Em tempos de downsizing, SUVs e crossovers dominando o mercado, e carros híbridos e elétricos ganhando cada vez mais espaço, os tempos de abundância dos anos 60 parecem cada vez mais distantes. E, por abundância, queremos dizer motores enormes e gasolina azl. Consumo de combustível não era uma preocupação muito grande – para vender bem, um carro precisava ser bonito, rápido, espaçoso e confortável. Se fosse um muscle car (ou pony car) ou mesmo uma versão esportiva, só precisava ser bonito e rápido.
Claro, esta é uma visão meio simplista, mas você entende nosso ponto. Sendo mais específico: naquela época eram muito populares as concessionárias que ofereciam “algo mais” a seus clientes. Caso da Yenko, concessionária de Canonsburg, Pensilvânia, que também atuava como preparadora – e se tornou uma lenda graças ao Camaro Yenko S/C, que tinha o motor 427 do Chevrolet Corvette, com 430 cv, no lugar do small block 350 de 295 cv. O trabalho de Don Yenko era tão popular entre os entusiastas que a Chevrolet viu-se obrigada a oferecer de fábrica um Camaro com motor de Corvette. E o resto, como dizem, é história. (Você pode ler aqui!)
E não pense que não havia exemplos parecidos no Brasil – nem tanto nos anos 60, e mais nos anos 70 e 80. Concessionárias como a Caltabiano, a Envemo e, claro, a Dacon também fizeram fama oferecendo kits de preparação e até mesmo modelos especiais a clientes mais exigentes. A Caltabiano tinha o Ford Maverick Quadrijet; a Envemo oferecia kits para o Chevrolet Opala que incluíam modificações mecânicas e estéticas; e a Dacon tinha uma das linhas mais completas de acessórios e modelos VW modificados com componentes de prateleira e feitos sob medida.
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Pois a primeira coisa que pensei quando soube que uma concessionária norte-americana está oferecendo um Mustang preparado com nitro, capaz de fazer o quarto-de-milha em dez segundos, por um preço camarada e com garantia de fábrica, foi na Yenko. De certa forma, é como se estivéssemos um pouquinho mais perto dos anos de ouro dos muscle/pony cars.
É bem sabido, praticamente indiscutível, que o Ford Mustang nunca esteve melhor. Com uma identidade visual mais moderna da qual já aprendemos a gostar, suspensão independente na traseira e, obviamente, motores mais potentes – o fato de haver um quatro-cilindros turbo é um detalhe totalmente passável, dado o contexto –, o Mustang já nasceu com um potencial enorme. A própria Ford demonstrou isto ao colocar nele um V8 de virabrequim plano e 533 cv, recriando o Shelby GT350. Agora é a vez da concessionária Beechmont Ford, que fica no estado de Ohio.
A loja começou a oferecer nesta semana o chamado Drag Pak. Como o nome diz, trata-se de um pacote de equipamentos que tornam o Mustang GT apto a participar de arrancadas diretamente saído do showroom da concessionária. A forma como eles explicam o serviço faz parecer bastante simples.
O primeiro passo é optar pelo Mustang GT, com motor V8 de cinco litros e 466 cv. O carro pode ser básico ou Premium, conversível ou fastback, ter câmbio manual de seis marchas ou automático de dez marchas – não importa, o importante é ter o motor V8.
Então é preciso instalar o kit, que inclui não apenas o sistema de óxido nitroso no porta-malas (completo com suporte e painel de controle), mas também novas semiárvores, bomba de combustível, amortecedores ajustáveis e molas específicas com menor carga, para facilitar a transferência de peso para a traseira no momento da arrancada. Também são inclusos rodas e pneus 305/45/17 do tipo drag radial – que podem ser usados nas ruas, mas são feitos de um composto especial que melhora a aderência na dragstrip.
O kit é instalado na própria concessionária e o carro mantém a garantia de fábrica para todos os componentes Ford – exceto se tais componentes forem danificados durante uma corrida, ou se o proprietário realizar mais modificações além das que já são oferecidas pela Beechmont Ford.
O preço não foi divulgado pela concessionária, mas eles já adiantam que uma das vantagens é justamente o fato de o kit ser acessível. E citam como exemplo outro pacote já oferecido pela Beechford, que inclui um supercharger da Roush Performance, com quem firmou parceria, e outros componentes que elevam a potência do V8 5.0 para “mais de 700 cv” (o número exato não foi divulgado), sob a garantia de fábrica de três anos ou 58.000 km. Tudo por US$ 39.995 – uma pechincha, considerando que um Mustang GT totalmente stock custa cerca de US$ 35.000. O kit com sistema de óxido nitroso provavelmente não custará muito mais caro.
A própria Roush, aliás, oferece modificações desenvolvidas junto à Ford desde 1995 e, na última década, tem se dedicado mais a oferecer pacotes prontos para serem instalados em qualquer concessionária dos EUA. A parceria coma Beechmont Ford é um indicativo deste esforço – e, de certa forma, inspirou a loja de Ohio a desenvolver seu próprio kit de nitro.
Fica mais interessante ainda se levarmos em conta que a Beechmont Ford é uma concessionária tocada por entusiastas do Mustang: o dono, Mark Williams, foi um dos autorizados pela fabricante a comprar um Ford GT (cujos compradores foram selecionados a dedo), e o responsável pelas vendas de componentes de performance é o piloto de arrancadas Terry “Beefcake” Reeves, que segundo a loja, é proprietário de um dos Mustang supercharged mais velozes do planeta no quarto-de-milha – 7,71 segundos a 286 km/h. O vídeo abaixo é meio antigo, feito em 2013, mas ilustra bem o que queremos dizer:
Os tempos mudaram, os carros mudaram e os anos 60 jamais vão voltar. Mas ainda há opções para quem quer reviver, ao menos em parte, a época dos muscle cars e pony cars preparados por concessionárias. Como não curtir?