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Car Culture

É oficial: o Dodge Viper deixará de ser produzido em 2017

Sim, você leu direito: o Dodge Viper, o supercarro americano que nunca pensamos que fosse acabar, chegará ao fim de sua carreira em 2017. Nós já havíamos mencionado isso no Zero a 300, mas agora a informação foi confirmada pela divulgação do contrato entre a Fiat Chrysler (FCA) e o sindicato dos trabalhadores da indústria automobilística dos EUA e Canadá, o United Auto Workers (UAW).

O contrato proposto pela FCA e aprovado por 77% dos membros do sindicato prevê as atividades do grupo automotivo para os próximos quatro anos. Por isso, ele contém detalhes dos futuros planos da FCA, como uma evolução do câmbio de oito marchas adotado atualmente pelo grupo. O fim do Viper não está detalhado explicitamente, mas sim nas entrelinhas, pois ele não prevê a produção de automóveis na fábrica da Chrysler da Conner Avenue, em Detroit, onde os Vipers são fabricados a mão desde 1992 por um grupo de cerca de 80 operários.

Este é, sem dúvida, um triste fim para o carro que fez a cabeça dos entusiastas por mais de duas décadas. Na verdade, o fim do Viper é aquele tipo de realidade que nos recusamos a aceitar, embora fosse seu destino mais lógico. A atual geração, lançada em 2013, simplesmente não conseguiu conquistar novos compradores e nem a admiração dos fãs. Prova disso, é que o Viper chegou a ter sua produção paralisada em julho do ano passado devido à baixa demanda pelo modelo.

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São vários os motivos que podem ser atribuídos ao desinteresse do público pelo novo Viper. O design com linhas mais europeias, a equivocada mudança do nome Dodge para SRT (compare a sonoridade de “Dodge Viper” e “SRT Viper”), o preço elevado, muito próximo ao dos melhores Corvette e até mesmo dos esportivos europeus. Ou talvez a soma de tudo isso. Se você quer saber o que o FlatOut pensa disso, nas conversas informais que sempre rolam nos bastidores do site fomos quase unânimes na impressão de que a Dodge talvez pudesse ter mantido a segunda geração até 2013, instalando o controle de tração obrigatório, e encerrado a produção do carro com uma série especial limitada ultra-radical. Por outro lado, o Viper acabou muito abalado pela falência da Chrysler em 2009 — o que levou a fabricante a encerrar a primeira geração do modelo.

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De certa forma, o Viper hoje é um carro fora de seu tempo (infelizmente). Ele é um dos raros esportivos produzidos em série que mantém a brutalidade e a filosofia 100% old-school e fiel à sua origem (leia sua história aqui). Sim, o Corvette também mantém a tração nas rodas de trás e câmbio manual, mas o Viper até hoje usa as polegadas cúbicas para extrair toneladas de torque e potência, sem nunca ter se rendido à sobrealimentação — algo que o próprio Carroll Shelby, um de seus mentores, adotou com regularidade desde os anos 1980. Também por esse motivo o Viper não compartilha plataforma ou powertrain, o que também o torna um carro mais caro.

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Lançado em 1992 como um sucessor moderno para o Shelby Cobra, o Viper veio ao mundo como uma expressão pura de pilotagem e desempenho. Sua eletrônica se resumia ao gerenciamento do motor 8.0 V10 de 405 cv e ao controle dos instrumentos. Em seus primeiros anos ele sequer tinha um teto. O controle de tração era feito à moda antiga, usando apenas um diferencial de deslizamento limitado e se você quisesse freios anti-travamento, sem problema: bastava frear com a pressão exata que as rodas não travariam.

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Em 1995 ele ganhou um teto e no ano seguinte a versão GTS, com 421 cv, que cravou seu primeiro recorde em Nürburgring Nordschleife: 8:10 com Horst von Saurma em um teste da revista Sport Auto em outubro de 1997. Colocando em contexto, o Honda NSX fez em 8:28 naquele mesmo ano, a Ferrari 355 GTB fez em 8:13 e o Porsche Carrera 993 completou o laço norte de Nür em 8:38. O Corvette, seu único rival americano, ficou nos 8:40. Apesar de ser o mais rápido de sua espécie, ele ainda não era um carro de 300 km/h.

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Isso só foi acontecer na segunda geração, que chegou em 2003. O V10 passou a deslocar 8,3 litros e, na versão SRT-10, que substituiu a GTS, a potência subiu para 507 cv, empurrando o Viper até os 100 km/h em 3,7 segundos e depois à máxima de 310 km/h. Foi esse carro que cravou o segundo tempo do Viper em Nürburgring. Em 2005, em um teste conduzido pela revista americana Motor Trend, o SRT-10 completou o Nordschleife em 7:59 — não é um tempo expressivo perto de seus rivais da época, caso do Corvette Z06, que fez em 7:42 com largada estática.

Quem conseguiu um tempo realmente impressionante foi o Viper ACR, uma versão espartana criada para eventos de autocross e track days que removia qualquer item que não fosse necessário para andar rápido numa pista. Em agosto de 2008 ele foi levado à pista pela Motor Trend em parceria com a Chrysler e, nas mãos do piloto Tom Coronel, cravou 7:22,1 — o tempo mais rápido já obtido por um de rua produzido em série até então. Esse tempo foi baixado pela Chevrolet com o Corvette Z06 três anos depois, em junho de 2011, usando pneus de pista. O tempo do esportivo de gravata foi 7:19,63.

Naquele mesmo 2011 o Viper voltaria a recuperar o recorde absoluto, exatamente um mês depois do Lexus LFA cravar 7:14.64 em um teste da fábrica com pneus de rua. Com Dominik Farnbacher ao volante, o Viper cravou 7:12,13 e se tornou o carro produzido em série mais rápido de Nürburgring Nordscheleife.

Em 2013 veio a nova geração, que nunca foi testada oficialmente em Nürburgring. O Viper ACR 2010 permaneceu o rei do ‘Ring até o dia 4 de setembro de 2013, quando a Porsche anunciou (e provou) que seu 918 Spyder Hybrid era capaz de completar o circuito em insanos 6:57 — e o primeiro carro produzido em série a completar o giro no Inferno Verde em menos de sete minutos. Depois do Porsche, o Viper foi superado pelo Nissan GT-R Nismo, com 7:08,6, e também pelo Lamborghini Aventador SV, com 6:59.

Todos esses têm em comum duas diferenças essenciais em relação ao bom e velho Viper: eles distribuem sua força eletronicamente para as quatro rodas e as marchas são trocadas por um computador. Essas características apenas corroboram nossa impressão de que o Viper está nos deixando por ser um carro fora de seu tempo. E possivelmente o último carro totalmente controlado pelo homem a andar tão rápido nas ruas e nas pistas.