O Fiat 600 é o irmão mais velho e menos famoso do 500 clássico da década de 1950. Lançado dois anos antes, em 1955, ele é um pouco maior e tem motor refrigerado a água em vez de ar mas, por alguma razão, o Cinquecento acabou se tornando um ícone muito maior — provavelmente por seu visual mais carismático.
De qualquer forma, ambos têm muita coisa em comum: como o 500, o 600 vendeu muito bem em sua terra natal e adjacências, tem um motor econômico, mas não muito potente na traseira e é uma bela base para engine swaps extravagantes — especialmente se quem executa o projeto decidir manter o carro com visual próximo ao original. Foi exatamente o que o dono deste Fiat 600 1959 fez. Olhando assim, até parece um exemplar restaurado nos mínimos detalhes.
Ao abrir a tampa do motor, porém, vem a surpresa: no lugar do minúsculo quatro-cilindros de até 843 cm³ e 32 cv que vinha no cofre destas coisinhas, atrás do gigantesco radiador de alumínio, está algo bem mais japonês: um motor rotativo Wankel da Mazda. Yeah, Doritos power!
Foto: Josh Clason/Petrolicious
A ideia de trocar o motor original pelo Wankel veio de Mr. Bill, como é conhecido o dono da oficina Mr. Bill’s Auto & Cycle, no Arizona, EUA. Em entrevista ao Petrolicious (infelizmente, sem vídeo), Bill conta que é um verdadeiro fã dos pequenos Fiat das décadas de 1950 e 1960 e que já foi dono de vários 500, 600 e até Multipla, a pequena van derivada do 600:
De qualquer forma, Bill sempre está cheio de ideias para engine swaps — mal comum a milhões de entusiastas pelo planeta, como nós — e até pensou em colocar o conjunto mecânico de uma Harley Davidson Sportster, algo que lhe apetecia porque ele é fã de motos, mas mudou de ideia. Em vez disso, decidiu seguir com o plano original do dono anterior, que já ia colocar um Wankel no cofre do pequeno 600.
Motores rotativos são legais porque são compactos, giram muito e têm potência específica impressionante. Para se ter uma ideia, originalmente o motor que foi colocado no 600 — o Mazda 12A, de dois rotores — desloca apenas apenas 1,2 litros e, no Mazda RX-3, entregava entre 110 e 130 cv, dependendo da versão. Impressionante para um motor introduzido em 1970, não é?
Mas vamos voltar ao Fiat 600 de Bill: o motor Wankel foi colocado na traseira e recuado em alguns centímetros, melhorando a distribuição de peso à custa da remoção dos bancos traseiros. Também foi instalado um radiador que ocupa quase toda a área de abertura da tampa traseira, de modo que o acesso ao motor é feito por dentro do carro. O câmbio veio de uma Kombi, e teve as relações retrabalhadas para ficar mais curto. De acordo com Bill, a velocidade máxima do carro é de 170 km/h — bem mais do que os 95 km/h divulgados na época de lançamento do 600.
Aliás, o interior foi meticulosamente restaurado — forração dos bancos e das portas, além do acabamento — mas recebeu algumas modificações importantes. De cara, vê-se uma gaiola de proteção projetada especialmente para o carro e instalada por profissionais qualificados. Os instrumentos originais deram lugar a um jogo de mostradores aftermarket e o volante é uma bela peça retrô, porém nova em folha.
Bill diz que não costuma dirigir o carro com tanta frequência, mas que se diverte bastante quando o faz. “É um carro que anda surpreendentemente bem e também tem um ótimo comportamento, especialmente por causa do entre-eixos curto. E ele empina com facilidade em segunda marcha…”
De qualquer forma, Bill provavelmente não terá muito mais chances de acelerar o carro daqui para a frente — ele está à venda em uma loja nos EUA, e os caras até fizeram um vídeo com o carro em movimento. O ronco do motor é alto, mas poderia ser ainda mais se não fosse o abafador instalado logo abaixo dele.
Se este carro não estivesse nos EUA, pode ter certeza que daríamos um jeito de conferi-lo de perto — afinal, não é todos os dias que se encontra por aí um Fiat 600 com um enxame de abelhas furiosas no cofre do motor, não é?
[ Dica do leitor Marco Antonio Pereira Peters ]