Certos carros são tão incônicos e têm sua imagem plantada tão fortemente entre os entusiastas que qualquer detalhe diferente já é algo interessante. Lembra daquela Ferrari F40 com bancos de couro de fábrica? Qualquer carro com bancos de couro seria algo normal, mas uma F40, que tinha apenas o mínimo necessário para ser um carro de rua? Incrível!
O mesmo acontece com o Porsche 959, o supercarro da marca nos anos 1980. A história você conhece: em vez de ser um carro frugal, com ênfase na simplicidade mecânica (V8 biturbo, tração traseira, câmbio manual com grelha e interior aliviado), o 959 era uma verdadeira máquina do futuro feita sobre a plataforma adaptada do Porsche 911.
Claro, ele também tinha um motor biturbo — um flat-six de 2,9 litros e 450 cv —, mas vinha com tração integral controlada eletronicamente, monocoque de alumínio com compósito de Kevlar, distribuição de torque variável, oito amortecedores na suspensão, um sistema hidráulico de ajuste de altura e até sensor de pressão nos pneus. Com isto tudo, era capaz de chegar aos 100 km/h em 3,6 segundos, com máxima de 314 km/h. São números de respeito até hoje, mais de três décadas depois.
O fato é que nenhum dos menos de 300 exemplares do 959 que foram feitos era conversível — algo que até ia contra a proposta de alto desempenho do antecessor do Carrera GT e do 918 Spyder. Ele era um super 911, uma vitrine de tecnologia sobre rodas e, naquela época, diferentemente de hoje, não era tão simples deixar um conversível tão rígido e seguro quanto um carro com teto fixo. Quer dizer, se você quisesse muito um 959 conversível e tivesse muita grana, talvez a Porsche até te fizesse um exemplar sob encomenda, mas não há registros de que isto tenha acontecido. Então, como explicar este 959 conversível à venda na Itália?
De acordo com a concessionária ADR Motorsports, o carro pertenceu ao piloto alemão Jürgen Lässig que já subiu ao pódio das 24 Horas de Le Mans duas vezes — ele chegou em terceiro em 1987 e em segundo em 1992, ao volante do Porsche 962C em ambas as ocasiões. Segundo consta, não muito depois de comprar seu Porsche 959 branco, ele se acidentou com o veículo em uma Autobahn. O carro tinha pouco mais de 8.000 km rodados.
Pouco depois, o carro foi comprado por uma empresa chamada Auto Becker, que decidiu restaurar o Porsche batido e transformá-lo em conversível.
Ainda que seja meio esquisito olhar para um 959 sem teto, não dá para dizer que o trabalho ficou mal feito. A capota é manual, de tecido, e o para-brisa agora é removível. A mecânica é completamente original. Ah, e o carro — que parece novo, convenhamos — está à venda!
O preço? US$ 1,1 milhão, ou R$ 3,9 milhões em conversão direta. É bastante dinheiro, sim, mas é esta a média pedida por qualquer exemplar bem conservado do 959. Dito isto, este aqui ainda acompanha o teto original (que vem em uma caixa enorme), caso o novo dono queira devolvê-lo à originalidade, e um para-brisa sobressalente, rebaixado como o do Porsche 911 Speedster. Com ele, o visual do carro fica até mais bacana.
Diga aí: você compraria um Porsche 959 batido que foi transformado em conversível ou guardaria a fortuna para comprar um original?