A notícia da “volta” da Spyker nesta semana trouxe à memória dos FlatOuters a curta passagem da marca pela Fórmula 1. Aconteceu em 2007, no auge da última incursão da então renascida marca holandesa. Em uma época bem mais permissiva da Fórmula 1, eles compraram a equipe Midland em 2006 e assim ingressaram na maior categoria do planeta sem nunca ter fabricado um mísero motor — seus carros de rua usavam o V8 TFSI da Audi, mas os carros de F1 tinham motor Ferrari.
A Spyker na Fórmula 1 durou apenas um ano — eles disputaram apenas aquela temporada de 2007 com Adrian Sutil e Christijan Albers. Albers acabou substituído por Markus Winkelhock e Sakon Yamamoto. A temporada foi desastrosa: a equipe abandonou quatro corridas e terminou somente uma vez acima do 13º lugar, quando Sutil terminou em oitavo entre os dez carros que completaram a prova, conquistando o único ponto da equipe naquele ano — o que lhe garantiu o último lugar no campeonato.
Ainda durante a temporada, logo após as férias de verão, a equipe anunciou que estava a venda e acabou arrematada por um consórcio chamado Orange India Holdings, capitaneado por Vijay Mallya e Michiel Mol. No ano seguinte, a equipe foi rebatizada Force India.
Agora, este é apenas um capítulo curto da história desta equipe. Há o antes e o depois. A tal Midland que a Spyker comprou, nasceu da compra da Jordan Grand Prix em 2006, pelo empresário canadense Alex Shnaider, proprietário do Midland Group, uma holding que atua nos ramos agrícola, industrial, metalúrgico e logístico. A equipe disputou apenas aquela temporada e logo no final do ano foi vendida para a Spyker.
A Jordan, por sua vez, foi uma equipe nova, fundada por Eddie Jordan em 1990, depois de uma década muito bem-sucedida em categorias menores com sua equipe anterior, a Eddie Jordan Racing.
Com as mudanças na administração da Fórmula 1 e, principalmente, na repartição do bolo financeiro da categoria, a entrada de equipes novas, criadas apenas para a Fórmula 1, é algo raro. Até mesmo nomes de peso como GM e Andretti tiveram dificuldades de ingressar na categoria sem comprar uma equipe já integrante do circo. A maioria das atuais 10 equipes que disputam o campeonato, nasceu de outra equipe que já estava por ali havia algum tempo.
As equipes atuais que já nasceram na Fórmula 1 são apenas Ferrari, Williams, McLaren e Haas. A Ferrari, como você bem sabe, nasceu antes da Fórmula 1 e antes mesmo da fabricante Ferrari, mais exatamente em 1929, quando Enzo Ferrari assumiu a equipe de fábrica da Alfa Romeo. Por isso, ela já estava presente na prova inaugural do primeiro campeonato, o GP da Grã-Bretanha de 1950.

A McLaren é a segunda mais antiga em atividade: foi fundada em 1963 por Bruce McLaren, participando de alguns Grandes Prêmios esporadicamente desde 1966. A partir de 1971, a equipe alinhou ao menos um carro em cada prova da Fórmula 1. A única exceção foi o vergonhoso episódio dos pneus no GP dos EUA de 2005.

A terceira equipe mais antiga, é a Williams, que foi fundada em 1977 por Frank Williams e Patrick Head. Apesar do nome da equipe, ela não tem nada a ver com a equipe fundada por Sir Frank em 1969, a Frank Williams Racing Cars. Esta equipe acabou vendida à Walter Wolf Racing em 1976 e a saída de Frank Williams da equipe foi o ponto inicial da Williams Grand Prix Engineering, que é a equipe que existe até hoje e, nestes 48 anos de Fórmula 1, ficou fora de apenas duas corridas: o GP de San Marino de 1982 e o infame GP dos EUA de 2005.
Como curiosidade, a linhagem da Frank Williams Racing Cars foi parar nas mãos de Wilsinho e Emerson Fittipaldi. Quando Walter Wolf cansou de brincar de Fórmula 1, ele vendeu a estrutura da equipe aos irmãos Fittipaldi, que a incorporaram à Fitipaldi Automotive na temporada de 1980 — o carro da Fittipaldi naquele ano foi o Wolf WR7 refinado e rebatizado como F7. Isso estabelece uma relação de Frank Williams com os três brasileiros campeões da F1 — Piquet e Senna como pilotos da equipe, e Emerson como “herdeiro” da Frank Williams Racing Cars.
Tão antiga quanto Williams é a Sauber, mas sua situação é um pouco diferente. A equipe foi fundada em 1970 por Peter Sauber, mas só chegou à Fórmula 1 em 1993. Em 2006 a Sauber teve a maioria de suas ações compradas pela BMW, que a transformou em sua equipe de fábrica. A incursão dos alemães durou apenas três anos: ao final de 2009 a BMW vendeu a equipe de volta a Peter Sauber e, com isso, ela voltou a ser independente. A condição permaneceu até 2018, quando iniciou uma parceria técnico-comercial com a Alfa Romeo, passando a se chamar Alfa Romeo Sauber F1 Team.

