O ano de 2014 está sendo o ano do Golf — primeiro, veio o Golf R Evo, com tração integral e 370 cv. Depois, mais dois conceitos — o Golf R400 e o Vision Gran Turismo. Além de tudo isto, é o ano em que o Golf completa 40 anos de existência — o primeiro Golf foi lançado em maio de 1974. Tudo isto torna o momento bastante propício para lembrarmos de um dos Golf mais insanos que existiram: o Artz Golf 928.
Bem, na verdade ele não é exatamente um Golf — apesar de parecer um Mk1 que comeu fermento. Na verdade ele é um Porsche 928 — o carro lançado em 1978 com o intuito de substituir o 911 mas, como tinha o motor no lugar errado (para um Porsche), acabou se tornando um grand tourer de luxo dentro da linha. E, apesar de ser considerado um “anti-Porsche”, ele até fez relativo sucesso e se tornou “cult”, sendo fabricado de 1977 a 1995 — quase 20 anos, e com o visual quase inalterado. Era definitivamente um carro à frente de seu tempo.
Quatro anos antes dele, era lançado o Volkswagen Golf na Europa. Sua missão? Substituir o Fusca (ou Käfer, se preferir). Como o Passat um ano antes, ele rompeu com uma tradição da VW ao pegar o motor e a tração traseiros e levar tudo para a frente, com uma carroceria de linhas retas e simpáticas e coluna traseira larga, projetada por Giorgetto Giugiaro. Deu certo, o carro se tornou o VW mais vendido de todos os tempos — e o segundo mais vendido entre todos os carros do mundo.
Pois estes dois carros têm mais em comum do que o fato de representarem mudanças drásticas na filosofia de seus fabricantes: eles se juntaram para criar um dos carros mais insanamente legais de todos os tempos.
Não se sabe ao certo como surgiu a ideia — o caso é que, em 1978, uma autorizada VW na alemanha chamada Nordstadt de colocar pegar toda a estrutura do Porsche 928 (incluindo o motor e o câmbio) e colocar sobre ela a carroceria modificada de um Golf — praticamente um engine swap ao contrário. Nossa aposta: por que eles podiam.
Na verdade, todas as peças da carroceria tiveram que ser modificadas para encaixar perfeitamente — além da grade, dos para-choques e dos vidros, que tiveram que ser feitos sob medida. O resultado foi um carro que era mais longo (ainda que a plataforma do 928 tivesse sido encurtada), mais alto e, principalmente, mais largo do que um Golf comum.
Talvez sem um Golf original por perto não desse para perceber, mas na estrada, em alta velocidade, não temos dúvida de que ele colocasse um ponto de interrogação piscante sobre a cabeça dos motoristas que aceleravam seus sedãs esportivos pelas Autobahnen. E, quando falamos “alta velocidade”, não estamos brincando. Dados de testes da época indicam que o carro ia de 0 a 100 km/h em 7,6 segundos e chegava aos 230 km/h — cortesia do V8 de 4,5 litros com comando duplo nos cabeçotes e 240 cv do 928, que naturalmente tinha sua força levada para as rodas traseiras.
O interior do 928 também foi mantido e, se querem saber, se encaixava feito uma luva no carro, o tornando mais confortável e luxuoso — ainda que o banco traseiro fosse mais apertado do que o do Golf. Mas, sinceramente, ao volante deste carro você iria se importar com o conforto de quem estivesse atrás?
Não se sabe ao certo quantos carros foram feitos — as informações que se encontram por aí dão números entre 2 e 20 unidades fabricadas. E quanto elas custavam? Günter Artz, o proprietário da Nordstadt (e que emprestou seu sobrenome para o carro) não revelava mas, em uma publicação da época, disse: “se você estiver realmente interessado, podemos negociar regados a um bom vinho!” Hoje em dia, contudo, o valor destes carros é inestimável — e faríamos qualquer coisa para dar uma volta!