Todo mundo meio que concorda que quem inventou o hot hatch foram os alemães quando, em 1976, a Volkswagen apresentou o Golf GTI, com seu motor 1.6 de 110 cv, menos de 800 kg na balança e dinâmica caprichada. Desde então, muita coisa mudou, e hoje em dia a potência tem um papel mais importante não apenas no desempenho de um hot hatch, mas também em sua reputação.
Claro, existem algumas gemas escondidas — o Renault Sandero RS, por exemplo: fora de contexto, 150 cv não são exatamente de fazer cair o queixo. Contudo, ao lembrar que são 150 cv vindos de um motor 2.0 aspirado em um hatchback de baixo custo fabricado no Brasil e desenvolvido com a ajuda da divisão RenaultSport francesa — sim, o Sandero RS merece a sigla —, a coisa toma outra proporção. Ainda mais agora, quando os motores pequenos, turbinados vêm tornando-se rapidamente a norma.
A gente gosta do Sandero RS, isso não é nenhuma novidade. Se os hot hatches nasceram na Alemanha, hoje em dia há outra nação que manda muito bem com eles: a França. E os franceses da Renault Sport, ao que tudo indica, acabaram de se superar: nesta semana, foi apresentado oficialmente o conceito Clio R.S. 16, que tem tudo para ser o Renault mais rápido de todos os tempos, entre todos os modelos da marca — incluindo nessa o Clio V6. Que, na real, nem era tão rápido assim.
Sua configuração de motor central-traseiro era muito bacana na teoria, mas na prática tornava o Clio V6, que em sua versão mais potente tinha um motor V6 de três litros e 255 cv, praticamente incontrolável. Além disso, com 1.400 kg, ele não era um carro leve.
O Renault Clio R.S. 16 tem 275 cv, vindos daquele que é exatamente o 2.0 turbo do Mégane R.S. Trophy 275, que até 2014 era o recordista de tração dianteira no Nürburgring Nordschleife, com um tempo de 7:54.
A ideia era comemorar o 40º aniversário da RenaultSport com um conceito especial, mas a coisa meio que saiu do controle e a divisão esportiva decidiu que faria algo realmente insano. E colocar o motor do Mégane R.S. da geração passada na atual geração do Clio foi mais complicado do que pode soar.
Os caras até pensaram em colocar o motor atrás dos bancos dianteiros, mas isto seria ainda mais complicado e tornaria o carro pesado demais. De acordo com Patrice Ratti, chefe da RenaultSport, fazer com que o motor do Mégane e o Clio conversassem e se entendessem já foi difícil o bastante por causa de toda a eletrônica. Além disso, seria mais extravagância do que qualquer outra coisa — o próprio Mégane RS prova que, bem acertada, a tração dianteira já dá conta do recado.
O 2.0 turbo de 275 cv e 36,7 mkgf de torque é capaz de levar o Mégane até os 100 km/h em 5,8 segundos, com máxima de 255 km/h (limitada eletronicamente). Os números de desempenho do Clio com este motor ainda não foram divulgados, mas não é preciso ser um engenheiro para saber que menos peso (o Mégane pesa 1.280 kg) significa mais agilidade.
O motor mais potente exigiu, naturalmente, que o carro todo fosse retrabalhado. A suspensão agora usa uma mistura de componentes do Mégane e do Clio RS da geração passada. Na traseira, a coisa é ainda mais radical: os caras simplesmente pegaram o arranjo do Clio R3T que compete nos ralis europeus e colocaram no R.S. 16. Oom bitolas mais largas, o carro teve a carroceria alargada e ficou com um stance matador. Além disso, recebeu novos componentes aerodinâmicos de fibra de carbono que lhe deram uma cara para lá de agressiva.
O visual segue o padrão dos modelos RenaultSport, com o toque bacana dos faróis auxiliares com o formato do emblema da divisão. O conceito feito para exibição tem pintura amarela tri-coat e alguns decalques dourados que são bem chamativos, mas outros protótipos são pretos e ficaram com uma cara bem malvada. A gente curtiu.
Falando em protótipos: a RenaultSport até andou fazendo crash tests com o Clio R.S. 16 — e mais: alguns carros tinham volante à mão inglesa. Como aponta o Top Gear, não se faz este tipo de coisa quando não se pretende colocar um carro nas ruas. Ratti já confirmou que esta era a ideia desde o início, e que agora a decisão depende dos custos. Se for considerada comercialmente viável, o Renault Clio R.S. 16 deverá ser produzido em um série limitada de 200 a 300 unidades.
Se isto acontecer mesmo, certamente veremos uma briga feia no Nürburgring Nordschleife. A RenaultSport pode ter a chance de recuperar o trono usurpado pelo Volkswagen Golf GTI Clubsport S, que no início do mês passado virou 7:49 no Inferno Verde.
O vídeo abaixo mostra um pouco mais do desenvolvimento do Renault Clio R.S. 16. Infelizmente, vê-lo nas ruas é um sonho distante para nós, brasileiros. Diferentemente do Mégane R.S., que já nos foi prometido mas até agora não deu as caras, o Clio R.S. ainda nem se tornou realidade e, se o fizer, será especial demais para vir para cá — ainda mais porque nossos Renault são mais romenos e coreanos do que propriamente franceses. Uma pena.
O vídeo tem legendas em português, mas talvez você precise selecioná-las no player