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Car Culture Técnica

Como funciona a nova suspensão “tapete voador” da Citroën?

Em julho de 2015, a Citroën anunciou que sua tradicional suspensão hidropneumática será descontinuada em breve. O sistema, que utiliza esferas de borracha e um fluido hidráulico que é bombeado para dentro delas de acordo com as necessidades de absorção de impacto, está presente apenas no C5. Assim, quando sair de linha, o sedã deverá levar consigo esse tradicional sistema da Citroën.

Mas a marca francesa, que tem sua imagem fortemente associada ao conforto justamente por causa desta tecnologia (que estreou na década de 1950 com o Citroën DS), já está preparando algo novo para garantir que seus carros continuem extremamente confortáveis.

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O novo sistema de suspensão ainda não tem nome comercial, mas faz parte do conceito Advanced Comfort Lab, feito sobre um C4 Cactus. Para quem não sabe, o Cactus é um crossover compacto feito sobre a plataforma do C3 e do DS3 que, por enquanto, é vendido apenas na Europa. Seu maior chamariz é o visual exótico, com proporções de hatchback, quatro faróis na dianteira e os Airbumps nas laterais — painéis de borracha com bolhas de ar que, de acordo com a marca, protegem as laterais do carro e são praticamente indestrutíveis.

Com seu design polêmico, o C4 Cactus é o recipiente perfeito para a nova suspensão, que promete revolucionar o modo como enxergamos o conforto em um carro. Mas como a Citroën pretende fazer isto?

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Se a gente curtia a suspensão hidropneumática por sua engenhosidade, a beleza do novo sistema está na simplicidade. Em vez de esferas hidropneumáticas, a nova suspensão usa molas e amortecedores comuns. A diferença está nos batentes.

Em sistemas convencionais os ocupantes sempre sentem os impactos quando o carro passa sobre uma irregularidade no piso, como um buraco, uma saliência ou mesmo uma lombada. Isto acontece porque, com o arranjo convencional — molas, amortecedores e batentes mecânicos — os movimentos (e ocasionais “socos”) são transmitidos aos passageiros em três estágios. Primeiro, a suspensão comprime ou distende; depois, as vibrações são transferidas para a carroceria do veículo e, por fim, os ocupantes as sentem através dos bancos. É especialmente ruim quando a suspensão “dá batente”, chegando ao fim do curso com uma pancada — se o carro é seu, você provavelmente fica até se sentindo culpado. É ou não é?

O segredo da suspensão da Citroën é substituir o batente mecânico por dois batentes hidráulicos progressivos, um em cada extremidade da suspensão. para compressão e retorno — ou, colocando de forma mais simples, um em cima e um embaixo. A Citroën os chama de “almofadas hidráulicas”, eles realmente funcionam mais ou menos como almofadas.

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Sua atuação muda de acordo com as condições da pista. Em um piso melhor, o funcionamento é bem parecido com o de uma suspensão convencional, com as molas e amortecedores trabalhando juntos para absorver as irregularidades do piso sem recorrer às almofadas hidráulicas — ainda que, com elas, o movimento da suspensão fique mais suave. A Citroën diz que, dessa forma, o carro “oferece o conforto de ‘tapete voador’, criando a impressão de que o carro está flutuando sobre saliências e buracos”.

Já em situações onde se exige mais da suspensão, as molas e amortecedores trabalham em conjunto com os batentes hidráulicos. Quando a suspensão chega ao fim do curso, em vez de ocorrer uma batida seca na compressão e no retorno — as novas almofadas reduzem a velocidade do movimento. Batentes mecânicos convencionais absorvem a energia dos impactos e devolvem parte dela à suspensão, causando os socos. Já os batentes hidráulicos progressivos absorvem e dissipam esta energia, reduzindo bastante as irregularidades transferidas aos passageiros.

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Falta uma demonstração em vídeo, é verdade, mas o conceito é simples em sua concepção e não é complicado de entender. Dito isto, a suspensão não é a única inovação do conceito Advanced Comfort Lab — ela só abrange o primeiro estágio da transferência de vibrações aos ocupantes. O carro, então, traz outras duas características que, somadas à nova suspensão, atuam em conjunto para proporcionar o maior nível de conforto possível.

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Como dissemos ali em cima, logo depois que a suspensão termina o processo de absorver os impactos, a energia criada pelas irregularidades do piso é transferida para a carroceria. Para minimizar tal fenômeno, a marca desenvolveu um novo sistema de colagem estrutural que usa “filetes adesivos descontínuos” — onde não há adesivo, a junção é feita por pontos de solda. Deste modo, é possível aumentar a rigidez da carroceria em até 20% e, consequentemente, melhorar sua capacidade de filtrar vibrações. A Citroën ainda não deu maiores detalhes a respeito deste novo método de soldagem, mas garante sua eficiência.

Por fim, o restante das vibrações (que, a esta altura, já deverá ser bem menor do que seria em um carro com suspensão convencional) é transferido aos passageiros através dos bancos. Para minimizar o desconforto causado neste momento, a Citroën desenvolveu bancos com espumas de densidades diferentes a fim de garantir o melhor suporte a todas as partes do corpo.

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Além disso, inspirados pela indústria de colchões, os franceses colocaram nos bancos várias camadas de materiais especiais, como espuma de poliuretano e viscoelástico, para desenvolver bancos “com memória” que se adaptam perfeitamente ao formato do corpo de cada pessoa e, quando são desocupados, retornam à sua forma original.