Há algum tempo detalhamos o funcionamento do data logger do Corvette Sting Ray — o chamado Performance Data Recorder, que cruza as imagens gravadas pela câmera frontal com os dados de telemetria para exibir um replay de uma volta em um circuito acompanhado dos números de desempenho e outras informações sobre o comportamento do carro naquele momento.
É um sistema muito bacana, e pode ser útil a quem leva seu Corvette para a pista. Mas agora o sistema acabou de ganhar uma utilidade mais próxima da nossa realidade de todos os dias: revelar o que aconteceu com seu carro enquanto você não estava olhando.
Como vários outros carros mais modernos, o Chevrolet Corvette tem um “modo valet”, que tem este nome pois sua principal função seria reduzir a chance de um manobrista “se divertir” com seu carro, limitando a potência e tomando outras medidas para reduzir o desempenho do carro, além de impedir o acesso ao porta-luvas e ao porta-malas.
Antes dele, o Corvette C4 ZR-1 trazia na parte inferior do painel um buraco especial para a valet key — uma chave que permitia ativar os modos “Normal Power”, que limitava a potência a cerca de 250 cv, ou “Full Power”, no qual todos os 410 cv do V8 LT5 de 5,7 litros eram soltos.
O modo valet é quase obrigatório em carros mais potentes e está ficando cada vez mais comum em vários países. Alguns carros usam meios mais interessantes de ativá-lo — caso recente dos Challenger Charger SRT Hellcat, que trazem duas chaves: a vermelha, que libera toda a potência do carro, e a preta, que reduz a potência de 717 cv para “apenas” 500 cv, limita os giros do motor a 4.000 rpm e impede que os controles de estabilidade e tração sejam desativados, além de trancar porta-luvas e porta-malas. Com as duas chaves, a Dodge pode vender o recurso de forma mais atraente, usando o apelo da potência liberada com a chave vermelha em vez de citar a segurança adicional do modo valet.
Mas, antes de mais nada, o modo Valet é um recurso muito útil. Qualquer um que tenha assistido”Curtindo a Vida Adoidado” na Sessão da Tarde vai lembrar da famosa cena na qual os manobristas pegam a réplica a Ferrari 250 GT California e, bem:
Este é o maior medo que alguém pode ter quando deixa o carro nas mãos de um manobrista (ou até mesmo um mecânico) — quem dirá o dono de um esportivo potente e caro. Mesmo que não decolem nas rampas, não é raro ver notícias sobre manobristas que abusam dos carros dos clientes e os dirigem de forma irresponsável pela cidade ou simplesmente não fazem questão de estacioná-los em locais seguros. Porta-luvas trancado também não garante que outros objetos, deixados fora dele, possam ser furtados.
E isto não é um problema apenas de países onde superesportivos são mais comuns. No Brasil, uma reportagem feita pela revista Época em 2010 documentou o que acontece com alguns carros deixados com manobristas (legais e clandestinos) na noite paulistana: vagas na rua, estacionamento em local proibido e falta de cuidado com o carro (um Corsa sedan) foram flagrados.
Se um popular nas mãos de um manobrista mal intencionado causa preocupação, imagine a que sujeita o dono um esportivo que custa algumas dezenas (ou centenas) de milhares a mais. O Hellcat ainda oferece 500 cv aos manobristas, mas o desempenho do carro fica bastante comprometido e certamente desestimula os abusos.
É importante lembrar que a utilidade não se limita a coibir manobristas, mas também para deixar o dono do carro mais tranquilo em qualquer situação que exija que outra pessoa dirija o carro: um mecânico ou eletricista, funcionários de um lava-rápido, ou até seu filho que acabou de tirar a carteira e vive pedindo para dar uma voltinha ou usar o carro enquanto você está fora.
Uma solução é deixar uma câmera escondida, como fez a equipe da reportagem — ou o dono deste Mustang, que gravou os mecânicos da concessionária dirigindo seu carro em primeira marcha no limite do giro por oito quilômetros, para tentar “resolver” um problema de carbonização no motor. Ele diz que uma das rodas do carro e a transmissão foram danificados, mas os mecânicos diziam que não fizeram nada disso até que as provas foram apresentadas em vídeo.
O que nos traz de volta à atualização no modo valet do Corvette Stingray: usando os dados de telemetria do Performance Data Recorder, o sistema exibe um “replay” do que foi feito com o carro no período em que ele esteve longe do dono. O modo valet é acessado pelo menu do computador de bordo e precisa de um código de quatro dígitos para ser ativado. Uma vez em funcionamento, o sistema tranca os compartimentos do carro e desliga o sistema multimídia.
O vídeo pode ser assistido imediatamente após o carro ser estacionado ou carregado para um computador, e mostra também a velocidade do carro, as rotações do motor, as marchas e até a medição das forças-G — tudo para que você saiba detalhadamente pelo que o ‘Vette passou. Contudo, aparentemente o modo valet não limita a potência do motor — o vídeo mostra o “dono” do carro assistindo à volta que o manobrista fez no circuito (e ainda dá uma cutucada na Porsche).
Mas você não precisa necessariamente de um Corvette ou Hellcat para ter um carro com modo Valet — e ele nem precisa ter o recurso de fábrica. Basta que seja um carro mais moderno, com central eletrônica, e um módulo aftermarket com modo valet embutido pode ser instalado. Um exemplo famoso é a ECU Hondata, feita especialmente para os modelos da Honda.
Além de permitir que a ECU seja reprogramada para melhorar o desempenho (ou a eficiência) do motor, o sistema da Hondata oferece a função valet, e permite que se defina um limite de rotações e até a abertura máxima do corpo de borboleta.
“VTEC JUST KICKED IN YO”? Acho que não