Se você acompanha sites, fóruns e grupos americanos na Internet, deve saber que existe uma boa quantidade de projetos que envolvem um Mazda RX-7 e um motor V8 LS. Embora o motor Wankel da Mazda seja incrível, com altíssima potência específica, um ronco inconfundível e funcionamento muito suave, algumas características suas acabam assustando os entusiastas – como o alto consumo de combustível e óleo e a manutenção que exige mão de obra mais especializada. Já o V8 LS é o oposto: facilmente encontrado em qualquer esquina, cheio de receitas de preparação consagradas, manutenção simples e robustez são seus pontos fortes.
Ainda não é assinante do FlatOut? Considere fazê-lo: além de nos ajudar a manter o site e o nosso canal funcionando, você terá acesso a uma série de matérias exclusivas para assinantes – como conteúdos técnicos, histórias de carros e pilotos, avaliações e muito mais!
Sendo assim, é compreensível que existam vários RX-7 com motor V8 LS debaixo do capô. Acontece que o youtuber e entusiasta Rob Dahm – aquele que sofreu um acidente com seu Lamborghini e decidiu fazer uma hilária encenação de “O Lobo de Wall Street” – resolveu seguir o caminho inverso, e colocar um motor Wankel em um Corvette. Não é qualquer Corvette, mas um C8 (que usa o motor LT, uma evolução do LS). E não é qualquer Wankel, mas um Wankel de quatro rotores.
Rob ainda não comprou o Corvette C8 – ele deve ser completamente maluco, pois vai comprar um Corvette zero-quilômetro e fazer o swap assim que o carro chegar. Mas o motor já existe, e Rob parece saber o que está fazendo, se o vídeo que ele postou em seu canal há cerca de uma semana é uma indicação.
Para começar, Rob lembra que há um precedente para este projeto. Em 1969, a Chevrolet começou a trabalhar em um projeto que consistia justamente em enfiar um motor Wankel de quatro rotores em um Corvette de motor central-traseiro – o chamado Aerovette, ou XP-895. Autorizado pelo próprio John DeLorean, que na época era engenheiro-chefe na GM, já naquela época o Aerovette tinha a missão de elevar o Corvette ao mesmo nível dos supercarros europeus.
O motor foi desenvolvido internamente pela Chevrolet, tinha 6,4 litros de deslocamento e entregava pelo menos 420 cv. Ele chegou a ser instalado e testado no carro, que ficou pronto em 1973, mas a Chevrolet acabou o substituindo por um V8 mais tradicional. No fim das contas, porém, o Aerovette foi cancelado – a Chevrolet achou melhor manter o layout de motor dianteiro, e o resto da história a gente já conhece.
A ideia de Rob é fazer um tributo ao Aerovette. Ou seja, não dá para chamar seu projeto de “heresia”. E a parte mais difícil – o Wankel de quatro rotores – ele já tem: o motor. Rob é meio que fanático pelo Wankel: ele já fez um Corvette C5 com motor de três rotores e mais de 700 cv e um RX-7 com motor de quatro rotores e mais 1.000 cv. O motor que ele vai colocar no Corvette foi montado em 2016 como mockup e plataforma de testes, e nunca havia sido imaginado como um motor funcional em um projeto de verdade. Até agora.
Este vídeo do RX-7 no dinamômetro dá uma noção do potencial de insanidade que um Wankel de quatro rotores proporciona:
Imagine um Corvette com motor central-traseiro, ronco de F1 e chamas saindo pelo escape. É isso que Rob quer.
Para conseguir, ele vai refazer o motor do zero, trocando todos os componentes originais Mazda por peças feitas sob medida – como o e-shaft (de “eixo excêntrico”, o virabrequim do Wankel), os invólucros dos rotores e os rotores em si – e um turbocompressor Garrett G57 que sequer foi lançado ainda, com rotor de 88 mm. Rob tomará um cuidado especial com o sistema de arrefecimento, instalando pelo menos dois radiadores de óleo. Isto porque, como ele explica no vídeo, cerca de 30% das trocas térmicas que ocorrem nos rotores de um Wankel são feitas pelo óleo.
Embora o Corvette C8 ainda não tenha chegado, Rob está usando seu Corvette C5 com motor Wankel de três rotores como laboratório – ele já conseguiu fazê-lo funcionar e, por mais que tudo esteja uma bagunça de chicotes e fios, é bem provável que isto lhe ajude a resolver a questão da parte elétrica do Corvette C8 com motor Wankel. Até porque ele provavelmente utilizará um sistema de injeção programável.
O novo Wankel de quatro rotores será montado quando o e-shaft e os rotores definitivos, que já foram feitos, chegarem do serviço de balanceamento. Rob vai aproveitar para também para abrir o motor que está em seu RX-7 e comparar dimensões e outros elementos dos dois projetos. Ele prevê que o serviço vai levar ainda cerca de um mês – tempo suficiente para que ele encomende seu Corvette C8 e, assim que o carro chegar à oficina, o swap possa começar. Ele diz que com certeza será um dos C8 mais insanos do planeta – e a gente acredita.
Sugestão do FlatOuter Carlos Almeida