Lançado em 1976, o Porsche 924 inaugurou uma configuração completamente diferente para os esportivos de Stuttgart: pela primeira vez na história, um Porsche tinha motor dianteiro de quatro cilindros em linha. Apesar da aparente heresia, o projeto do 924 durou quase duas décadas, sendo aposentado apenas em 1995, quando o Porsche 968 (em essência, uma evolução mais potente e refinada do 924) saiu de linha.
Com as gerações mais antigas do 911 ficando cada vez mais caras, os Porsche de motor dianteiro estão sendo redescobertos pelos entusiastas. E tem gente se dando bem com isto. Os caras da companhia americana Motor Werks Racing, por exemplo, criaram um kit de conversão que coloca um motor Audi de 1,8 litro e 20 válvulas no cofre do 924. O detalhe é que, preparado, o quatro-cilindros pode render até 600 cv!
A princípio, pode parecer uma heresia sem tamanho. Colocar o motor do Audi A3 em um Porsche? Acontece que a ideia não é tão absurda assim. O Porsche 924 foi desenvolvido em conjunto pela Volkswagen e pela Porsche, e a primeira versão trazia no cofre o mesmo motor do Audi 100 – o VW EA 831, que também equipou as vans da série LT da Volks nos anos 70 e 80. Originalmente, o motor de dois litros com injeção Bosch K-Jetronic entregava 110 cv, o que não é nada mau para 40 anos atrás. Para hoje em dia… nem tanto.
Os caras da Motor Werks especializaram-se na manutenção, restauração, preparação e customização da família 924/944 e desenvolveram um kit de conversão para o motor 1.8 turbo 20v. E o carro que aparece nas fotos, com a pintura da John Player Special, recebeu a versão mais potente de todas. Como se não bastasse, ele ainda ficou lindão, não é?
De acordo com a MWR, a conversão é extremamente vantajosa em confiabilidade e desempenho, e este foi o principal motivo para a escolha do Audi 1.8 turbo como “instrumento de trabalho”. Além disso, é um projeto bastante familiar, tendo sido usado em diversos modelos da gama Audi/VW. Ah, e também é um motor mais leve: enquanto o 2.0 turbo do Porsche 944, por exemplo, pesa 195 kg e entrega 217 cv, o novo motro pesa 102 kg e pode entregar algo entre 275 e 600 cv (falaremos disto mais adiante).
Neste caso, trata-se de um Porsche 944 turbo 1982 que foi transformado em um 924 GTP, versão de corrida que competiu nas 24 Horas de Le Mans em 1981. O carro recebeu para-lamas alargados, novo para-choque dianteiro e, claro, a pintura da JPS. Também teve o interior aliviado e ganhou uma gaiola de proteção integral. O visual é simplesmente matador, não há como dizer outra coisa.
A cereja do bolo, porém, é mesmo o motor, que recebeu o estágio 3 do kit de preparação da MWR. Isto significa que o quatro-cilindros agora tem bielas forjadas, taxa de compressão mais alta, sistema de alimentação retrabalhado com novos injetores e coletor de admissão, um turbocompressor Borg Warner EFR, coletor de escape feito sob medida, novo trem-de-válvulas e módulo de controle personalizado, com interface OBD II. O câmbio manual de seis marchas fica montado no eixo traseiro, e é igual ao utilizado pelo Porsche Boxster/Cayman da geração passada.
No momento, o motor entrega cerca de 560 cv (com corte de giro a 8.500 rpm, o que também impressiona) mas a MWR diz que é possível calibrá-lo para render mais de 600 cv sem prejudicar sua confiabilidade. O carro ainda tem suspensão e freios da geração 996 do Porsche 911, mais apropriados para o novo padrão de desempenho.
Isto dito, se mais de 550 cv forem exagero para você, a MWR também oferece os estágios 1 e 2 do kit de preparação para o motor 1.8 turbo. O estágio 1 eleva a potência do motor para 275 cv e o estágio 2, para 385 cv. Estes foram instalados em outros exemplares do 924/944, que também receberam pinturas de corrida históricas – Gulf Oil, Martini Racing, Lowenbrau, Marlboro e Castrol, por exemplo. Os carros fazem parte da Motor Werks Racing Heritage Tribute Collection e, ao que parece, estão todos à venda, prontos para competir.