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Dear God II: agora é a vez de Ari Vatanen (sim, ele mesmo!) passar mal como navegador de rali

Ari Vatanen é um dos maiores nomes do rali em todos os tempos: quatro vitórias no Rali Dakar, uma vitória na subida de montanha de Pikes Peak e dez vitórias em sua longa carreira no WRC, que culminou com o título da temporada de 1981 como Ford Escort RS1800. Mas até os melhores pilotos de rali mundo podem ficar bem desconfortáveis quando trocam de lugar com o navegador…

Foi exatamente isto que aconteceu há alguns anos, quando Ari Vatanen pegou uma carona com seu filho, Max Vatanen, em um Ford Fiesta de rali. O vídeo foi publicado pelo próprio Max em seu canal em 2013 e, de verdade, queríamos tê-lo visto antes.

Max Vatanen começou a competir no WRC em 2014, ao volante do Ford Fiesta R2, com motor Ecoboost turbo de 999 cm³ (sim, um carro de rali 1.0), 180 cv e 25,5 mkgf de torque e câmbio sequencial de cinco marchas da Sadev. Aparentemente, trata-se de um treino livre logo no início da carreira de Max, que hoje está com 26 anos e já competiu em mais de vinte etapas do WRC com o Fiesta até agora.

Mas as gente está dizendo estas coisas só para dar um pouco de contexto: o que importa aqui é ver Ari Vatanen passando mal no banco do carona enquanto seu filho está extremamente concentrado ao volante. Como um piloto experiente, que já conduziu um quase-protótipo de 600 cv montanha acima (e fez um navegador exclamar dear God! em um Opel Manta em 1983) fica tão desconfortável no banco do carona com seu filho em um carro de menos de 200 cv? Em vários momentos dá para vê-lo tentando controlar a náusea e, no fim da sessão, Ari Vatanen assume: “eu estava realmente assustado!”

Acontece que é bem comum que pilotos (e não-pilotos) se sintam mal no banco do carona ou no banco de trás de um carro de uma forma que não se sentiriam se estivessem no comando. E há uma boa hipótese científica para isto, claro.

Há dois fatores que influenciam no seu bem estar dentro de um carro. O primeiro é a discrepância entre os sentidos: dentro de um carro, você sente que ele está em movimento através do seu corpo e de seus ouvidos – dentro deles, há um pequeno canal chamado aparelho vestibular, e o mesmo está repleto de um fluido chamado linfa. Neste fluido, pequenas células ciliadas (os receptores vestibulares) se movem seguindo os movimentos do corpo, ajudando o seu cérebro a perceber a posição em que você se encontra.

ouvido_interno

Quando seus ouvidos percebem movimento, mas seus olhos não – como dentro do carro, especialmente se os vidros tiverem película escura e estiverem fechados – seu cérebro atua um mecanismo de defesa, pois conclui que na verdade você está tendo alucinações: como pode estar sentindo movimentos se seus olhos dizem que você está parado? O cérebro chega à conclusão de que você ingeriu alguma toxina perigosa, e ativa o reflexo da ânsia de vômito para te ajudar a se livrar dela.

O fato de estar no banco do carona também tem influência. Isto porque, quando você está dirigindo, seu cérebro sabe que é você quem está causando o movimento, o que cancela o mecanismo de defesa. É por isso que dificilmente o motorista fica enjoado dentro de um carro, mesmo que seja um cara que não consegue ficar cinco minutos dentro de um carro em movimento sem sentir vontade de vomitar.

No caso dos pilotos profissionais, há outra questão que também faz diferença: a sensação de risco, que também pode ativar o reflexo de vômito como mecanismo de defesa. Quando está ao volante, o o piloto está focado em algo funcional: os olhos estão ocupados captando referências e mapeando a pista 100% do tempo; as mãos estão focadas em sentir o limite de aderência dos pneus e as reações do volante, e o cérebro fica calculando o tempo todo. É tanta coisa que simplesmente não há tempo de pensar em todo o risco envolvido em conduzir um carro de competição – e, consequentemente, o mecanismo de defesa não é ativado. É só ver a cara de concentração de Max Vatanen ao volante do Fiesta: ele se desligou do mundo e está pensando apenas na trajetória do carro.

Ari-Max-Vatanen

Seu pai, por outro lado, está de mãos atadas. Ele levanta o polegar algumas vezes em sinal de aprovação (afinal, não deixa de ser um momento bacana entre pai e filho), mas não há experiência ao volante que convença seu cérebro de que ele não está em situação de risco. O resultado é o enjoo.

No fim da sessão, o piloto veterano está visivelmente aliviado e até elogia o filho, mas diz que ficou assustado de verdade em alguns momentos. E que nunca mais vai andar com Max novamente.

Podemos, então, chegar a duas conclusões: a primeira é que nem os melhores pilotos do mundo estão imunes a sentir enjoo dentro de um carro – nem mesmo os finlandeses. A segunda é que navegadores de rali são heróis.

É ou não é, Terry Harryman?