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Cobra vs. Cobra: o embate entre dois clássicos americanos no Goodwood Members Meeting

Você deve se lembrar de que, há alguns dias, postamos aqui uma batalha épica entre um Mini Cooper e um Alfa Romeo GTA, que aconteceu na edição passada Goodwood Members Meeting. Acontece que aquela não foi a única: no mesmo evento, duas espécies diferentes de Shelby Cobra se enfrentam ao cair da noite e, bem… não queremos soar repetitivos, mas é difícil usar uma palavra que não seja “épico”.

Você provavelmente conhece o Shelby Cobra Daytona — nós mesmos falamos já falamos bastante dele aqui no site. Sabe quando contamos a história do Ford GT40, e de como ele juntou americanos e britânicos para construir um carro de corrida e derrotar a Ferrari nas 24 Horas de Le Mans. Pois bem: o Cobra Daytona foi desenvolvido praticamente ao mesmo tempo, pouco depois da criação do Shelby Cobra, quando Carroll Shelby colocou um V8 americano no roadster britânico AC Ace, em 1961. Pense nele como um “projeto paralelo” de Carroll Shelby, que estava envolvido no programa do GT40, mas conhecia o potencial do Shelby Cobra em corridas de endurance e pensou em, quem sabe, derrotar os italianos usando sua própria criação.

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O problema é que o Cobra era um roadster muito bom de curva, mas sua aerodinâmica não era muito favorável em retas. Isso era um problema por causa da longa reta Mulsanne do circuito de La Sarthe. Nela, as Ferrari chegavam a beliscar os 300 km/h, enquanto os Cobra apenas passavam dos 250 km/h — mesmo que o Cobra fosse melhor em curvas, a menor velocidade nas retas gerava uma desvantagem de 10 segundos que era impossível de superar.

Shelby, então, encomendou ao designer Pete Brock uma nova carroceria. Brock desenhou um cupê de linhas fluidas, que se afunilavam em direção a traseira até chegar a um corte abrupto — a chamada traseira Kamm, cujo formato reduziu drasticamente o arrasto aerodinâmico do carro. Resultado: o Daytona Coupe, testado em vias públicas britânicas, chegou aos 297 km/h. Era o bastante para desafiar a Ferrari com reais chances de vencer.

Acontece que o Ford GT40, no qual Shelby também tinha participação (em determinado momento o GT40 usou o mesmo V8 de 4,7 litros do Cobra), foi o foco de Henry Ford, que bancou o projeto e abocanhou todo o pessoal da empresa texana para trabalhar nele. Sendo assim, o Cobra Daytona Coupe tornou-se um plano B e, depois de 1965, saiu de cena.

Sendo assim, fizeram apenas seis deles. Ou seja: o Shelby Daytona Coupe que aparece neste vídeo é uma réplica. O que não significa que seja menos animal. Foi um carro criado pela oficina britânica DK Engineering e de acordo com o dono e piloto, James Cottingham, “é uma cópia 99% perfeita do original, feita nas especificações originais e obedecendo o regulamento da FIA na época”. As especificações do carro não foram divulgadas mas, se o motor for parecido com aquele utilizado no Cobra Daytona Coupe, estamos falando de um V8 small block de mais de 300 cv, certamente.

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O outro carro é um Cobra mais comum, mas nem por isto menos interessante. Trata-se de um dos três Cobra construídos em 1963 para disputar corridas de longa duração, tendo estreado nos 1000 Km de Nürburgring Nordschleife em 1964. O motor é um V8 de 4,7 litros e cerca de 360 cv, o que proporcionou uma disputa bastante equilibrada e muito emocionante entre os dois Cobra. Está pronto para apertar o play e se deliciar com o ronco dos dois clássicos?

Trata-se da briga pela liderança no 73º Goodwood Members Meeting. O piloto do Daytona Coupe consegue defender sua posição na maioria do tempo, e os dois não param de brigar nem mesmo quando passam por alguns retardatários. Novamente, o que vemos é uma demonstração de gentleman driving — os pilotos são agressivos na medida certa, tentando aproveitar cada oportunidade de ultrapassagem, porém sem jogadas “sujas” ou desrespeito ao espírito esportivo.

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Em determinado momento, a insistência de Shaun Lynn, o dono e piloto do Shelby Cobra vermelho, consegue ultrapassar o Daytona Coupe por dentro de uma curva à direita. A verdade é que os dois pilotos fazem a corrida parecer um balé, tamanha a suavidade das manobras.

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No entanto, isto não é fácil: além de leves (ambos pesam pouco mais de 900 kg, graças ao interior aliviado e ao uso de painéis de alumínio), os carros usam pneus diagonais fabricados hoje em dia, porém iguais aos que utilizavam na década de 1960. Eles são estreitos e bastante comunicativos, transmitindo muito bem a situação do piso para o piloto, mas não têm muita aderência — o que explica as rabeadas que os carros dão a cada saída de curva.

É o tipo de vídeo que nos deixa com muita sede por mais, e outra bela amostra de que sim, carros de corrida clássicos devem é continuar na ativa depois da aposentadoria.