A 250 GTO não é apenas a Ferrari mais cara e valiosa do mundo, mas também o carro mais caro e valioso do mundo. Apenas 39 unidades da Ferrari de competição foram produzidas entre 1962 e 1964, elas dificilmente trocam de mãos e quando o fazem, nunca é por menos de US$ 20 millhões, ou cerca de R$ 55 milhões – nunca.
Sendo assim, não é todo mundo que pode comprar um belo cupê italiano com motor V12 de três litros e 300 cv, o que significa que, mais de 50 anos depois, a 250 GTO continua tão exclusiva quanto na década de 1960, quando Enzo Ferrari escolhia a dedo quem poderia comprá-la. É por isso que, às vezes, aparece uma miniatura anunciada por US$ 64 milhões como se fosse um carro de verdade (sério).
Isto não impediu, contudo, o neozelandês Rod Tempero de ter a sua. Claro que o fato de ele construir réplicas para ganhar a vida facilitou mas, sinceramente, não diminui nem um pouco a admiração que temos pelo trabalho do cara. Sabe por quê? Por que não há um painel sequer neste carro (ou em qualquer um dos outros, para falar a verdade) que seja feito de fibra ou massa. É tudo de metal — feito em uma oficina rodeada de galinhas na cidade de Oamaru, Nova Zelândia.
Os carros construídos por Rod usam estrutura tubular e carroceria feita de forma totalmente artesanal, com painéis modelados sobre esqueletos de madeira — quase como os superleggera de seis décadas atrás, que usavam finas estruturas tubulares cobertas com painéis de alumínio moldado diteretamente sobre elas.
Só que, na verdade, a família Tempero está envolvida na construção de carrocerias desde a década de 1940, quando o avô de Rod, Alan Tempero, começou a construir carrocerias artesanais. O negócio passou para o pai de Rod, Errol Tempero, que começou a ter a ajuda do filho em 1979. A dupla construiu réplicas dos Jaguar C-Type e D-Type, do Aston Martin DBR2 e de modelos da Ferrari como as 250 Testa Rossa e California Spyder.
Passados alguns anos, a empresa foi vendida. Depois de passar alguns anos trabalhando com os novos donos, Rod decidiu que o melhor era abrir sua própria empresa, que leva seu nome e ele considera a verdadeira continuação do trabalho de seu pai.
Agora, não estamos falando de nenhum carrozziere italiano tradicional, mas de uma oficina de que constrói réplicas como verdadeiras obras de arte. O trabalho é 100% manual e livre de qualquer interferência tecnológica — nem mesmo blueprints com as dimensões exatas: tudo o que Rod têm são as medidas oficiais e referências visuais. Ele desenha um perfil em tamanho real em um quadro negro na parede e mete a mão na massa. O vídeo abaixo mostra um pouco do processo, e é simplesmente fantástico.
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De cara nota-se o cuidado com a estrutura tubular, mas o que impressiona de verdade é ver os painéis tomando forma usando máquinas simples e as próprias mãos, tendo como referência moldes de madeira e fotografias. As curvas brutas são definidas com numerosas e precisas marteladas e depois a superfície é alisada em uma máquina e polida.
O processo se repete, com pequenas variações, para todos os painéis, que depois são soldados manualmente e mandados para a sala de pintura, onde recebem um tom de vermelho idêntico ao original (ou qualquer outra cor que o cliente quiser).
Do lado de dentro a história é a mesma: tudo é reproduzido da forma mais fiel possível (com exceção, é claro, do volante do lado direito): as linhas dos paineis, o aspecto dos instrumentos, volante, emblemas, câmbio com grelha, tudo. É realmente impressionante.
Não há muitos detalhes mecânicos disponíveis, mas o vídeo mostra que a atenção à suspensão e ao conjunto mecânico é a mesma dada à carroceria: os componentes vêm de outras Ferrari que não podem ser recuperadas ou são comprados novos.
A suspensão usa braços sobrepostos e amortecedores telescópicos, os freios são a disco e o conjunto mecânico veio de uma Ferrari 325 GT — um V12 de 4,4 litros alimentado por três carburadores de corpo duplo que, originalmente, entregava por volta de 320 cv. Contudo, outras réplicas de Ferrari fabricadas por Rod já usaram componentes da Jaguar, como o V12 do E-Type e peças de suspensão.
Normalmente diríamos que é um sacrilégio, mas o nível do trabalho de Rod impressiona demais. Não fosse, talvez, pela grade sem pintura que parece “nova demais”, em um primeiro momento nossos olhos nos engariam e diríamos que este é um exemplar autêntico. Contudo, trata-se de um carro com o mesmo visual que custa uma pequena fração do preço de qualquer uma das 39 GTO que existem no mundo. Seu valor, contudo, é inestimável.