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Carros Antigos

Este Plymouth Hemi ‘Cuda está praticamente zero-quilômetro e pode valer US$ 1 milhão

Uma verdadeira legião de entusiastas lamenta o fato de os carros antigos serem exatamente isto, antigos, e não poderem mais ser comprados novos nos showrooms das concessionárias. Claro, existem os restomods e recriações como o Mustang Revology (que é praticamente um ‘Stang novinho, licenciado pela Ford); mas e se você quiser o real deal, como se pudesse voltar no tempo e comprar um muscle car clássico, exatamente como saiu da fábrica?

Acredite: o Plymouth Hemi ‘Cuda 1970 que você vê na foto acima é o mais perto que você chegará disso: um dos últimos exemplares fabricados naquele ano (depois dele, só mais dez carros seriam feitos), ele passou por alguns donos ao longo destas quatro décadas e meia, mas todos eles tiveram o cuidado de rodar o mínimo possível enquanto seu valor ficava cada vez mais alto.

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Quer dizer, quase todos eles: o primeiro dono deste carro, que o comprou ainda em 1970, tinha um propósito bem mais nobre do que a mera especulação. Ele queria arrepiar nas arrancadas com o carro. Natural: muscle cars e arrancadas formam uma das combinações concebidas pelos deuses da velocidade quando criaram as corridas.

Seu nome era Bill Reardon, que morava na cidade de Clarkburg, West Virginia, no leste dos EUA. Era um tempo em que se podia entrar em uma concessionária e encomendar seu carro como quisesse. Reardon queria uma tela em branco, que pudesse transformar em um carro de arrancada que fizesse bonito nos quartos e oitavos de milha, e foi o que ele encomendou: um Plymouth ‘Cuda laranja com motor Hemi 426 – o famoso “Elephant”, de sete litros, com comando no bloco, dois carburadores Carter AFB e 431 cv. Um carro relativamente básico, sem direção hidráulica, diferencial Dana, freios a disco ou mesmo rádio – alguns por serem inúteis, outros porque seriam substituídos de um jeito ou de outro.

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Bill dirigiu o carro até em casa e imediatamente começou a realizar modificações para torná-lo mais rápido: molas mais firmes na dianteira, um carburador Holley de 1.100 cfm, um novo conversor de torque, escapamento direto e um par de instrumentos auxiliares no assoalho, além de um diferencial traseiro curtíssimo, de relação 5,88:1, no lugar do original de 3,23:1. E foi só isto: nada de gaiola de proteção ou quaisquer modificações na carroceria. Isto acabou se provando essencial para que o carro continuasse acumulando  valor.

O fato é que o dono original teve pouco tempo de para curtir o carro. Bill disputou 30 arrancadas com o carro antes de morrer, ainda em 1970, aos 62 anos. Em uma delas ele conseguiu cumprir o quarto-de-milha em 11,8 segundos, algo impressionante para um muscle car com mecânica quase totalmente stock, ainda mais em 1970.

A viúva de Bill estacionou o carro na garagem e decidiu que jamais o venderia… até sua morte, em 1977, pois o filho do casal, vendo que o Hemi ‘Cuda lhe trazia muita dor e saudades do pai, decidiu vendê-lo. Como conta um artigo publicado em 2006 na revista americana Mopar Action, o carro foi vendido por US$ 3.500 (o equivalente a cerca de US$ 21 mil, ou pouco mais de R$ 62 mil, em dinheiro de hoje).

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A partir daí o carro começou sua jornada, passando de dono em dono. Quando foi comprado pelo segundo, o hodômetro marcava 41 milhas (65 km), pouco mais da metade delas percorridas um quarto de cada vez, em linha reta.

Este segundo dono, Marvin, foi o responsável por devolver o ‘Cuda ao estado original, instalando as molas, carburadores e outros componentes originais. Por sorte, Bill tinha guardadas todas as peças em caixas, que ficaram por anos ao lado do carro e foram incluídas na venda. Por azar, as caixas acabaram danificando a pintura do carro, e Marv precisou mandar retocar. Contudo, a maior parte da pintura é original, e foi conservada com todo o cuidado por todos os proprietários.

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Foi um processo que durou seis meses, e o carro foi vendido logo em seguida por US$ 40 mil – valorização de mais de 1000%. A partir daí, o aumento no preço foi exponencial: depois de trocar de mãos seis vezes (sendo que a mesma pessoa o comprou em duas ocasiões diferentes, por pura especulação) o preço do Hemi Cuda era de US$ 365 mil. Os que o dirigiam, talvez só o tenham feito por não suportar a tentação – e, mesmo assim, o hodômetro nunca passou das 100 milhas (161 km), algo que comprometeria seriamente o preço do carro entre os colecionadores.

O carro foi vendido pela última vez em 2007, em um leilão da Barrett & Jackson. Na época, o ‘Cuda tinha 74 milhas (119 km) marcadas no hodômetro e foi arrematado por US$ 550 mil (ou cerca de R$ 625 mil em dinheiro de hoje). Desde então, o carro rodou um pouco mais, e o hodômetro marca 81 milhas. São 130 km, que fazem deste carro o Hemi ‘Cuda menos rodado de que se tem notícia. É quase um carro novo em folha.

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Isto ajuda a explicar porque, agora que será leiloado novamente, o ‘Cuda tem valor de arremate estimado em algo entre US$ 600 mil e US$ 800 mil (cerca de R$ 1,8-2,4 milhões). O leilão fará parte de um evento que acontecerá em Indianapolis entre os dias 12 e 17 de maio e, sinceramente, não duvidamos que desta vez alguém pague mais de US$ 1 milhão por esta máquina do tempo disfarçada de muscle car.