É chegado o momento… e agora, como começar um texto interessante? Para mim, o grande desafio de escrever o texto sobre o meu muscle car brasileiro é fazer com que os entusiastas de um hot hatch europeu se interessem por conhecê-lo, e vice-versa, claro. Olha, o Project Cars está se tornando uma grande confraria. Meu nome é Irineu Siqueira Neto, 37 anos, Dodgeiro por vocação, e moro em Sinop (MT).
Era uma vez um rapaz latino-americano que sempre foi fã de carros e carrões. Sua vontade de ter um automóvel diferenciado começou na sétima série do 1° grau, quando um amigo, o Gordo, apareceu com uma revista toda rasgada e em inglês chamada Hot Rod.
Fiquei louco com aquelas pinturas e aqueles motores! Era a coisa mais irada de toda a face da terra! E assim, comecei a me interessar por restaurações e customizações de carros antigos estilosos com mecânica refinada. Também fui muito influenciado pelas reportagens da revista Oficina Mecânica, como uma que mostrava um empolgante Fusca com motor V8.
Foto: Paulo Levi / Adverdriving
Veja que coisa interessante, agora eu me encontrava naquela fase da vida de 15, 16 anos, a falta de perspectiva me consumindo… E então meu pai me mandou ao Senai para eu me inscrever no curso de Técnico em Segurança do Trabalho – cara que coisa chata, nada contra a área, apenas não era a minha praia. Mas veja só: quando lá cheguei, a inscrição para o curso tinha se encerrado e estava aberta a de Mecânica – e claro, isso eu achei o máximo. Seria um sinal do céu? Liguei pra minha mãe e falei que iria me inscrever nele. Infelizmente, ela cortou o barato: disse que era coisa de quem andava sujo, pinguço, etc… imagine.
Fica aqui um conselho: que a sua profissão seja algo que você ame, se não for, ame o que você faz. Voltei pra casa sem graça de tudo, não tinha nem uma coisa nem outra. Mas a semente de ter e fazer meu carro já estava plantada.
Após alguns anos trabalhando em postos de gasolina e como ajudante em oficinas boca-de-porco, consegui entrar numa autorizada da Pirelli como aprendiz de alinhador. Fiquei ali seis meses, quando em 1996, após dominar o ofício, arrumei um serviço como alinhador de um centro automotivo. Estava feliz, mas faltava algo. E este algo surgiu na forma de um Simca Tufão 1966! Isso aconteceu quando saí para testar e analisar a situação de um Escort que estava cantando pneu – repentinamente, avistei de longe a forma de carro antigo com rabo-de-peixe. Após o expediente fui lá correndo conferir o que era e me apaixonei por aquela velharia! Ferrugem pura do começo ao fim: agora eu entendo a frase “o amor é cego” – pois ele é mesmo!
No entanto, como só amor não compra peça e também não pinta carro, com muita dor no coração precisei abandonar o projeto do Simca. Não tinha nem recursos financeiros e nem o know how necessário para empreender um projeto desta magnitude (mas não se esqueça, quase todos os Project Cars são “dessa magnitude!”).
A vida seguiu. Consegui realizar um sonho profissional ao começar a trabalhar em uma autorizada Toyota – que coisa fantástica! Em 2002 montei a minha oficina especializada na marca. Uma década depois, no fim de 2012, decidi que havia chegado o momento de buscar e fazer o meu carro dos sonhos. Pensei até em resgatar o antigo Simca, mas desisti por apenas uma razão: o sonho de infância era o lendário Dodge Charger nacional, que marcou a minha vida com aquela cara de raiva! Por que você sabe, homem só sente raiva e calor!
Comecei a ler toda a literatura que havia disponível (inclusive o Dart Games, bajulações à parte) e passei a acessar ao menos três vezes por dia sites como o Mercado Livre, OLX, Webmotors e Auto Relíquias, atrás do Dodjão pra chamar de meu. Depois de topar com muitos Darts convertidos em Chargers e Chargers originais para os quais se pediam “80 contos mais o meu fígado” como forma de pagamento, apareceu numa terça à tarde um anúncio com o seguinte título no Mercado Livre: “Vendo Charger R/T 75, motor forte”. Será que era esse o tal?
Entrei em contato com o vendedor e marcamos de nos encontrar no domingo seguinte. O carro estava em Vilhena, Roraima, a nada menos que 820 quilômetros da minha cidade! Nem liguei. Resolvi ir de caminhão, pois se desse negócio, já embarcava o “minino” e trazia embora para casa. Sozinho? Qual nada, levei a família inteira pra passear!
Chegando lá, encontrei com o vendedor, uma pessoa idônea toda vida, honestíssimo e de fácil negociação. Me deu um monte de peças sobressalentes e um macarrão muito bom, que ele tinha trazido da Itália. Fomos ao despachante e ele prontamente pagou todos os débitos do carro. No dia seguinte estava voltando todo feliz da vida com o Dodjão na prancha! Olha, eu sei que não é coisa de Dodgeiro falar isso, mas teve um momento em que vieram lágrimas aos olhos, mas foi só por um momento…
Já no caminho comecei a planejar como faria o andamento do projeto Charger Sete-Cinco. E ainda fui brindado com uma descoberta posterior: na história da Dodge no Brasil, o Charger R/T 1975 Amarelo Montego com rodas Magnum 500 é simplesmente um dos carros mais cobiçados. Já até me xingaram, falando que eu não poderia customizar um R/T 75 e etc e tal – no entanto, não sou louco de transformar o Dodge em um carro abre-alas de escola de samba. As mudanças que irei fazer serão todas dentro do universo Mopar. Mesmo assim, a turma do frisinho está descontrolada… mas eu garanto o bom gosto!
E olha, se o serviço não ficar bom podem me desconjurar, pois exceto a parte de funilaria e pintura, o resto será todo feito por mim e pela minha equipe. Agora que estamos todos contextualizados com a história do carro, aguarde cenas dos próximos capítulos, onde detalharei tudo o que já aconteceu, está acontecendo e será feito!
Por Irineu Siqueira Neto, Project Cars #29