Há alguns anos a Internet trouxe ao mundo uma descoberta preciosa: uma coleção de clássicos da Alfa Romeo, todos fabricados nas décadas de 60, abandonados às implacáveis marcas do tempo, no porão de um castelo na Bélgica. Na verdade, foi um fotógrafo quem revelou os carros que ficaram conhecidos como “Os Alfas Perdidos”.
Depois de circularem, por meio das fotos, por sites automotivos de tempos em tempos, os carros agora serão vendidos. E isto, por si só, já é incrível. Dizemos isto porque, desde que apareceram pela primeira vez em novembro de 2012, os Alfa Romeo da Bélgica fizeram por merecer o apelido que têm.
Tudo começou quando o fotógrafo Tim Knifton, de Newport, no Reino Unido, fez uma visita a um castelo abandonado “em algum lugar da Bélgica” e, em novembro de 2012, publicou as fotos em seu blog.
Knifton se define como um “explorador urbano”, algo que ele mesmo define como alguém dedicado à “captura de imagens de lugares abandonados e escondidos, documentando a decadência que a maioria das pessoas não teria a chance de ver”. Pois o mundo todo viu a coleção de Alfa Romeo abandonados no castelo belga, sujos e enferrujados, não deixando dúvida de que estavam ali, parados, havia décadas.
Ao total, seis carros foram encontrados pelo fotógrafo. Knifton não sabia dizer quais eram os modelos, mas logo a internet encarregou-se de identificá-los: um Giulia SS Sprint Speciale 1600, um Giulietta SS Super Sprint 1300, dois Giulia 1600 Spider e um 1300 Sprint, todos fabricados entre 1961 e 1964.
Knifton conta que entrou no castelo com alguns amigos, e que o proprietário não sabia disso. Ele ainda não sabia, mas tratava-se do Castelo de Heers (ou Kasteel van Heers, em belga). Construído no século 13, o castelo foi a moradia da família Rivière d’Arschot, famosa localmente, até o século 18. Seu mais famoso morador foi Raes van Heers, que em 1467 foi derrotado e exilado por Carlos, o Terrível, o Duque da Borgonha, depois da Batalha de Brustem, uma das mais importantes da história da Bélgica.
Quando morreu Barbara Rivière d’Arschot, a última descendente da família, em 1744, o castelo foi desocupado e abandonado no tempo. De acordo com o site Anonymous Decay, especializado em propriedades históricas abandonadas, em 1757 o castelo foi comprado por um homem chamado Jan Herman van Stokkem e restaurado. Avançando alguns séculos, os donos últimos donos do castelo foram os viscondes Michel e Ricardo Desmaisières, que o abandonaram em 2005 por falta de recursos financeiros para manter o local — e provavelmente os carros. Por isso, em 2008 a propriedade foi confiscada pelo governo Belga, que começou a restaurá-lo outra vez, mas nunca terminou.
É aí que a história começa a ficar um tanto confusa. Em novembro de 2012, um dos membros do fórum AlfaBB, dedicado exclusivamente aos Alfa Romeo, disse que os carros já não estavam mais no castelo, enquanto outro ia mais longe e dizia que alguns deles já haviam sido até mesmo enviados para a Holanda e restaurados (o tópico pode ser conferido aqui) – e apontavam como evidência um link do site holandês Autojunk.nl.
O link – que, curiosamente, datava de alguns meses antes da postagem no blog de Knifton – dizia que a propriedade havia sido confiscada pelo governo Belga e que o acesso até lá era “estritamente proibido”. Contudo, o próprio Knifton contou ao site Classic Driver, especializado em carros clássicos à venda, que o castelo foi “fechado permanentemente” desde a visita, e que provavelmente os carros foram trancafiados para sempre.
Desde então, até mesmo um vídeo, que provavelmente foi feito por um dos amigos de Knifton, também foi publicado na internet. A garagem escura, a luz da lanerna e a câmera trêmula dão um ar meio sinistro ao registro, mas também é possível ter uma noção do estado em que os carros se encontravam, acompanhados de caixas com peças sobressalentes como portas, pára-choques, lanternas, itens de acabamento e até motores inteiros.
O fato é que hoje, em 2015, os carros serão leiloados. A informação é do site Autoblog.nl, que diz que um companhia de leilões chamada Lussis está tomando conta da venda, que acontecerá no dia 20 de junho. O site da Lussis traz mais uma boa leva de fotos que, apesar de não serem tão bonitas quanto as de Tim Knifton, revelam mais detalhes dos carros e mostram que ao menos dois deles não estão em um estado tão ruim quanto pareciam.
Infelizmente o site não dá mais informações sobre os carros. Em compensação, as fotos mostram que além dos Alfa Romeo e das peças (que são muitas, muitas mesmo), havia no local outros três carros – um protótipo de competição que, de acordo com informações do mesmo fórum, foi usado por um dos membros da família em corridas nos anos 60 e um Honda Accord Coupe de segunda geração – e até algumas lanchas amarelas com o cavallino rampante da Ferrari.
Aparentemente o dinheiro do leilão será usado na restauração do castelo, que de acordo com um orçamento realizado pelo governo belga há alguns anos custaria cerca de € 28 milhões. O que esperamos, de verdade, é que o novo dono decida restaurar também o carros. Com tantas peças sobressalentes, talvez fique um pouco mais fácil…