De tempos em tempos, carros raros e até com um histórico famoso são encontrados à venda — recentemente, por exemplo, um dos Fuscas usados nas filmagens de Herbie Goes to Monte Carlo apareceu no eBay. Agora, quantas vezes você já viu um carro comprado por um dos mais famosos ditadores da história da humanidade, co-criador do Fascismo e aliado de Adolf Hitler?
Pois é exatamente o caso deste belíssimo Alfa Romeo 6C que, na verdade, foi um presente de Benito Mussolini, o Duce, a sua amante Clara Petacci — e o veículo que ela usou em sua última viagem antes de morrer.
O poderoso déspota comprou o carro antes do estouro da Segunda Guerra Mundial em 1939 e para ser utilizado exclusivamente por sua amante durante os anos de guerra que se seguiriam. Extremamente ciumento, ele também contratou o alemão Franz Spögler como chofer.
Trata-se de um Alfa Romeo 6C 2500 Sport Berlinetta, parte da última geração do 6C, que foi fabricado entre 1925 e 1954. Na última geração, apresentada em 1938, o motor era um seis-em-linha de 2,5 litros (daí o nome 6C 2500) de 110 cv. Não era muita coisa, mas era o suficiente para chegar aos 170 km/h — algo incrível no fim dos anos 1930. Contudo, existiam versões ainda mais potentes, com carburação tripla, 125 cv e a capacidade de passar dos 200 km/h.
Todos os carros tinham estrutura e mecânica fabricada pela própria Alfa Romeo em Milão, mas as carrocerias ficavam por conta de companhias chamadas carrozzerias — empresas que desenhavam as linhas do carro e as davam forma usando de métodos artesanais. A Carrozzeria Touring, por exemplo, desenvolveu o método Superleggera, que consistia em moldar os painéis de alumínio da carroceria sobre uma estrutura de finos tubos de aço.
Superleggera significa, de fato, “super leve” em italiano e, de fato a leveza da carroceria era uma das vantagens (e objetivos) — o outro era a possibilidade de criar formas variadas com relativa agilidade e muita habilidade. Hoje em dia, porém, raramente se usa o método para construir carros, visto que a estrutura não é forte o bastante para aguentar os componentes mecânicos e dispensar o chassi. Por outro lado, as formas obtidas através do método na época são inigualáveis.
Sendo um luzuoso cupê italiano de apelo esportivo e construção artesanal, dotado debelas formas e um ótimo desempenho para a época, não deve ter sido ruim usá-lo durante todo o período de conflito. Contudo o Alfa 6C de Clara Petacci, foi também o último carro no qual ela e o amante ditador andaram. Em abril de 1945, Mussolini e Petacci foram capturados por guerrilheiros italianos que eram contra a República Social Italiana, próximos ao Lago Como, região da Lombardia, no norte da Itália.
O casal havia arquitetado um plano para fugir da Itália, entrar na Suíça e, de lá, pegar um voo para a Espanha. Contudo, depois de capturados pelos guerrilheiros, Benito e Clara foram fuzilados no dia 27 de abril de 1945, e tiveram seus corpos pendurados de cabeça para baixo em Milão, para todo mundo ver.
Naquele mesmo ano acabava a guerra, e um oficial americano decidiu comprar o carro e levar para sua propriedade. Lá,ele o deixou guardado no galpão de uma fazenda no estado de Nova York, onde o carro ficou até 1970. Naquele ano o Alfa Romeo 6C foi comprado por um colecionador, que, desconfiado de que este poderia ser o carro de Clara Petacci, procurou o próprio Franz Spögler, que confirmou a procedência do carro. Depois disso, o colecionador deixou o 6C aos cuidados do renomado especialista em Alfa Romeo Francesco Bonfanti.
Depois de pronto, este pedaço de história sobre rodas apareceu em eventos como os Concorsos d’Eleganza de Pebble Beach e Villa d’Este nos últimos anos (e até vencendo alguns prêmios). E, em fevereiro do ano que vem chegará a hora de o Alfa Romeo 6C da amante de Benito Mussolini trocar de dono novamente: a RM Auctions o venderá durante um leilão em Paris e estima um preço final e pelo menos € 2,5 milhões — o equivalente a pouco mais de R$ 8,5 milhão. Por ser um carro com tanta história, não duvidamos nem um pouco de uma cifra ainda mais alta.