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Como a cerveja favorita de Dom Toretto ajudou a salvar uma cidade inteira da miséria

Dom Toretto já declarou mais de uma vez que sua cerveja favorita é a Corona Extra, uma lager fabricada no México desde 1922. Curiosamente, esta preferência de Toretto, de certa forma, ajudou uma tornar pequena cidade na Espanha a escapar da miséria. O responsável por isso (colocar a cerveja nas mãos de Toretto e salvar a cidade) foi um cara chamado Antonino Fernández. A história parece meio louca, mas faz sentido. Vá vendo.

Antonino Fernández nasceu em 1917, em um povoado espanhol chamado Cerezales del Condado. Ele era o 11º de 13 filhos de uma família humilde, como todos no povoado. Aos 14 anos ele precisou abandonar os estudos pois seus pais não tinham condições de mantê-lo na escola. Em 1939, após o fim da Guerra Civil Espanhola ele se mudou para Leon, no norte da Espanha, onde conheceu sua futura esposa.

Dez anos mais tarde, um tio de sua esposa que vivia no México — e por acaso era o fundador do Grupo Modelo, que produzia cervejas e outras bebidas — convidou o casal para se mudar para a América. Lá, Fernández começou a trabalhar nos estoques da fábrica e foi passando por todos os escalões da hierarquia da empresa até chegar ao posto de CEO em 1971. Sob sua liderança, o Grupo Modelo transformou a Corona na cerveja mais popular do México e começou a tornar a marca popular também fora do país, incluindo os EUA.

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Fernández ocupou a presidência do Grupo Modelo até 1997 e presidente do conselho administrativo até 2005. Após encerrar suas atividades à frente do grupo ele continuou sendo membro honorário do conselho até agosto deste ano, quando morreu aos 98 anos. Em seus quase 35 anos à frente do grupo, Fernández acumulou uma fortuna estimada em US$ 300 milhões, mas não esqueceu de suas origens e do que passou quando jovem.

Ao morrer ele deixou parte de sua fortuna para seus sobrinhos, que continuaram naquele pequeno vilarejo ensolarado na Espanha. Por ser um povoado de 80 habitantes e boa parte deles serem seus herdeiros, em algum momento a imprensa britânica (os pais do sensacionalismo) entendeu que ele deixou milionários todos os habitantes da localidade, mas não foi bem assim — somente seus sobrinhos receberam a grana.

Além dessa confusão da imprensa britânica, também descobrimos que ao longo de sua vida de milionário (especialmente no período em que esteve no comando do Grupo Modelo), ele nunca esqueceu da cidadezinha de onde veio.

Em suas férias de verão, Fernández sempre visitava a cidade, e bancou a reforma da igreja, além de construir o sistema de abastecimento de água potável local e um centro cultural que passou a atrair turistas e a trazer dinheiro para a cidade. Maximino Sanchez, o proprietário do único bar de Cerezales del Condado, disse ao jornal regional “Diario de León” que não sabe o que seria da cidade sem Antonino: “Nós não tínhamos dinheiro algum”, afirmou.

A relação de Dom Toretto com a salvação da cidade, contudo, é muito mais direta do que parece. Em sua missão de tornar a cerveja Corona Extra a marca mais popular do México e uma das mais populares do mundo, Antonino Fernández se envolveu diretamente com a cultura automotiva, ajudando a bancar um dos filmes mais importantes para os entusiastas dos últimos 30 anos.

Isso aconteceu no distante ano de 2000, quando Fernández aprovou a estratégia de “product placement” nos filmes “Velozes e Furiosos”.

Product placement é a inclusão de produtos ou marcas em filmes, programas de TV, livros, séries, ou qualquer outro conteúdo de entretenimento. Já notou que a maioria dos notebooks em filmes e séries têm a famosa maçã iluminada da Apple? Ou que as novelas da Rede Globo começaram a usar carros da Kia de 2008 em diante? Ou que Marty McFly é um dos raros adolescentes que preferem Pepsi sem açúcar a Coca-Cola? É exatamente isso. Seus pais provavelmente chamavam isso de merchandising, embora esse não seja o termo mais exato.

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Embora seja uma prática comum, o caso da colocação da marca Corona em “Velozes e Furiosos” é certamente um dos mais bem-sucedidos da história e também um dos mais notáveis dos últimos 20 anos.

A cerveja aparece pela primeira vez pouco depois dos 30 minutos do primeiro filme, durante a festa na casa dos Toretto. Nas primeiras cenas a cerveja aparece apenas nas mãos dos convidados, mas quando Dom entra furioso com seus amigos é que a garrafa de Corona se torna coadjuvante na cena.

Dom se dirige a Vince, que está despreocupadamente fazendo uns licks (visivelmente dublados) em uma Gibson Les Paul Custom Zakk Wylde Signature, pergunta se a cerveja ao lado é dele, pega a garrafa e a leva para Brian dizendo: “Pode tomar qualquer cerveja… desde que seja uma Corona”. A frase é um trocadilho com a célebre citação atribuída a Henry Ford sobre a cor preta do Modelo T, mas também é uma colocação de produto planejada pela marca em parceria com os produtores do filme.

Aos 45 minutos do filme, Brian é convidado para almoçar com a “família” de Toretto e adivinhem só o que eles tomam no almoço? Não é chá, não é café, não é Coca-Cola e muito menos chocolate. A bebida que acompanha as refeições é a boa e velha Corona Extra hecha en Mexico.

Em “+Velozes +Furiosos” e “Tokyo Drift” a cerveja não apareceu nem mesmo em propagandas nas ruas. Faz sentido: a marca é a preferida de Dom Toretto, que não protagoniza nenhum dos dois filmes.

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A Corona volta a aparecer em “Velozes e Furiosos 4”, mas não na balada automotiva do começo do filme, e sim quando Mia é levada para suturar um ferimento de Dom. Dali em diante — e nos filmes seguintes — sempre que Dom Toretto é o dono da festa ou da casa, a cerveja é Corona Extra. A exceção é o Brasil, onde Dom topou tomar umas Brahmas — provavelmente compradas por Han Lue.

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No sétimo filme a marca volta a ser coadjuvante em uma das cenas, quando Mr. Nobody oferece um pouco de sua ale e Dom recusa dizendo que “prefere Corona”. Por sorte, o Mr. Nobody tinha um balde cheio de Coronas geladas prontinhas para entrar em cena.

A Corona não é a única marca a usar a tática comercial de product placement na série. Na verdade, a franquia “Velozes e Furiosos” engrossou ainda mais sua receita milionária com esse tipo de ação. Lembra das TVs Panasonic nos caminhões roubados do primeiro filme? Ou dos tênis Vans de Brian? Ou das camisetas Under Armour de Luke Hobbs? Todas estas marcas estão lá para serem notadas e associadas pelos fãs.

Depois de aparecer em “Velozes e Furiosos”, a Corona se tornou, em 2015, a quinta cerveja mais vendida dos EUA e a cerveja importada mais vendida naquele país, com 49% do mercado. Claro, a ação na franquia de Hollywood não foi a única responsável por isso, mas teve um papel fundamental para popularizar a marca entre os jovens americanos. Segundo uma pesquisa de mercado bancada pela Corona em 2015, ela se tornou a cerveja mais consumida pelos jovens de 21 a 35 anos de todas as regiões do país (não apenas do sul, onde há forte influência da cultura mexicana e do clima mais quente).

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Faça as contas: quem tem 35 anos hoje, estava chegando à maioridade na época em que o primeiro “Velozes e Furiosos” foi lançado. Será apenas uma coincidência?