 de julho de 1955, Gianni Lancia não tendo mais condições, doou todo seu material à Ferrari, campeã do mundial de 1956 com o piloto Juan Manuel Fangio. Quer escutá-la?

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Lancia Stratos, dispensa apresentações. Simplesmente um dos carros mais incríveis de todos os tempos e o primeiro rei do WRC, conquistando três títulos seguidos entre 1974 e 1976. O FlatOut contou a história dele neste post, lembram?

Haviam estandes de diversas fábricas como Mercedes, Fiat e Jaguar, mas o da Lancia me agradou bastante com esse modelo Aurelia de 1955 modelo B56 S “Florida”. São fantásticas as linhas idealizadas por Pininfarina e seu motor V6 atingia 150km\h. Perfeita!

Automotoretrò 2015 Automotoretrò 2015

Eu confesso que sempre gostei mais de carros, mas após restaurar minha primeira moto, uma BSA 1952 Star Twin em 2013, despertou-me muita curiosidade a respeito da história por trás das marcas e um prazer em poder andar nela. Para quem gosta de motos, aqui temos uma GCarrù, uma Salvai e uma Pugliese.

Automotoretrò 2015

Automotoretrò 2015

Moto Romero

Automotoretrò 2015

Baudo, 1915

Após muita procura, consegui encontrar alguém que falava inglês no clube da Lancia Delt1one. Eles me receberam muito bem e do melhor jeito italiano, me servindo um simples, porém muito bom almoço, massa e vinho! Foi um encontro que rendeu uma ótima amizade.

Automotoretrò 2015 Automotoretrò 2015

Continuando o passeio, topei com o Fiat 131 Abarth pilotado por Markku Alén no WRC em 1978. Naquele ano ele venceu três corridas (duas com o Fiat e uma com o Lancia Stratos), obteve outros dois segundos lugares e dois terceiros, e assim faturou o título de pilotos.

Automotoretrò 2015

Automotoretrò 2015

Fiat 500 Abarth clássico: 500 cm³ e 26 cv. Pesa tanto quanto uma xícara de espresso macchiato pela metade. 

Studebaker Avanti 1963, mais um carro que nunca havia visto pessoalmente. Usava carroceria de fibra de vidro e um V8 Studebaker Hawk de 4,7 litros e 240 cv. Este aqui foi equipado com o compressor Paxton oferecido como opcional na época. Durou só dois anos e fizeram menos de 6.000 unidades. Há quem diga que ele foi o precursor do design do Brasinca Uirapuru e do Jensen Interceptor. 

Automotoretrò 2015

 

As estrelas de cinema

Quem aí não se lembra dessas máquinas? Abaixo o Knight Industries Three Thousand, também conhecido como “K.I.T.T.”, ou “A Super Máquina”, no Brasil. Na verdade, trata-se de um Pontiac Trans Am 1982 bastante modificado com sintetizador de voz, luzes e outros adereços que encenavam as funções futuristas do carro na tela da TV.

Automotoretrò 2015

Automotoretrò 2015

A face psicopata do Plymouth Fury 1957 do filme “Christine, o Carro Assassino” (Christine – 1983). A história escrita pelo mestre do terror, Stephen King, foi inspirada no caso real de um Dodge 330 que matou 14 pessoas nos EUA nos anos 1960.

Automotoretrò 2015

E aqui temos a cabine da máquina do tempo do Dr. Brown, um DeLorean DMC-12 1981 equipado com um capacitor de fluxo e movido a energia nuclear para viajar pelo contínuo espaço e tempo.

Automotoretrò 2015

E por último, mas não menos importante, o Dodge Charger construído por Dominic Toretto e seu pai. Segundo a história de Velozes e Furiosos (The Fast and The Furious – 2001) ele tem mais de 900 cv, e um Hemi sobrealimentado por compressor mecânico, mas no mundo real os modelos funcionais têm menos potência e usam o Hemi 396, precursor do 446 ou o 440 (7,2 litros). O compressor é cenográfico e movido por um motor elétrico.

Automotoretrò 2015

Bem, este foi um resumo da minha “corrida” por este grande evento. Foi o que consegui registrar em um dia da Automotoretrò 2015 de Turim para compartilhar com vocês. Espero voltar em breve com mais histórias automotivas do Velho Mundo.

Abraços!