A Ferrari F50, coitada, é incompreendida. Apesar de ter um motor V12 vindo da Fórmula 1 (e, por consequência, um ronco animal e desempenho matador), ela tem um visual bastante controverso e veio ao mundo logo depois da F40, o que tornou sua missão como flagship da Ferrari bem mais complicada.
Ela também é mais rara que a F40: enquanto esta teve 1.311 unidades fabricadas, fizeram apenas 349 exemplares da F50. A maioria deles, como você já deve ter imaginado, foi pintado em vermelho Rosso Corsa, a cor clássica da Ferrari há décadas. Mas há carros de outras cores. Você deve lembrar daquela F50 amarela que foi filmada puxando um praticante de wakeboarding em um riacho:
Pois então: ela é uma das 31 que foram pintadas de amarelo Giallo Modena (os fãs do Uno Turbo conhecem esta cor muito bem). Oito F50 foram pintadas de vermelho Rosso Barchetta, um tom mais escuro; quatro de prata Argento Nürburgring, e quatro de preto Nero Daytona. O carro destas fotos, como você deve ter percebido, é uma delas.
Ela é ainda mais especial, pois é um dos dois únicos exemplares de especificação americana pintados na cor preta. Como se isto não bastasse, ele é o único que está rodando: o outro foi destruído em um acidente em 2013.
A F50 americana difere da europeia em detalhes estéticos: o para-choque dianteiro é ligeiramente mais protuberante, há repetidores dos pisca-piscas nas laterais e as lanternas dianteiras têm lentes âmbar, e não brancas.
No mais, os carros europeus e americanos são idênticos, o que significa que este carro tem um chassi do tipo monocoque de fibra de carbono e o câmbio manual de cinco marchas como componente estrutural. Os componentes da suspensão (duplo-A nos quatro cantos, com amortecedores ajustáveis da Bilstein) são fixados diretamente na carcaça do câmbio, como nos monopostos de Fórmula 1.
Aliás, o motor V12 foi desenvolvido a partir do motor de 3,5 litros e 690 cv da Ferrari 641, o carro com o qual a Scuderia competiu na temporada de 1990 da F1. Naquele ano, a categoria estava sob o domínio da McLaren e de Ayrton Senna, o que tornava o segundo lugar que a Ferrari conquistou naquele ano um grande feito.
Com bloco de ferro fundido, cabeçotes de alumínio, pistões forjados, bielas de titânio e virabrequim de aço, o motor é alimentado por um sistema de injeção eletrônica sequencial e é capaz de girar a até 8.640 rpm. A potência é de 520 cv a 6.500 rpm, enquanto o torque fica em 47,9 mkgf também a 6.500 rpm. É o bastante para chegar aos 100 km/h em apenas 3,7 segundos, com máxima de 325 km/h. O quarto-de-milha é cumprido em 12,1 segundos, a 198 km/h.
Era mesmo um carro e tanto. Não se parecia em nada com nenhuma das Ferrari contemporâneas e, apesar de manter as proporções gerais da F40, tinha uma estética totalmente diferene, trocando as linhas retas e o charme dos faróis escamoteáveis por curvas e lentes. Era, inegavelmente, uma Ferrari, trazendo até mesmo a linha preta percorrendo todo o perímetro do carro (que obviamente não se destaca neste exemplar preto), mas alguns fãs simplesmente não engoliram o visual do carro.
A Ferrari, evidentemente, sempre soube que a F50 era incrível. Na ocasião de seu lançamento, em 1995, Luca di Montezemolo (o presidente da marca), Piero Lardi Ferrari (o filho de Enzo), Sergio Pininfarina (o projetista da F50) e Niki Lauda (que, na época, pilotava para a Scuderia) estavam presentes.
Na verdade, para a fabricante, a Ferrari F50 era tão especial que ela não era vendida, e sim oferecida por leasing – uma especie de “contrato de aluguel” no qual você paga mensalmente para usar o carro e o devolve no prazo especificado. No caso da F50, era preciso pagar uma entrada de US$ 240 mil (em 1995), mais 24 pagamentos de US$ 5.600 e, ao fim de dois anos, mais US$ 150.000 para levar o carro para casa. No total, era preciso gastar mais de US$ 520 mil. É o equivalente a US$ 825 mil, ou R$ 2,6 milhões, em dinheiro de hoje.
A diferença é que, hoje, você pode comprar uma F50 como esta, uma das mais raras do planeta. A RM Sothebys vai leiloar este exemplar no próximo dia 20 de janeiro, durante um evento no estado do Arizona, EUA. A agência espera arrecadar algo entre US$ 3 milhões e US$ 3,5 milhões (por volta de R$ 9,7-11,4 milhões).