Os carros mais icônicos do mundo sempre reúnem grandes comunidades de entusiastas dedicados. O Porsche 911 é um belo exemplo, e só aqui no FlatOut, temos vários casos de colecionadores e companhias dedicados quase exclusivamente ao 911, como Magnus Walker, Akira Nakai e a RWB, ou a Singer Vehicle Design. Estes se especializaram em modificar o 911, dando a ele um pouco de suas próprias personalidades.
Mas também existem aqueles que se dedicam a manter os carros em sua forma original, exatamente como eram quando saíram da fábrica ou, no caso dos carros de corrida, quando competiam nas pistas. E, se tratando de coleções de carros originais, é difícil superar o nível da Ingram Porsche Collection, sediada em Durham, na Carolina do Norte, EUA.
O fundador da coleção é Robert Ingram, mais conhecido no meio como Bob. Por muitos anos ele foi executivo-chefe de uma grande fabricante de remédios, a GlaxoSmithKline. Depois se aposentar, em 2002, ele decidiu dedicar-se integralmente a um hobby que mantinha desde o fim da década de 90: sua coleção de Porsche.
E ele não estava sozinho nesta: seu filho, Cam Ingram, herdou do pai a paixão pelo Nine-Eleven, e no fim de 1998, quando formou-se no ensino médio e decidiu aprender a restaurar automóveis na universidade. Pai e filho visitavam juntos eventos de clássicos e, claro, seu maior interesse eram os Porsche.
Bob Ingram, a esposa e um Porsche 959
Em uma entrevista à Forbes, em 2013, Cam contou que o início não foi fácil. “A gente não sabia exatamente o que estava fazendo quando começou a coleção. Nosso primeiro carro foi um 356 conversível 1959. Compramos de uma revista sem ao menos ver o carro, pois acreditamos em cada palavra que o dono dizia. E foi absolutamente o pior cenário possível. Tinha muita coisa para fazer”.
Por sorte, como diz o clichê, é errando que se aprende. E os Ingram aprenderam tão bem que hoje, sua coleção é uma das maiores e mais respeitadas entre a comunidade de fãs da Porsche. E eles ainda ganham a vida restaurando Porsche clássicos e prestando consultoria a quem quer comprá-los.
“Nunca restauramos o carro, mas ainda estamos com ele, e o usamos como exemplo para mostrar a nossos clientes o que acontece quando você não cuida direito do carro. Também estamos participando de um livro sobre coleções de automóveis, para ajudar as pessoas a não cometer os mesmos erros que a gente.”
O livro em questão se chama Porsche Unexpected, de Randy Leffingwell, e foi lançado no fim de 2014. Nele, a coleção dos Ingram é um dos destaques, mas outros colecionadores também compartilham suas histórias e dão suas dicas.
O fato é que, para promover sua participação no livro e seus serviços de restauração, os Ingram já estão, há algum tempo, cedendo seus carros para exibições em eventos e museus, além de promover passeios em seus carros a convidados especiais, como ex-pilotos e outros colecionadores. Entre cinco ou sete carros são “soltos” de cada vez, mas Bob garante que todos eles se exercitam regularmente. Para ele, grande parte da experiência de ter uma coleção é deixar que os carros estiquem as pernas sempre que possível. Atualmente, são cerca de 50 carros — por volta de 35 deles são 911.
E foi por isso que uma bela seleção dos carros da Ingram Collection foi solta pelas estradas de Napa Valley, na Califórnia, com um time de peso para curti-los como se deve: Chad McQueen, filho de Steve McQueen (e grande entusiasta do 911, como vimos neste post); Peter Kitchak, experiente piloto de endurance; Vic Elford, vencedor das 12 Horas de Sebring de 1971 em um Porsche 917K e dos 1000 Km de Nürburgring em 1968, 1970 e 1971 ao volante de um Porsche 908, e John Trefethen, piloto da 911 GT3 Cup.
Mas a seleção de carros é o verdadeiro espetáculo. Entre os escolhidos, estão representantes clássicos da linhagem do 911, além de algumas raridades.
O mais raro deles é, sem dúvida, o Porsche 911R 1967 chassi #017. Foram produzidos apenas 21 exemplares deste 911 preparado para as corridas do Campeonato de Turismo da FIA. O então diretor do departamento de competição da Porsche, Huschke von Hanstein, queria 500 deles, mas o departamento de marketing discordava da ideia.
O que é uma pena, pois o carro era um verdadeiro racer: seu flat-six refrigerado a ar de dois litros era alimentado por dois carburadores Weber de corpo triplo, tinha cabeçotes de alumínio com comando duplo e desenvolvia 210 cv. Para aliviar peso, a tampa do porta-malas, o capô, os para-lamas e as portas eram de fibra de vidro.
Falando em aliviar peso, outro 911 raro que aparece no vídeo é o Carrera 4 Lightweight 1991. Com painéis de alumínio na carroceria, ele pesava 1.100 kg — que eram levados pelos 330 cv do flat-6 de 3,6 litros acoplado à transmissão do Porsche 935 que competiu no Rali Dakar. A tração é integral, e o carro rodou apenas 5.500 km em toda sua vida.
Outros 911 clássicos que participaram do passeio foram um 911 1968 peparado para ralis e um Carrera RS 2.7 1973 amarelo, famoso por seu motor de 2,7 litros e 210 cv. Além destes, um 911 modificado por Magnus Walker também deu as caras.
O chamado “STR II” é um 911 1972 equipado com um flat-6 de 3,2 litros e 275 cv, com câmbio manual de cinco marchas e pintura inspirada nos 911 clássicos de corrida. O carro foi uma das estrelas de Pebble Beach em 2013 e, de acordo com Walker, foi sua melhor criação. Aliás, o próprio Magnus Walker participou da última reunião promovida pelos Ingram:
Esse é o tipo de coisa que dá gosto de ver: uma coleção incrível, bem cuidada e livre para rodar sempre que possível. Afinal, foi para isto que carros como o 911 foram criados, não é mesmo?