A parceria com a Alfa Romeo durou até 2023 devido às negociações da Sauber com a Audi, interessada em ingressar na Fórmula 1 a partir de 2026. Por isso, nas temporadas de 2024 e 2025, a Sauber correu como Stake F1 Team Kick Sauber, combinando o nome de seus dois principais patrocinadores, a Stake, um cassino online de Curaçao, baseado em criptomoedas, e a Kick, uma empresa de livestreaming financiada pela Stake. A partir de 2026, ela será a equipe oficial de fábrica da Audi, depois que os alemães compraram uma participação minoritária da equipe.

A Haas ficou por último porque é a mais nova delas. Engana-se quem pensa que ela tem relação com a Team Haas, que competiu na Fórmula 1 em 1985 e 1986. Aquela Team Haas foi fundada por Carl Haas, sócio de Paul Newman na Newman-Haas da Indy. Esta Haas F1 atual é foi fundada por Gene Haas, sócio de Tony Stewart na Stewart-Haas da Nascar.

Ela foi a última equipe a ingressar na Fórmula 1 como uma nova participante, sendo fundada especificamente para esta entrada. O ingresso oficial aconteceu em 2014, mas a estreia da Haas só se deu em 2016. Embora eles tenham comprado o espólio da Marussia em 2012, ele não incluía a vaga da equipe russa, apenas as instalações e o projeto do carro.
As demais equipes do grid atual nasceram de outras equipes mais antigas. A Red Bull Racing, para começar este bloco, tem sua origem nos anos 1990. A fabricante austríaca de energéticos comprou a Jaguar Racing F1 Team, que disputou a Fórmula 1 entre 1999 e 2004. Em 2005 ela mudou o nome para Red Bull Racing e passou a ser a equipe azul com as faixas tricolores que conhecemos hoje.
Só que a Jaguar Racing F1 Team também não começou do zero: em 1998 a Ford comprou a Stewart Grand Prix, que usava os motores Ford-Cosworth, e a transformou na Jaguar Racing F1 Team como parte da estratégia de modernizar a imagem da Jag, que pertencia à Ford Motor Company na época e tinha uma imagem muito associada aos antigos sedãs XJ.
A Stewart Grand Prix, por sua vez, foi fundada em 1997, mas começou do zero. A linhagem da Red Bull Racing, portanto, remonta àquela temporada — ou seja: são 28 anos de operação, porém com três comandos diferentes.
Já a Racing Bulls só teve dois comandos em sua história, mas com quatro nomes diferentes. Antes de ser Racing Bulls, eles foram a Alpha Tauri e antes de Alpha Tauri eles eram a Toro Rosso. A Toro Rosso nasceu quando a Red Bull comprou a Scuderia Minardi, que foi fundada em 1979 na Itália e disputou a Fórmula 1 entre 1985 e 2005. Como não poderia inscrever duas Red Bull no campeonato, ela simplesmente traduziu o nome da marca para o italiano: Scuderia Toro Rosso.
A mudança para Alpha Tauri aconteceu em 2020, quando a Red Bull decidiu promover sua marca de moda, a Alpha Tauri. Assim, nasceu a Scuderia Alpha Tauri, que durou de 2020 até 2023. Para 2024, a operadora de sistemas de pagamento Visa Inc. tornou-se a parceira comercial da equipe, mudando seu nome para Racing Bulls.
Contudo, devido ao acordo comercial com a Visa e a carteira digital Cash App, o nome da equipe foi, oficialmente, Visa Cash App RB F1 Team — um nome bizarro que foi ruidosamente recepcionado pela opinião popular e que, claramente, foi escolhido para gerar o acrônimo VCARB. O nome, a despeito do bom-senso e da moderação dos espíritos, acabou usado por toda a temporada de 2024. Na temporada seguinte, um acesso de lucidez da equipe alterou o “Visa Cash App RB” para “Racing Bulls”, um nome mais adequado a uma equipe de corridas.

