Como se precisássemos de mais notícias ruins em 2020, hoje tivemos mais uma: o lendário Eddie Van Halen morreu na manhã desta terça-feira (6) após uma longa batalha contra o câncer. Ele tinha 65 anos de idade.
A notícia foi dada por seu filho, Wolfgang Van Halen, através das redes sociais. Ele dividia o palco com o pai desde 2007, quando tornou-se membro oficial do Van Halen em substituição ao baixista Michael Anthony, um dos fundadores da banda.
“Ele foi o melhor pai que eu poderia querer. Cada momento que dividi com ele, no palco e fora dele, foi um presente. Meu coração está partido e não acho que vou me recuperar totalmente desta perda”, disse Wolf Van Halen no Twitter.
— Wolf Van Halen (@WolfVanHalen) October 6, 2020
Eddie Van Halen era, simplesmente, um dos maiores guitarristas de todos os tempos. Desde a fundação do Van Halen, em 1974, ao lado de David Lee Roth nos vocais, Alex Van Halen na bateria e Michael Anthony no baixo, a técnica refinada e agressiva de Eddie se sobressaía. Isto ficou realmente evidente em 1978, quando a banda lançou seu álbum auto-intitulado – que trazia entre clássicos como “Runnin’ With The Devil”, “You Really Got Me” (cover do The Kinks) e “Ain’t Talkin’ ‘Bout Love”, um singelo instrumental de menos de dois minutos chamado “Eruption” – canção que mudou a história da guitarra no rock para sempre.
Usando sua Stratocaster “tunada”, a Frankenstrat, Van Halen fez algo que, na época, ninguém havia feito: usou a técnica do tapping, na qual usava os dedos das duas mãos para “martelar” as notas na escala da guitarra. Van Halen não inventou o tapping na guitarra – anos antes, Steve Hackett já havia usado a técnica nos discos do Genesis. Mas foi Van Halen que levou o tapping para o mainstream, e com isto tornou-se um dos guitarristas mais influentes de todos os tempos. Aquele foi só o início da lenda que se tornou o Van Halen – lenda que atingiu seu auge com 1984, álbum lançado em 1984 que trazia uma banda entrosada, criativa e cheia de energia, soltando clássico atrás de clássico: “Jump”, “Hot for Teacher”, “Panama” e “I’ll Wait” são algumas das músicas mais conhecidas da banda.
Duas destas músicas, na verdade, têm conexão direta com os carros. “Panama” traz o ronco do Lamborghini Miura S do próprio Van Halen durante a ponte – e também foi usada como trilha sonora na versão norte-americana de Gran Turismo 4, lançado para o PlayStation 2 em 2004.
Já Hot for Teacher tem na introdução alguns segundos de bumbo duplo na bateria – durante os quais Alex Van Halen conseguiu imitar com maestria a marcha lenta embaralhada de um motor V8 preparado.
Com tudo isto, fica evidente que o Van Halen é uma das bandas que mais combinam com o FlatOut. Portanto, seríamos malucos se não prestássemos nossa homenagem a ele neste dia tão triste. Até porque o guitarrista era um entusiasta de mão cheia, dono de uma coleção repleta de clássicos.
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Eddie Van Halen, na verdade, sempre teve uma queda por carros – e um gosto bastante eclético. Porsche 911, Jeep Renegade (o original, baseado no Wrangler da década de 80), alguns hot rods e clássicos americanos das décadas de 1950, 1960 e 1970.
O Lamborghini Miura foi um presente de casamento que Eddie Van Halen ganhou de sua ex-esposa, Valerie Bertinelli, em 1981. O carro era um Miura P400S, segunda fase do Miura, introduzida em 1968, três anos depois do lançamento do superesportivo.
As diferenças em relação ao primeiro Miura eram cosméticas e mecânicas. Por fora, o carro ganhava detalhes cromados na área envidraçada e nos faróis; enquanto o interior adotava um novo painel de instrumentos com o console e alguns comandos redesenhados. Já o motor V12 (transversal!) de quatro litros recebia um coletor de admissão mais livre e comandos retrabalhados – o que aumentava sua potência de 350 cv para 370 cv.
O carro de Van Halen era vermelho e tinha placas “APR 11” – Eddie Van Halen e Valerie Bertinelli casaram-se em 11 de abril de 1981. O guitarrista ficou com o carro por mais de três décadas, vendendo-o apenas em em 2019 ao colecionador americano John Temerian.
O Miura fazia uma linha mais refinada. Já a Chevrolet C/K era o oposto: em vez de um esportivo italiano clássico e elegante, uma picape americana moderna e chamativa, com direito a um esquema de pintura que imitava a Frankenstrat.
