Você deve lembrar do post que fizemos na semana passada, sobre a equipe de motociclismo de Enzo Ferrari – a chamada Scuderia Ferrari Moto, que venceu venceu diversas corridas em uma meteórica trajetória de três anos, entre 1932 e 1934. As motos eram britânicas, fabricadas pela Rudge-Whitworth e pela Norton, e vinham até com o emblema do cavallino rampante pintado no para-lama dianteiro.
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Acontece que, seis décadas depois, o emblema da Ferrari tornou a estampar uma motocicleta. Dessa vez, porém, era uma moto de rua: a Ferrari 900, que é também uma das mais raras do mundo – só existe uma, e ela foi feita com a bênção da fabricante.
Foi no começo da década de 1990, quando o customizador britânico David Kay escreveu uma carta para a Ferrari, pedindo autorização para colocar em prática um projeto pessoal: uma moto com a marca Ferrari, como tributo a Enzo. Sua inspiração foi exatamente o passado do Commendatore no motociclismo, incluindo suas primeiras aventuras sobre duas rodas e o sucesso da Scuderia Ferrari Moto.
David Kay é o fundador da MV Meccanica Verghera, empresa que desde 1983 especializou-se em modificar, preparar e restaurar as motos da italiana MV Agusta. Contudo, sua moto Ferrari seria diferente: ele a construiria do zero.
De acordo com o site da Meccanica Verghera, a resposta da Ferrari veio no dia 23 de maio de 1990, em uma carta assinada por Piero Ferrari, o filho mais novo de Enzo, que comandava a empresa na época. A carta dizia que a Ferrari ficava lisonjeada com a ideia, permitindo o uso da marca e dos emblemas, e desejava boa sorte na época. Não conseguimos imaginar uma atitude como esta por parte da Ferrari de 2019…
A moto foi construída sobre uma estrutura desenhada e fabricada pelo próprio Kay, usando tubos de aço-carbono-molibdênio Reynolds 351. A construção é do tipo berço duplo, com amortecedores invertidos Forcelle Italia na frente e WPS na traseira. Os discos de freio são da Brembo, com pinça de seis pistões na frente e quatro pistões atrás.
O mesmo vale para o motor, um quatro-cilindros de 900 cm³ com comando duplo no cabeçote e quatro válvulas por cilindro, todo construído em alumínio. Mais especificações a respeito do motor jamais foram reveladas, mas testes em dinamômetro acusaram 105 cv a 8.800 rpm na roda traseira. Com câmbio de cinco marchas, a moto de 172 kg tem velocidade máxima estimada em 265 km/h.
O visual da moto é interessante pois é bastante simples, na mesma pegada de algumas das Ferrari mais icônicas do planeta, como a 250 GTO ou a F40. Há uma carenagem superior envolvendo o farol duplo, um tanque alongado e baixo, e uma rabeta com entradas de ar decorativas que imediatamente remetem à icônica Ferrari Testarossa, lançada seis anos antes – e se você pensa que estamos falando de fibra de vidro, está enganado: as peças foram moldadas em alumínio, de forma artesanal. As lanternas traseiras redondas também são referências imediatas ao design da Ferrari na época – como na F355, por exemplo. No geral, é uma mistura interessante de influências ao longo da história da Scuderia. As rodas de liga leve são Astralites de 17 polegadas, fabricadas no Reino Unido.
A Ferrari 900 ficou pronta apenas em 1995, após mais de 3.000 horas de trabalho – todo ele feito pelo próprio Dave e do artesão Terry Hall, que ajudou a dar forma à carenagem, ao tanque de combustível e ao sistema de escape, feito em aço inox sob medida.
De acordo com a MV Meccanica, a Ferrari 900 foi muito bem recebida quando foi revelada, sendo capa de revistas e tema de programas de TV. No entanto, de lá para cá sua história parece ter se perdido no tempo – não são muitos os que lembram de sua existência, talvez por ela ter ficado nas mãos de Dave por 13 anos. Em 2008, ele decidiu vender a motocicleta em um leilão, mas o preço reserva de £ 180.000 foi considerado alto demais pelo público e os lances não atingiram o valor esperado. Em 2016, porém, a motocicleta foi vendida por £ 85.000 em 2016.