Wolfgang Blaube é um experiente jornalista automotivo alemão que já escreveu diversos artigos para sites e revistas como a tradicional Auto Bild. A Shuanghuan é uma fabricante chinesa de automóveis que, em 2008, ficou famosa por introduzir ao mercado alemão um SUV que era praticamente uma cópia da primeira geração do BMW X5 — o Shuanghuan SCEO. Agora, o caminho dos dois (de Blaube e do SCEO) se cruzaram — e não foi bonito. Ou foi, dependendo do seu ponto de vista.
“Mas o que aconteceu, afinal?”, talvez você pergunte. Wolfgang simplesmente ficou cansado da falta de qualidade de seu SCEO e decidiu dar a ele o único fim que considerou justo e o destruiu completamente — não que tenha sido muito difícil…
O que realmente aconteceu foi que Blaube comprou um SCEO com cinco anos de uso e pouco mais de 100 mil km rodados — situação bastante comum na Europa, ainda que a quilometragem pareça avançada para nós. De qualquer forma, em cinco anos você não espera que um carro fique no estado em que o SCEO estava.
Para ajudar a expor a situação precária decorrente da péssima qualidade dos materiais e da montagem, Wolfgang Blaube chamou seus parceiros da Auto Bild que, depois de uma rigorosa bateria de testes, verificaram que quase todos os componentes mecânicos feitos de metal estavam enferrujados — alguns literalmente se desintegrando, como os freios (!).
O ABS já não funcionava, fazendo com que as rodas travassem e a direção estava com uma folga gigantesca e nem um pouco precisa. O veredicto da publicação foi direto e reto: o carro não estava em condições de rodar em vias públicas.
“É um estado de decomposição assustador — eu diria que parece um carro com pelo menos dez anos de idade”, disse um dos técnicos da revista. E ele provavelmente foi gentil.
Como se livrar de um carro tão ruim? Vendê-lo seria “irresponsável e nem um pouco digno de confiança”, nas palavras do próprio Blaube. Sendo assim, a única solução que Blaube conseguiu enxergar foi acelerar o processo de destruição do carro que, pelo visto, já havia começado assim que o SCEO deixara a fábrica na China. Primeiro, o carro teve todos os seus fluidos esvaziados, incluindo o combustível (Blaube rodou com ele até parar por pane seca). Depois, um caminhão de bombeiros jogou cinco mil litros de água pelo teto solar para arruinar toda a parte elétrica.
O golpe final veio depois que o próprio Blaube se cansou de dar machadadas e marretadas na carroceria: uma explosão com dinamite, com direito a alavanca como nos desenhos animados.
Dá para dizer que foi uma “vingança”? Provavelmente, e em nome de toda a indústria automotiva alemã. Em 2008 a BMW foi à corte de Munique para processar a Shuanghuan e tentar impedi-la de comercializar o SCEO na Alemanha, dizendo que seu visual era um plágio descarado da primeira geração do SUV X5. De fato, ainda que a dianteira seja diferente, todo o resto do carro tem proporções e detalhes muito semelhantes aos do utilitário alemão.
A Shuanghuan se defendeu dizendo que o X5 e o SCEO eram veículos bem diferentes — incluindo na proposta, visto que, enquanto o X5 da geração E53 tinha motores a diesel e a gasolina de de seis cilindros em linha e V8, sua cópia chinesa só era oferecida com motores de quatro cilindros. Não adiantou argumentar: a BMW ganhou a causa e a fabricante chinesa teve de cessar a comercialização do SCEO no país, além de destruir as unidades que ainda não tivessem sido vendidas. Contudo, alguns exemplares escaparam — e este é um deles.
Bom, era.