A linha hereditária da Aston Martin nos remete à inspiração desta matéria: ela tem origem na Racing Point, equipe formada em 2018 quando Lawrence Stroll comprou a Force India depois que esta se afundou em uma crise financeira incontornável.
A Force India, contudo, nasceu no final de 2007 quando um consórcio liderado por Vijay Mallya adquiriu a equipe Spyker por 90 milhões de euros. Em 2020, Stroll se tornou acionista majoritário da Aston Martin Lagonda, a fabricante de carros, e já no ano seguinte rebatizou a Racing Point como Aston Martin F1 Team.

Depois dela temos a Alpine F1 Team, que, desde 2021, substituiu a Renault F1 como equipe oficial da fabricante francesa. Só que… ela não é descendente da equipe que estreou na F1 em 1977, trazendo os motores turbo para a categoria.

A Renault F1 que deu origem à Alpine surgiu em 2016 depois de comprar a Lotus Renault, que foi criada no final da temporada de 2010 após ser comprada da própria Renault pelo grupo Genii Capital. O nome Lotus veio de uma parceria com a fabricante britânica de esportivos.
A Renault que foi vendida ao Grupo Genii, nasceu em 2002, quando os franceses compraram sua principal cliente dos anos 1990, a Benetton Formula Limited que, por sua vez, surgiu em 1986 quando a família Benetton comprou a equipe Toleman, a qual patrocinava desde 1985.
Já a Toleman deriva de uma empresa fundada em 1926 para distribuir carros Ford na Inglaterra e que acabou herdada pelos filhos de seu fundador, que a transformaram em uma equipe de corridas nos anos 1970. A estreia na Fórmula 1 aconteceu em 1981 — uma operação de 44 anos, portanto.
Por último, a linhagem mais improvável é a da Mercedes-AMG. A fabricante alemã disputou a Fórmula 1 nos anos 1950 com uma equipe de fábrica, teve uma parceria com a Sauber em 1993 e 1994, e com a McLaren entre 1995 e 2013.
Sua origem, contudo, não tem relação com nenhuma destas incursões. As raízes estão na francesa Matra, cuja equipe de F1 foi criada em 1967. Essa ligação entre a Matra e a Mercedes é difícil de perceber devido às mudanças na operação da equipe, mas também principalmente porque a divisão esportiva da Matra deu origem à Talbot, que acabou comprada pela Peugeot.
A Matra que conhecemos na Fórmula 1 (pela qual Jackie Stewart ganhou seu primeiro título) não é a Équipe Matra Sport, mas a equipe Matra International. A Équipe Matra era a equipe oficial da fábrica em 1967 e 1968 e entre 1970 e 1972, enquanto a Matra International foi uma parceria firmada com Ken Tyrrell em seu ingresso na F1 em 1968.
Com o bom desempenho da Matra International em 1968 (leia-se: o vice-campeonato de Jackie Stewart), no ano seguinte a Matra decidiu concentrar seus investimentos na Matra de Tyrrell. Eles desenvolveram um novo carro, o MS80, que usava os tanques de combustíveis como elemento estrutural, o que reduziu o peso do carro em comparação com o MS10. Com o novo chassi, o motor DFV, e Jackie Stewart em seu melhor momento, a Matra International levou o título de construtores e o de pilotos de 1969.
Em 1970 a Matra queria que Tyrrell usasse um novo motor V12 desenvolvido na França. O motor chegou a ser testado pela Matra International, mas era inferior ao DFV. Além disso, a Ford era a principal patrocinadora da Matra International e a Matra agora estava unida à Simca, que pertencia à Chrysler. Assim, Ken Tyrrell encerrou a parceria com a Matra e transformou a Matra International na Tyrrell Racing.
A equipe conquistou mais dois títulos de pilotos com Jackie Stewart em 1971 e 1973, mas não voltou a vencer o título de construtores. A equipe continuou ativa até 1998, quando foi comprada pela British American Racing, mais conhecida como BAR. Na prática, a BAR comprou a vaga da Tyrrell, pois tanto o pessoal quanto o equipamento foram substituídos.
Em novembro de 2004, a Honda comprou 45% da equipe e em setembro de 2005 comprou os outros 55% para se tornar sua proprietária. Com isso, a BAR se tornou a Honda Racing F1, que estreou em 2006 e correu até 2008, quando a crise global afetou as finanças da fabricante japonesa.
No fim daquele ano, Ross Brawn comprou a Honda e criou a equipe que levou seu nome, a Brawn GP, que estreou em 2009 e venceu os títulos de pilotos com Jenson Button e de construtores com as vitórias de Button e Barrichello. Ainda em 2009, Brawn vendeu a equipe para a Mercedes, que até então era sua fornecedora de motores. E foi assim que a Matra International de 1968 se transformou na Mercedes-AMG de 2025.
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