Por mais que a gente aprecie o refinamento e a engenharia dos europeus na hora de fazer esportivos, há um apelo praticamente irresistível na selvageria e na falta de discrição dos americanos. O Chevrolet Corvette Z06 e o Dodge Viper ACR são dois dos maiores exemplos: eles não se preocupam com deslocamento ou consumo de combustível, e muito menos com a sua vontade de não chamar a atenção. Eles são rápidos, barulhentos e espalhafatosos, e fazem questão de que o mundo todo saiba disso.
Mas qual deles é o melhor no que faz? Foi para responder a esta pergunta que Jonny Lieberman e Jason Cammisa, da Motor Trend, se juntaram em mais um episódio da série Head 2 Head. E, como de costume, a dupla convidou o experiente e carismático piloto Randy Pobst para acelerar os dois carros em Laguna Seca e ajudá-los no veredicto.
Se você gosta do ronco dos grandes motores em V americanos e de ver bons carros sendo pilotados por quem entende, definitivamente aperte o play e assista a todos os 23 minutos de vídeo antes de continuar.
Estamos falando aqui dos dois carros que melhor definem o que é um esportivo americano, com motor em V na dianteira, tração traseira e potência de sobra, em suas versões mais nervosas – os chamados especiais de track day, que são legalizados para as ruas mas foram feitos para virar tempo no autódromo. Ambos têm visual radical que é consequência de seus aparatos aerodinâmicos, câmbio manual e motor de mais de 650 cv. E ambos, em tese, são praticamente idênticos em termos de desempenho.
O Chevrolet Corvette é o mais potente, por pouco: seu V8 de 6,2 litros com compressor mecânico Eaton entrega 658 cv a 6.400 rpm e 89,8 mkgf de torque a baixas 3.600 rpm. A transmissão é manual, de sete marchas, e o conjunto é capaz de levar o carro de 0 a 100 km/h em 3,3 segundos, precisando de apenas de 27,7 metros para fazer o oposto. O quarto-de-milha é cumprido em 11,4 segundos a 200,2 km/h.
Se, para boa parte dos fãs de carros americanos, a única forma aceitável de sobrealimentação é o compressor mecânico, o Viper dispensa este papo e chega chegando com 654 cv a 6.200 rpm e 83 mkgf a 5.000 rpm de seu V10 de 8,4 litros naturalmente aspirado. A transmissão é a consagrada Tremec TR6060, manual de seis marchas.
Com este conjunto, o Viper ACR chega até os 100 km/h em 3,5 segundos. Seus freios são ainda melhores, e ele precisa de apenas 26,5 metros para ir de 100 a zero km/h. No quarto-de-milha são 11,5 segundos a 204,8 km/h. Viu só como os carros são virtualmente idênticos nos números?
Mas a semelhança acaba por aí. Os dois carros se comportam de maneira bem diferente, praticamente oposta, quando são testados.
Ao contrário do que costumam fazer, os caras primeiro levaram os dois carros para a pista. Em Laguna Seca, Randy Pobst dá suas impressões e, para ele, o Corvette é praticamente incontrolável. É um carro bastante firme que sai de traseira com muita facilidade, o que compromete seus tempos de volta ainda que, nas retas, o V8 supercharged te faça crer que é possível compensar as frações de segundo perdidas.
Isto só aumenta a surpresa de Pobst ao pilotar o Viper ACR e notar o quanto o carro é estável. Como explicamos neste post, o carro passou por um overhauling que incluiu um retrabalho na geometria da suspensão, novos aparatos aerodinâmicos e novos pneus – em vez dos antigos Michelin Pilot Sport Cup, agora a víbora calça um jogo de Kumho Ecsta V720, de medidas 295/25 R19 na dianteira e 355/30 R 19 na traseira, desenvolvidas especialmente para o carro.
Como resultado, o Viper ACR é um carro muito mais preciso, que surpreende Pobst repetidamente por estar andando de forma tão veloz e firme em um Viper. E a diferença aparece no cronômetro: enquanto o Corvette vira 1:33,05 em Laguna Seca, o Viper faz o mesmo em 1:30,46 – quase três segundos de diferença.
Nas ruas, as coisas se invertem. Cammisa e Lieberman primeiro dão uma volta no Corvette e não param de elogiar seu conforto ao rodar (surpresa, hein?), sua ergonomia e seu acabamento – lembrando que, em termos de qualidade de construção, o Corvette C7 é reconhecidamente superior a seu antecessor. O ronco do V8 também é um dos mais bonitos já produzidos, segundo eles. E, de fato, ouvindo as esticadas que eles dão, fica difícil discordar.
O Viper ACR, por sua vez, causa incontroláveis surtos de riso nos dois apresentadores. No entanto, quando conseguem parar e falar, ambos comentam repetidas vezes sobre como é “torturante” usar um Viper ACR no mundo real. É quente lá dentro. O ronco não é tão bonito quanto o do Corvette. A ergonomia é sofrível. O sistema de som definitivamente não está à altura do rival.
Por outro lado, os dois lembram que o Viper ACR lembra muito mais um carro de corrida para as ruas do que o Corvette – algo que, na verdade, é esperado de qualquer Viper, honestamente. Na verdade, seria até um pouco decepcionante se não fosse assim.
A verdade é que a gente não se surpreendeu quando, na hora de dar seu veredicto, não há dúvida: quem levou esta foi o Viper. Os dois carros têm uma ficha técnica bem parecida (com exceção das diferenças óbvias, como o número de cilindros), mas o Viper é um carro muito melhor acertado na pista. O Corvette, mesmo nas ruas, passa certa impressão de ser um carro “inacabado”, que poderia ter sido melhor desenvolvido para lidar com a potência que tem. A víbora parece mais preparada para ser um rival de peso para os refinados superesportivos de motor central europeus.
De qualquer forma, não sabemos qual dos dois escolheríamos para levar para casa. Você quer nos dar uma ajudinha?