Acho que posso apostar seguramente que todos vocês concordam que é difícil resistir a uma concessionária abandonada. Há algo triste e ao mesmo tempo fascinante nestas cápsulas do tempo modernas e urbanas, um lugar intocado e imutável em meio à correria e às transformações de toda cidade. Deve ter a ver com a sensação de que o tempo parou ali dentro, afinal, quem não gostaria de poder parar o tempo de vez em quando?
Já vimos algumas concessionárias-fantasma antes, e até contamos suas histórias (se você não viu, veja aqui), e parecia pouco provável que ainda existisse algum lugar assim a ser descoberto a esta altura de 2020. Até que o pessoal do site CarsAddiction encontrou a Fuji Motors, na minúscula cidade de Mosta, no interior da ilha de Malta. Sim, aquela Malta, um dos países menos lembrados de todo o planeta. Pensando bem… surpresa mesmo não é haver uma concessionária Subaru abandonada por lá, e sim haver uma concessionária Subaru por lá. Com pouco mais de 23.000 habitantes na cidade, parece claro o porquê da concessionária estar fechada…
Na verdade esta era a principal concessionária Subaru da ilha, que atendia até mesmo a capital Valletta, mas no final dos anos 1990 um concorrente maior — e, aparentemente, melhor estrategista — inaugurou uma concessionária Subaru na capital e as vendas da pobre Fuji despencaram a ponto de a loja fechar as portas do jeito que estava.
A julgar pelos carros que ainda restaram lá dentro, a Subaru não se posicionava como uma marca premium na ex-colônia britânica. Colados na vitrine estão um Subaru Impreza GF básico, com pintura branca, para-choques pretos e calotas que são a cara do início dos anos 1990.
Ao lado dele um Impreza GC ainda mais pelado: nem mesmo calotas o carro tem. Provavelmente é a versão mais básica de todas, equipada com o motor EJ16 de 1,6 litro e 90 cv com comando simples nos cabeçotes.
Mais adiante um GC mais equipado, com para-choque pintado na cor da carroceria e grade cromada, mas ainda com calotas e sem faróis auxiliares. Diferentemente dos outros, este parece estar um pouco usado, como sugerem os riscos no para-choques dianteiro e a sujeira na soleira e no retrovisor.
Atrás dele há um par de Subaru Sambar, a “Towner” da Subaru — um furgão verde e uma picape prata, ambos da quarta geração, que foi produzida até 1990. Esses utilitários se enquadravam na lei dos kei cars, com 3,19 metros de comprimento e um motor de 544 cm³ (EK23) de 28 cv.
Mais ao fundo outros dois modelos igualmente populares: um GC verde e um quase desconhecido Justy, aparentemente do início dos anos 1990:
A maior preciosidade ali dentro é o Subaru XT (também conhecido como Alcyone), aparentemente zero-quilômetro devido à sua etiqueta de entrega no para-brisa. Como podemos ver nos emblemas na lateral, trata-se de um modelo Turbo 4WD, que era equipado com um flat-4 turbo de 1,8 litro (EA82T) e 115 cv.
Apesar da potência relativamente baixa, ele era um carro bastante desejável em sua época (1985-1991), com suspensão a ar ajustável (que rebaixava o carro em altas velocidades), painel com instrumentos digitais e quadro de instrumentos que se movia com a coluna de direção ajustável. É provável que ele seja um dos últimos Alcyone XT com volante na direita (como todos os carros em Malta, uma herança da colonização britânica), e provavelmente o XT com a quilometragem mais baixa existente.
Segundo o CarsAddiction, a concessionária ainda tem uma garagem fechada, atrás do showroom. O que há lá dentro é um mistério. Gostaríamos muito que houvesse algum WRX, STI ou algo mais desejável que os Impreza pé-de-boi. Mas considerando o visual da concessionária, os quadrinhos modestos nas paredes, presume-se que a loja já era antiquada mesmo nos anos 1990. Então é pouco provável que alguém a procurasse para comprar um WRX ou STI enquanto havia um concorrente mais atraente na capital do país, a menos de 15 km dali.
Além disso, a salada de modelos de épocas diferentes — o Sambar e o Alcyone saíram de linha antes da chegada do Impreza — nos deixa perguntando que raios terá acontecido com essa loja. Pensando bem, melhor não saber. A realidade certamente será bem menos fascinante que o mistério.