Imagine um repelente de líquidos tão forte, mas tão forte que não apenas a água (ou qualquer outro líquido, inclusive óleo) se torna incapaz de umedecer o objeto, mas também sequer consegue se manter ou criar rastros sobre a sua superfície, quase como se fosse sólida. E mais: que seja extremamente fácil de aplicar (por spray ou apenas com um pano úmido), que tenha aparência invisível, permitindo a aplicação em latarias e vidros, e que ainda seja flexível a ponto de poder ser usado em tecidos.
Parece papo de ficção científica ou algum delírio do Cascão, mas os produtos superhidrofóbicos e oleofóbicos existem e vieram para ficar. Se eles são extremamente versáteis para cozinhas e hospitais (facilitam a limpeza e dificultam a reprodução de bactérias) e para a indústria (substâncias como graxa e barro não conseguem impregnar as vestimentas e o piso), na verdade os car lovers estão pensando em outra coisa – especialmente os antigomobilistas. Assista ao vídeo e segure o queixo:
Na prática, o vidro líquido forma uma camada de escala nano-molecular (100 nanômetros – cada nanômetro equivale a um milionésimo de milímetro) sobre a superfície aplicada, composta de moléculas de dióxido de silício (SiO²), elemento que forma a areia de quartzo puro. Esta camada forma uma trama microscópica que impede a passagem de moléculas grandes – e isso inclui a própria água, mesmo em superfícies porosas. E por ser tão fina, é invisível e pode ser aplicada em vidros ou em superfícies metálicas sem alterar sua aparência.
Sim, os gearheads já estão pensando em uma infinidade de aplicações: para-brisas, assoalhos, bancos, rodas, praticamente tudo que não necessite de lubrificação. Veja o que diz o site da DPM Tecnologia, representante nacional do Ecoglas.
Ecoglas é ideal para a proteção de carros e motos. As rodas de liga leve se tornam fáceis de limpar e livres de manchas, assim como a poeira do freio não queima dentro do revestimento. A lataria exterior do carro e os tanques de combustível ficam protegidos por uma camada lustrosa, fácil de limpar e resistente a abrasão. Os assentos se tornam resistentes a manchas e os odores são reduzidos significativamente, especialmente se for utilizada a variante antimicrobiana. Talvez a vantagem mais significativa seja que todas as janelas e os parabrisas podem ser revestidos com uma película superfóbica indetectável altamente durável que aumenta incrivelmente a visibilidade e a segurança quando se está dirigindo sob forte chuva. Alguns de nossos revestimentos para automóveis são certificados pelo Grupo TÜV Rheinland.
A DPM oferece várias linhas do Ecoglas: há produtos para minerais e madeira, para vidro e cerâmica, para metais, para plásticos, para tecidos. Para a área automotiva, a DPM recomenda três produtos. O foco atual da empresa está nas vendas para empresas e indústrias – mas eles fazem exceções com embalagens de um litro e estão planejando criar pacotes menores, destinadas ao consumidor final. Já fica o aviso: ao contrário do que Walter Longo disse no vídeo, o vidro líquido não é nada barato.
Para a carroceria – Ecoglas Pro Polidor: trata-se de uma mistura de cera polidora com o dióxido de silício, com consistência de um líquido bastante viscoso, quase pastoso. A menor embalagem é de um litro, suficiente para de entre 7 a 10 carros, com o preço de R$ 500.
Para vidros e para assoalhos pintados – Ecoglas Vidro e Cerâmica: à base de álcool, tem consistência líquida e rápida secagem. Pode ser aplicado na parte externa de assoalhos pintados e bem acabados com maior facilidade do que a cera líquida, pois este produto pode ser pulverizado. O grande cuidado é com a preparação, que precisa ser totalmente desengordurada (com, por exemplo, detergente neutro), limpa e seca. “Como a ligação com a superfície se dá em escala molecular, qualquer grão de água ou de areia que esteja na superfície vai resultar na falta de proteção naquele ponto em específico”, afirma Paulo Loria, diretor da DPM. A embalagem de 1 litro também custa R$ 500, com rendimento para área envidraçada de cerca de 20 carros.
