Picapes esportivas são veículos meio contraditórios: elas são veículos de trabalho, e não exatamente a melhor base para um esportivo. Ainda assim, as próprias fabricantes, às vezes, lançam caminhonetes com vocação para divertir, como a F-150 SVT Lightning. A primeira geração era equipada com um V8 de 5,8 litros e 240 cv. Não parece muito, mas era o bastante para chegar aos 100 km/h em 7,6 segundos com máxima de 180 km/h. Para o início dos anos 90, era um belo desempenho.
Para o dono desta picape, porém, ainda não era o suficiente. Fã dos modelos esportivos da Ford desde que se entendia por gente, ele já foi dono de diversos muscle cars do oval azul antes de comprar a Lightning, em 1999. Ele contou ao site Mustangs and Fords que decidiu comprar uma Lightning depois de pegar carona na de um amigo, e também porque precisava de uma picape.
Desde então, acredite se quiser, a Lightning de Bernal nunca deixou completamente de ser uma picape de trabalho — vez ou outra ele ainda a utiliza para carregar materiais para construção (ele trabalha com construção civil), entulho ou outros tipos de carga. Em compensação, a picape deixou de ser original em questão de meses, começando com a instalação de um kit stroker que aumentou o deslocamento do motor para 418 pol³ (6,8 litros) e de um compressor mecânico.
Nesta brincadeira (que ainda incluiu um intercooler ar-água e adaptações no coletor de admissão), a potência aumentou para 470 cv e o torque, para 78,8 mkgf. Contudo, este arranjo não durou muito — durante uma passada no dinamômetro, o motor explodiu.
Felizmente, não foi desta vez
Acham que Bernal desistiu? Jamais: ele simplesmente decidiu usar o que podia aproveitar do motor antigo para montar outro, ainda maior, usando apenas componentes de primeira. O bloco Windsor original recebeu um virabrequim forjado, de curso mais longo, da K1 Technologies; além de bielas Scat e pistões Probe com taxa de compressão de 9,5:1. Os cabeçotes são os AFR 205 Renegade e o comando no bloco é ainda mais agressivo.
Com o compressor mecânico Whipple 3.4 no topo, o V8 427 (sete litros) entrega 568 cv e impressionantes 92 mkgf de torque… ou ao menos foi o que o dinamômetro indicou até o momento em que o motor ficou sem combustível. O rendimento pode ser ainda maior, mas Bernal não fez mais testes. Talvez porque ele não tenha exatamente muita sorte com isto.
Bernal não teria comprado uma Lightning de primeira geração se não gostasse de seu visual, obviamente. Contudo, ele decidiu fazer algumas melhorias. Do lado de fora as modificações são poucas, porém marcantes: o capô recebeu um scoop do tipo cowl induction, a caçamba ganhou uma cobertura de fibra de vidro com spoiler integrado (e algumas luzes de neon debaixo dele) e as rodas da Lightning de segunda geração calçam pneus Nitto NT555 na dianteira e NT555R na traseira.
Os freios vieram de uma van E-150, com discos maiores e pinças de quatro pistões. O interior permaneceu praticamente original, com exceção da alavanca de câmbio (acoplada a uma caixa automática de quatro marchas E4OD), que saiu da coluna de direção e foi para o assoalho. A suspensão recebeu amortecedores ajustáveis da JDM, tudo para manter uma postura mais invocada.
O mais curioso, porém, é saber que de tempos em tempos a picape ainda é usada para transportar carga. E, pelo que seu dono conta, sempre dá um belo susto em qualquer pessoa que veja a caçamba carregada e, logo em seguida as marcas deixadas no asfalto pelos pneus.