Não falta muito para que entremos na década de 2020, mas parece que foi ontem que chegamos aos anos 2000 – o tempo passa rápido, não? Nos anos 2000 a “fauna” automotiva brasileira era bem diferente, e um exemplo disto é a existência do Ford Fiesta Supercharger, lançado em 2002 como uma das versões do então novo Fiesta. Com motor 1.0 Zetec RoCam e compressor do tipo Roots fornecido pela Eaton, ele entregava 95 cv a 6.000 rpm e 12,6 mkgf de torque a 4.250 rpm – uma boa vantagem em relação à versão naturalmente aspirada e seus 66 cv, e quase a mesma potência da versão 1.6, que tinha 98 cv.
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Acontece que o Fiesta Supercharger tinha alguns problemas. Surgido como uma resposta ao VW Gol 1.0 turbo 16v, o hatch sobrealimentado da Ford custava quase a mesma coisa que o Fiesta 1.6 e oferecia desempenho semelhante, mas consumia mais combustível, e o nível de ruído do motor não era agradável para o consumidor médio. Além disso, o receio quanto à manutenção do supercharger (do qual a Ford recomendava a verificação do lubrificante a cada 120.000 km) e a existência da versão 1.6 acabaram tornando o Fiesta Supercharger um “mico” no mercado. Ele saiu de linha em 2006.
O supercharger Eaton fica meio escondido, no canto inferior esquerdo, ao
É preciso, contudo, dar o crédito ao Fiesta Supercharger porque, assim Gol 1.0 16v Turbo, ele foi um dos primeiros exemplos de downsizing no mercado brasileiro – algo que é a norma na indústria automotiva atual. Na época havia um bom motivo: os carros com motor de até 999 cm³ tinham 10% de desconto no IPI (o Imposto sobre Produtos Industrializados).
É realmente uma pena que o Ford Fiesta no Brasil não tenha a mesma veia entusiasta que tem na Europa, em especial no Reino Unido, onde as duas primeiras gerações são ícones entusiastas – em boa parte graças a suas versões esportivas, como o XR2 de segunda geração. Originalmente ele era movido por um motor 1.6 CVH, com comando no bloco de 1,6 litro e 96 cv. Não parece muito, mas estamos falando de um carro fabricado entre 1983 e 1989. Além disso, o comportamento dinâmico e o visual típico dos esportivos da época, com faróis auxiliares, molduras nos para-lamas e para-choques mais volumosos, eram dois excelentes argumentos.
E é justamente um Ford Fiesta XR2 o tema deste post. Trata-se de um projeto feito pelo britânico Liam Stolton, que trocou o motor original por algo bem mais forte: o Duratec de dois litros utilizado pelo Ford Focus ST170 – outro carro que adoraríamos ter visto no Brasil. Detalhe: Stolton instalou nele um supercharger da Eaton. Foi por isto que lembramos do Fiesta Supercharger brasileiro.
Liam Stolton já está tocando o projeto há mais de três anos – as primeiras imagens do carro em seu perfil no Instagram datam de agosto de 2015. No Reino Unido é relativamente a adoção do motor Duratec nos Fiesta antigos – é uma forma prática de adicionar potência a um veículo naturalmente leve, agradável aos olhos, fácil de encontrar e barato de comprar.
Além disso, o motor Duratec cabe no cofre do Fiesta Mk2 sem maiores modificações – não é preciso fazer nenhum corte no carro, e existem suportes feitos sob medida para a conversão à venda (embora seja possível adaptar os suportes originais). Até mesmo o câmbio original do Fiesta XR2 Mk2 é plug and play com o motor Duratec, o que facilita bastante o processo.
Suporte do motor original adaptado para a instalação do motor Duratec. Note o buraco no canto inferior direito – a placa de metal onde ele se encontra foi soldada ao suporte, sendo esta a única adaptação necessária
Desenvolvido em parceria com a Cosworth, originalmente o motor do Focus ST170 entrega 172 cv a 7.000 rpm, mas o supercharger instalado por Stolton eleva este número para 200 cv a 7.500 rpm – ao mesmo tempo em que adiciona um zumbido frenético à massa sonora produzida pelo sistema de escape direto. ]
A saída de escapamento foi deslocada para a lateral, à frente da roda traseira esquerda, como forma de evitar que a tubulação raspe contra o piso. O motor é ligado a uma transmissão Quaife IB5 sequencial, que leva a força do motor para as rodas dianteiras através de um diferencial de deslizamento limitado.
Sendo este um projeto de pista, o interior foi aliviado com a remoção de boa parte dos acabamentos internos, e pesa cerca de 850 kg. O Fiesta recebeu também uma gaiola de proteção integral, e o tanque de combustível selado foi instalado atrás dos bancos dianteiros, a fim de melhorar a distribuição de peso. O XR2 teve a geometria da suspensão refeita com a instalação de amortecedores ajustáveis do tipo coilover. O aspecto do carro faz estilo murdered out, com carroceria e rodas pretas, e ganhou uma dose extra de agressividade com um body kit feito sob medida em fibra de vidro.
Embora faltem mais detalhes sobre o projeto (como as medidas das rodas e pneus e a origem dos componentes da suspensão, por exemplo), é inegável que este Fiesta Mk2 “ST170 Supercharger” parece um verdadeiro deleite – e que tem um belo ronco para um quatro-cilindros. Não é à toa que o swap com o motor Duratec nas gerações Mk3, Mk4 e Mk5 também vem se popularizando no Brasil – e o carro de Liam Stolton pode, sim, lhe servir de inspiração.