Para tecidos – Ecoglas Tecido: o preço é de R$ 400 pela embalagem de um litro, suficiente para até quatro carros – o rendimento é menor por causa da absorção do tecido. Loria afirma que a aplicação em couros naturais e sintéticos tem proteção limitada, devido às características mais instáveis desta superfície, que se expande e enruga.
Aproveitei o papo com Paulo Loria para fazer outras perguntas.
FlatOut: O produto é inflamável quando seco? Pode ser aplicado no assoalho de carros antigos, ou seja, com proximidade dos canos de descarga, ou no cofre do motor?
Paulo Loria: Quando seco, todos não apenas não são inflamáveis como ainda podem retardar a chama, por criar uma camada com o mesmo composto do vidro e da areia. Contudo, o Ecoglas Vidro e Cerâmica, por exemplo, é à base de álcool, então é preciso algum cuidado na aplicação. Mas depois de seco, sua camada é igual à dos outros produtos: com cerca de 100 nanômetros e não é inflamável. A temperatura funcional do Ecoglass é de alguns graus negativos para mais de 100 º C.
FO: Qual o tempo de secagem e a temperatura ideal para aplicação?
PL: O de tecido é o que demora mais, exigindo de entre 8 a 12 horas após aplicação. O Polidor e o Vidro e Cerâmica já se consolidam com uma hora após a aplicação, e ficam 100% estáveis após cerca de cinco horas. Evite aplicar sob o sol, principalmente o Vidro e Cerâmica, porque o álcool evapora e o produto vai render menos. A temperatura ambiente ideal de aplicação é de entre 5 a 30º C.
FO: Qual a validade do produto e a durabilidade da aplicação?
PL: Após a data de fabricação, o Polidor dura cinco anos, o Vidro e Cerâmica, dois anos, e o Tecido, um ano e meio. Quanto a durabilidade, é algo entre um e três anos – o grande inimigo é a abrasão. No caso de um carro, a aplicação no para-brisa dura de seis meses a dois anos (carros antigos, com pouco uso), e na lataria e no tecido, de entre um a dois anos.
Outras opções
Agora, se você achou o Ecoglas muito caro, saiba o seguinte: você consegue encontrar alternativas mais em conta lá fora. Mas não existe almoço grátis: fora os impostos e o custo e prazo do frete, as opções mais baratas deixam a superfície tratada bastante esbranquiçada e porosa, como o Ultra Ever Dry (US$ 35 o litro, sem incluir o fundo e o acabamento exigidos). O NeverWet custa US$ 17 o meio litro, mas tem sérios problemas de adesão, de acordo com este teste do Gizmodo. Estas podem ser alternativas bacanas para locais pouco visíveis e de pouca abrasão.
A alternativa equivalente ao Ecoglas é o inglês Liquid Glass Shield (vídeo abaixo), que usa componentes e nanotecnologia similares. Mas seu preço é ainda mais caro que o Ecoglas: o litro do Liquid Glass Shield Hard Surface custa insanos £ 199,95, ou cerca de R$ 790 – mais frete e impostos.
Em resumo, qualquer superhidrofóbico de qualidade, que resulte em uma superfície tratada com acabamento invisível, é muito cara, restringindo o seu uso aos mais fanáticos. Como disse lá em cima, a DPM está desenvolvendo uma linha da Ecoglas voltada para o consumidor final, com embalagens mais compactas e preços menores, que será lançada ainda este ano. Até lá, dá para rachar a embalagem industrial com os amigos. Não é nada barato, mas os carros com síndrome de Cascão agradecem. E, claro, resta saber na prática quanto tempo a proteção dura mesmo. Alguém aí já experimentou?
Serviço
DPM Tecnologia / Ecoglas
Site: http://dpmtecnologia.com.br/site/ecoglas/
E-mail: [email protected]
Telefone: (21) 2711-0009