Caros amigos, no meu primeiro post do Project Cars falei sobre a aquisição do carro, a experiência de dirigi-lo por aproximadamente um ano em condições precárias (porém, muito divertidas) e por fim, sobre a difícil decisão de encostá-lo por tempo indeterminado.
Aos que pretendem restaurar um carro, fica a dica: se prepare psicologicamente, pois não existe fase mais chata e estressante em uma restauração do que a funilaria, pintura e acabamento em geral. É fundamental ser muito organizado e ter um local adequado para desmontar o carro. E claro, muita paciência e boas ferramentas.
Coloquei o Dodge em uma garagem fechada, e comecei a desmontá-lo, tirando os bancos, painel, forração interna, frisos, emblemas, para-choques, grade, lanternas e painel. Nessa fase é muito importante embalar as peças e parafusos, colocar uma etiqueta com o nome (e o lado) de cada peça, guardando em local que ninguém vá mexer ou transitar. Essas peças somem com muita facilidade! O motor também foi tirado e colocado na garagem. Esta foi a parte fácil.
A parte difícil foi achar um profissional de confiança e que realizasse um serviço de primeira. Nessa fase eu passei muita raiva! Quando eu falava “Dodge”, os caras falavam: “ahhhh.. aquele Galaxão?” “ihhh…nesse carro aí vai bastante massa hein.” Quando eu ouvia esse tipo de asneira (e ouvi muito!) eu simplesmente virava as costas e ia embora.
Um dia, conversando com um senhor que foi dono de uma Ford F100, ele mencionou que havia um cara que poderia me ajudar. Ele entrou em contato com o profissional (Sr. João), que veio ver o Dart e fez o orçamento da funilaria e pintura. O preço era salgado. Mas quando negociei com o Sr. João, senti firmeza quando ele me explicou de forma detalhada, o que deveria e poderia ser feito no carro. Pra finalizar, me convidou pra ver um Jeep Willys que ele havia restaurado. Quando vi o Jeep, decidi que era o cara certo para o serviço.
Fechamos que a metade do valor seria dada na entrada e o restante ao final do serviço. Só tinha um problema: nessa época eu ganhava pouco, não tinha um centavo no bolso e tinha uma longa viagem planejada para visitar meus avós. E não tinha como adiá-la.
Porém, nesta viagem meu voo atrasou e, por culpa da companhia aérea, fiquei nove horas no aeroporto de Guarulhos, sem acomodação, comida, acesso à internet ou telefone de forma gratuita – o que é garantido por lei. Ou seja, passei um perrengue desgraçado. Diante desse fato, protocolei uma ação no Juizado Especial Cível. Em algum tempo veio a sentença e a companhia foi obrigada a ressarcir o preço das passagens e os gastos que eu tive, além de uma pequena indenização. Exatamente a metade do valor da funilaria e pintura. E assim, por um mal que veio para o bem, teve início mais esta etapa.
O carro ficou com o Sr. João por quase um ano. Ele trabalhava sozinho, nos fundos da sua casa, com estufa para pintura e uma mini oficina, e eu o visitava uma vez por semana para acompanhar a evolução do trabalho.
O carro não tinha massa, somente as partes podres da caixa de ar, assoalho interno e porta malas, área de suporte das lanternas traseiras, borda dianteira do capô e mais alguns pontos isolados, que foram arrancados e substituídos por peças de chapas 18, moldadas artesanalmente, ou seja, no braço!
A pintura não teve maiores contratempos. O carro tinha sido repintado há muitos anos com um amarelo apagado, mas sua cor original era Amarelo Montego que, em minha opinião, é muito chamativo. Na hora de escolher a cor, fiquei em dúvida. Quase escolhi o preto, com as faixas do “SE” em vermelho. Combinação de cores muito utilizada nos Dodges americanos, da década de 1960 até hoje.
Mas como teria que alterar a documentação, acabei optando por um amarelo que é um meio termo entre o que estava no carro e o original: o Amarelo Sunflower, da Volks. Que fique claro que não fui influenciado pelo hit sertanejo Camaro Amarelo! Afinal, no toca-fitas só vai rolar rock, progressivo e thrash dos anos 70 e 80. A foto de abertura do post mostra como ficou o carro após a funilaria e pintura.
Como optei por colocar as faixas laterais do modelo “SE” (serviço ainda não realizado), vendi o jogo de emblemas “DODGE” e “DART” que ficavam na lateral, pra evitar poluição visual pelo excesso de informação. O outro jogo de emblemas foi parar na grade dianteira. Por gosto pessoal, também mantive as lanternas do modelo 71 (a turma do frisinho vai à loucura).
Então, o carro voltou à garagem para a montagem das máquinas de vidros, borrachas e frisos. Mesmo com toda a organização, perdi um friso que vai rente à ventarola e um encosto de braço da janela traseira.
Pelo menos o problema do friso foi resolvido, pois o do Corcel I é exatamente igual e ficou com encaixe perfeito. Alinhar a subida dos vidros com as borrachas e canaletas novas também foi um chute no saco! Quando um lado encaixava, o outro ficava torto! Mas ao final deu tudo certo. Os vidros dianteiros e traseiros ainda não foram colocados, pois precisam ser levados à Curitiba para polimento com óxido de cério (retirada de riscos), e falta a borracha do vidro dianteiro.
Mesmo com algumas pendências, decidi que deveria dar um tempo com a fase de acabamento, pois isso estava me estressando. Então, restaram pendentes nessa fase:
- Compra da borracha do vidro dianteiro e do porta malas;
- Polimento e instalação de vidro dianteiro/traseiro e seus frisos;
- Substituição dos bancos individuais pelo banco inteiriço;
- Restauração do banco traseiro;
- Restauração e cromagem das rodas Magnum;
- Cromagem parachoque traseiro;
- Instalação de fechaduras, faixas do SE e outras miudezas.
Precisava de uma injeção de ânimo pra continuar o projeto e pra isso, nada melhor do que escutar novamente o rugido da fera. Mas para iniciar essa fase, foi necessário me desfazer do azeitona, meu Passat GTS 1986; assunto para o próximo post, no qual trarei, claro, as principais novidades da evolução do Dodge Dart!
Por Elíphas Neto, Project Cars #30