Se você acompanha o FlatOut, talvez já tenha visto nosso guia para fazer um engine swap — e, se você já o leu, sabe que trocar o motor do carro não é uma tarefa simples e corriqueira. Mas há aqueles que sabem o que estão fazendo e não têm medo de se enfiar até o pescoço na graxa, não se intimidando com nenhum projeto — nem mesmo aqueles que exigem adaptações extremas.
Caras como o usuário do fórum VWVortex “Drewhastheinternet”, que decidiu fazer um Golf com motor W8 em posição central traseira — algo que já é digno de aplausos petrolheads. Contudo, no meio do caminho, as coisas mudaram um pouco, e o projeto acabou se tornando um Bora (que os americanos chamam de Jetta) com DOIS motores: um VR6 debaixo do capô e um W8 em posição central traseira. Por quê? Por que ele podia, aparentemente.
Ao contrário do que aconteceu no Brasil, nos EUA o Bora (ou Jetta) foi vendido com outras opções de motor além do 2.0 de quatro cilindros — entre elas, o motor VR6 de 2,8 litros e 12 ou 24 válvulas (de 179 cv e 204 cv, respectivamente). Já o motor W8, de quatro litros e 275 cv, foi oferecido em modelos como o Passat B5 e Phaeton, e pode ser encarado, em uma descrição simplista, como dois motores VR4 unidos longitudinalmente.
Drewhastheinternet (vamos chamá-lo apenas de “Drew” a partir de agora) abriu o tópico no VWVortex no dia 21 fevereiro de 2014 contando seus planos de fazer um Golf com motor W8 em posição central-traseira.
O detalhe é que ele já tinha todo o conjunto motriz praticamente montado, como dá para ver acima — o motor W8, a transmissão automática de seis marchas, eixo e até rodas e pneus. Drew precisava de uma boa carroceria de Golf para dar continuidade ao projeto — mas não conseguia encontrar. Sendo assim, ele decidiu usar um Bora VR6 que tinha encostado em sua garagem. E o projeto acabou ganhando mais um motor.
Quem acompanha fóruns sabe que projetos como este tendem a se arrastar por meses, e até anos. Mas Drew não é o tipo de cara que gosta de enrolar, aparentemente, porque em questão de dias ele conseguiu instalar o motor W8 e o transeixo no Jetta e fazer os dois motores funcionarem controlados pelo mesmo módulo — com a ajuda de diagramas e, certamente, algumas sessões de tentativa e erro. O vídeo de demonstração é assustador, no melhor sentido possível:
Drew aplicou os devidos reforços estruturais e uma gaiola de proteção na parte posterior do veículo, além de um subchassi, visto que instalação do conjunto mecânico em posição central-traseira exigiu alguns cortes na estrutura. Em questão de semanas o carro estava pronto para seu primeiro test drive. Que, como você deve estar imaginando, foi alucinante:
A esta altura, você deve estar se perguntando como um carro pode funcionar com dois motores e dois câmbios diferentes. A explicação de Drew é simples e faz sentido.
Ambos os transeixos, dianteiro e traseiro, têm cinco velocidades. O dianteiro é manual e o traseiro é automático. Não sei se as relações de marcha são as mesmas, mas acredito que isto não importe muito. Eles são sincronizados pelo piso por onde o carro passa. Pense nele [neste carro] como se fossem dois veículos levando uma carga juntos. Se um deles é mais potente, o outro fica com menos carga. Eles não vão brigar entre si porque os motores estão girando separadamente. Se você tem duas transmissões no mesmo motor com uma conexão mecânica sólida, então sim: relações de marchas diferentes poderiam causar problemas.”
Então é como se fossem dois carros, um atrás do outro, com motores e câmbios diferentes, se movendo na mesma velocidade. O fato de o W8 ser acoplado a uma caixa automática também deve ajudar — até mesmo no aspecto prático: imagine ter que trocar as marchas de dois câmbios manuais girando fora de sincronia! Seria como dirigir um dos carros de 18 marchas de “Velozes e Furiosos”, só que bem menos divertido…
Desde então o tópico não parou de ser atualizado com novos vídeos — e poucas fotos e informações —, e o mais legal é que Drew (que tem outro Jetta) decidiu manter o visual original do Jetta, e só trocou as rodas recentemente:
Ou seja: quem vê este carro jamais poderia suspeitar que seu conjunto mecânico, segundo nossas contas, desloca 6,8 litros por seus 14 cilindros e entrega, pelo menos, 454 cv. “Pelo menos” porque Drew instalou um turbocompressor no VR6, portanto este número certamente é ainda maior.