A Chevrolet C/K foi lançada nos EUA em 1988 – quase dez anos antes de sua chegada ao Brasil, em 1997, como Silverado. Enquanto por aqui ela teve apenas motores de quatro cilindros (a diesel) e seis cilindros (turbodiesel e a gasolina), e vendida apenas com cabine simples, nos EUA existiram versões com cabine estendida ou dupla, com caçamba mais longa e com duplo rodado na traseira, e até uma versão esportiva – a 454 SS, que tinha um V8 big block de 7,4 litros e 255 cv.
Mais ou menos naquela época o negócio do customizador de automóveis Boyd Coddington ia de vento em popa. A Boyd Hot Rods, cuja sede fica até hoje na cidade de Orange, Califórnia, recebeu em 1989 uma encomenda de Billy Gibbons, lendário (e barbudo) guitarrista do ZZ Top, que resultou no CadZZilla, um Cadillac 1948 com teto rebaixado, carroceria alisada, uma nova traseira feita sob medida e um V8 de oito litros com injeção Holley.
Pouco depois o ex-baixista do Van Halen, Michael Anthony, também encomendou alguns carros a Boyd Coddington, incluindo um roadster Chevrolet 1934. Foi questão de tempo até que Eddie Van Halen também fizesse um pedido especial à Boyd Hot Rods.
Mick Anthony e Boyd Coddington em um dos carros do baixista
Em vez de um hot rod clássico, porém, o guitarrista encomendou algo diferente: uma picape customizada e preparada com inspiração em sua icônica guitarra. As modificações na picape foram desenhadas por Chip Foose, e incluíram uma nova pintura vermelha e faixas laterais com o padrão preto e branco criado por Eddie Van Halen para a Frankenstrat.
O rascunho de Chip Fosse para a picape de Van Halen
A C/K também tinha rodas de 16 polegadas feitas sob medida em billet de alumínio – sendo que as rodas traseiras tinham tala de 11 polegadas e calçavam pneus de 315 mm de largura. Além disso, a caminhonete recebeu novos para-choques, de visual mais limpo, uma nova grade. Foi uma personalização leve, que manteve a identidade original da Chevrolet C/K.
As modificações mecânicas, por outro lado, foram mais radicais. O motor original da picape deu lugar a um V8 LT1, small block de 350 pol³ lançado em 1992 no Chevrolet Corvette C4 – um V8 pushrod com bloco de ferro fundido, cabeçotes de alumínio, injeção multiponto sequencial e 355 cv a 5.700 cv, além de 52,4 mkgf de torque a 3.800 rpm. A transmissão automática de quatro marchas também veio do Corvette, assim como a suspensão traseira independente do tipo multilink.
Enquanto discutiam a respeito da caminhonete, Van Halen e Boyd Coddington tiveram a ideia de customizar mais um exemplar. A outra Chevrolet C/K também foi pintada de vermelho, mas manteve o conjunto mecânico original e foi toda decorada com as listras preto-e-branco. Esta segunda picape foi sorteada pela revista Sport Truck – o sorteio foi anunciado na edição de junho de 1993, e o vencedor foi um homem chamado Robert Cotter, de Lansing, Michigan.
O paradeiro da picape que foi sorteada é desconhecido – há chances de que ela ainda esteja com seu primeiro dono. Já a caminhonete que pertencia a Eddie Van Halen foi matéria de revistas e sites até meados dos anos 2000 – até mesmo uma versão em miniatura, licenciada, foi lançada pela Testor como kit para montar (como as miniaturas da Revell).
O guitarrista a utilizava de tempos em tempos mas, em certa altura, a deixou estacionada em uma vaga de garagem descoberta. Lá, a picape ficou parada por alguns anos até que, em 2009, foi levada a uma oficina chamada American Hot Rods, em Anaheim, na Califórnia, para uma reforma.
A picape de Eddie Van Halen foi repintada, teve a mecânica refeita e ganhou um jogo de rodas maiores, com 18 polegadas na dianteira e 20 polegadas na traseira, imitando o desenho das rodas de 16 polegadas instaladas em 1993.
A restauração fazia parte dos preparativos para um leilão realizado pela Barrett-Jackson em janeiro de 2010. Durante o evento ela foi arrematada sem reserva por US$ 42.900 – o equivalente a cerca de R$ 240.000.
Nos últimos anos, possivelmente por conta de seu tratamento contra o câncer, Van Halen andou se desfazendo de vários carros de sua coleção. Além da venda do já citado Miura, em 2019, Van Halen vendeu muscle cars, picapes antigas, esportivos e hot rods.
Só em 2018 e 2019, Van Halen anunciou um Chevrolet Nova da década de 1960, uma picape Dodge COE (ambos modificados pela Bones Fab), um Porsche 911 GT3 e dois hot rods – uma Chevrolet Nomad (a perua do Bel Air) e um Chevrolet 210, ambos fabricados em 1956.