É comum vermos projet cars impressionantes feitos por alemães, britânicos, americanos ou japoneses — em suma, dos grandes pólos da car culture mundial. No entanto, existem vários carros de derrubar o queixo em países mas “underground”, por assim dizer. O monstrinho da foto acima, por exemplo: trata-se de um Fiat 126 fabricado na Polônia e residente na Lituânia, um dos países que faziam parte da antiga União Soviética.
Pelos alargadores nos para-lamas e o tamanho das bitolas, nota-se que não é um carro normal. Claro, nada impede que as modificações sejam apenas estéticas. Mas, se fossem, provavelmente este Fiat 126 não estaria por aqui.
Quer dizer, não que o Fiat 126 não seja um carro legal — ele é, se você for do tipo que curte curte carros populares meio esquisitos. O 126 foi apresentado em 1972, no Salão de Turim, e a Fiat queria que ele fosse o substituto do carismático e bem sucedido Nuova 500 — o carro que hoje chamamos de “500 clássico”.
O que a Fiat fez foi simplesmente pegar a plataforma e a mecânica do Fiat 500 — um dois-em-linha de, no máximo, 594 cm³ e 23 cv — e dar a ela uma nova carroceria, mais moderna, que lembrava um Fiat 127 (versão italiana do nosso 147) em escala reduzida. No entanto, ainda que tivesse um estilo ultrapassado, o 500 ainda era um carro muito querido na Itália e continuou sendo produzido até 1975 ao lado do 126. Este, por sua vez, foi descontinuado na Itália em 1990.
Dito isto, a carreira do 126 foi bem mais longa. Isto porque, apesar de ter tido menos sucesso do que o esperado na Itália, o carrinho mostrou-se muito popular na Europa Oriental — tanto que foi fabricado pela Polski Fiat, divisão polonesa da fabricante italiana, de 1973 a, acredite, o ano 2000.
Foram fabricadas mais de 4,6 unidades do Fiat 126 nestes 27 anos. Sendo assim, as ruas da Lituânia e adjacências estão abarrotadas deles — são baratos, econômicos e suficientes para locomover-se na cidade. Também são mundanos o bastante para que ninguém se incomode quando alguém resolve fazer modificações extremas em um deles.
O que é ótimo para Tomas Nenartovic, o fotógrafo lituano que é dono deste Fiat 126 azul. Foi um processo longo, que começou em 2012 com um Honda Civic Si 1995 — modelo da quinta geração (código EH3), equipado com um motor de 1,6 litro com comando variável VTEC e 125 cv. Não se trata do famoso B16, que tinha comando duplo e 170 cv, mas também está longe ser ruim. Na verdade, trata-se de um motor confiável e girador — a potência máxima chegava às 6.600 rpm e o torque máximo de 15,3 mkgf, às 7.000 rpm. Além disso, acredite: é bem mais fácil de achar do que um B16.
De qualquer forma, pense com a gente: o Fiat 126 original pesa ridículos 580 kg — quase nada para um automóvel, verdade seja dita. Mesmo que o motor fosse totalmente original, 125 cv seriam mais do que suficientes para mover o carro com bastante desenvoltura. No entanto, Tomas queria algo mais. E assim, ele fez algo que alguns fãs da Honda não curtem muito (ainda que a própria Honda tenha feito isto com o novo Type R) : meteu um turbo no motor. A heresia já estava feita, mesmo! O resultado, de acordo com Tuomas, foram cerca de 170 cv.
Como no Fiat 500, o motor 126 fica na traseira e, bem, não há muito espaço para algo muito maior que um dois-cilindros de 600 cm³ ali. Sendo assim, Tomas não teve remorso ao fazer o que qualquer um (que seja maluco o bastante para transformar um Fiat 126 em um monstro) faria: picotou o carro todinho.
Os para-lamas foram alargados para acomodar as bitolas maiores provenientes da nova suspensão, que foi feita sob medida usando componentes do Civic. Na verdade, todo o eixo dianteiro do Honda foi devidamente adaptado e colocado na traseira do Fiat polonês — lembrando que o Civic de quinta geração tinha braços sobrepostos na dianteira e na traseira.
O carro já era azul e não estava exatamente em mau estado. Muito pelo contrário — estava bem apresentável antes das modificações, com todos os itens de acabamento no lugar e uma carroceria aparentemente íntegra. No entanto, sem pensar duas vezes, Tomas trocou a cor original por uma variação mais vibrante, fabricou na própria garagem alargadores de para-lamas (em metal, nada de fibra!) e “alisou” para-choques e emblemas.
Por dentro, o aspecto é propositalmente rústico — o painel usa elementos do Fiat e do Honda (o cluster de instrumentos, claro), há uma gaiola de proteção integral e o motor fica exposto para todos os que têm coragem de andar nele. E, bem, é preciso:
Que ronco, não? Infelizmente não há muito mais vídeos do carro em ação. O projeto foi concluído em junho de 2012 e, desde então, Tomas aparentemente focou-se em expor seu trabalho de fotografia automotiva. Há um álbum no Facebook com o histórico do projeto e o último vídeo havia sido publicado há mais de três anos…
… até junho de 2015, quando o vídeo acima começou a circular pela internet. Será que Tomas está aprontando mais alguma maldade?
[ Sugestão do leitor Renan Lopes ]