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É assim o ronco de um Honda Civic Type R EK9 a “11.000 rpm”

Já faz algum tempo que os responsáveis pelo canal oficial da Best Motoring International selecionam alguns de seus melhores vídeos e incluem legendas em inglês, facilitando a vida de quem curte as demonstrações de pilotagem e explicações técnicas de Keiichi Tsuchiya, Max Orido e todo o time de pilotos do programa.

O último vídeo que os caras legendaram, por exemplo, traz uma comparação entre um Honda Civic Type R original e um exemplar preparado pelos magos da Spoon para girar a 11.000 rpm.

Quem é fã dos Honda certamente conhece a Spoon, preparadora fundada há exatos 30 anos por Tatsuru Ichishima, que era piloto de testes da fabricante e tinha uma boa relação não apenas com a Honda, mas também com a Mugen, preparadora fundada pelo filho de Soichiro Honda, Hirotoshi Honda. Vindo das corridas de longa duração do JTCC (o Campeonato Japonês de Turismo), Ichishima acredita que um bom carro esportivo precisa ter um motor durável – para ele, isto é mais importante que potência bruta. Seu Civic de terceira geração com o qual competiu no JTCC era um ótimo exemplo: com um motor 1.6 16v de 230 cv e componentes reforçados no motor e no câmbio, o hatch de corrida com pintura azul e amarelo ajudou o Sr. Ichishima a fazer seu nome entre os “hondeiros”. Hoje a Spoon é referência em preparação e acerto dos esportivos da Honda com V-TEC, não apenas em termos de motor e câmbio mas também suspensão, eletrônica e estética.

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Em 1999, quando a Spoon tinha apenas 11 anos de existência, o próprio Ichishima foi mostrar seu novo Civic Type R EK9 cujo motor B16B foi preparado para render 200 cv a 10.000 rpm (números de torque não foram revelados…), com corte de giro a 11.000 rpm. O motor B16, com diâmetro x curso de 81×77,4 mm (1.595 cm³), já é naturalmente girador: entrega sua potência máxima, 185 cv, a 8.200 rpm, com redline em 8.400 rpm e rotações limitadas a 9.000 rpm. De acordo com Ichishima, o carro foi meio que uma “experiência” da Spoon Sports para conferir o potencial do motor B16 com o aumento do limite de giro, conseguido através de uma reprogramação eletrônica, sem ampliar o deslocamento. O resultado foi um ganho de 15 cv – pouca coisa no papel, fato. Mas definitivamente perceptível.

De acordo com Ichishima, além da reprogramação eletrônica o motor recebeu um reforço no bloco justamente para lidar com a vibração do motor a 11.000 rpm – um block girdle que se encaixa na parte inferior do motor.

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Sem ele, o B16 poderia perder um ou mais pistões e até sofrer trincas no bloco. E há imagens bem dolorosas para provar:

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O câmbio do Type R não passou por modificações, mantendo o mesmo escalonamento – a ideia era mesmo testar como o conjunto se comportaria caso as rotações não fossem limitadas a 9.000 rpm como de fábrica. Os dois carros são colocados para disputar uma arrancada na entrada de uma curva à esquerda, em um aclive de inclinação considerável. O Civic preparado pela Spoon não precisa de mais que alguns segundos para saltar à frente do original e, diferentemente dele, sobe a ladeira toda em segunda marcha.

O carro que não recebeu modificações precisa ser colocado em terceira marcha na metade da curva, o que reduz as rotações do motor para menos de 5.800 rpm no momento da troca. Com isto, além da perda de tempo natural da troca de marcha, há outro fator no caso do B16B, que tinha o comando V-TEC “à moda antiga”: no início da terceira marcha o comando está no perfil mais manso, voltado à economia, com menor levante das válvulas de admissão.

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No caso do Civic da Spoon o motor está o tempo todo acima das 5.800 rpm, o tempo todo com o V-TEC ativado, e não se atrasa trocando de marcha – a vantagem sai do papel e pode ser vista na prática. Agora… havia um problema. Quando Keiichi Tsuchiya leva o carro para dar uma esticada no circuito, sem levá-lo ao limite e mal chegando às 10.000 rpm, a ECU apresenta uma falha e o carro é colocado no modo de baixo desempenho – uma programação secundária ajustada para baixo rendimento, a fim de prever danos ao motor. Não é só subir o giro, então…

É claro que estamos falando de um experimento meio suicida – ao que tudo indica o reforço no bloco foi a única modificação “estrutural” no motor, sem a adição de componentes reforçados, e a ECU na verdade pode apenas ter tentado avisar que levar o motor acima das 10.000 rpm não seria uma boa ideia. Ou talvez a ECU de 20 anos atrás só tenha demonstrado o quanto a eletrônica automotiva evoluiu nos últimos 20 anos. Em todo caso, ouvir um quatro-cilindros ronda girando alto é sempre uma coisa boa.

 

Bonus tracks (em Tsukuba!)

Que tal outro Type R girando alto, então? Este aqui recebeu um motor K20 preparado pela Spoon. O vídeo não tem legendas, mas dá para entender que o motor recebeu uma ECU Spoon. Vale a pena mesmo pelo ronco mais encorpado do K20.

Neste outro vídeo, Keiichi Tsuchia conduz um Civic Type R que recebeu um kit stroker da Spoon para o motor B16, que passou a deslocar 1,8 litro e, com componentes reforçados e nova ECU, passou a entregar 280 cv. Além disso, teve o interior aliviado para chegar aos 900 kg – originalmente são 1.040 kg em ordem de marcha no caso do Type R EK9.