É difícil resistir à tentação de colocar um motor de supermoto em um carro pequeno. Eles são giradores, roncam bonito, entregam bastante potência e são mais do que suficientes para que compactos, kei cars e coisas do tipo se transformem em verdadeiros Davis conta qualquer Golias com motor V12 biturbo de 1.500 cv.
Ok, a gente exagerou. Bastante. Mas dá para nos culpar? Este tipo de projeto é mesmo bem bacana, mesmo que o motor venha de uma moto comum, e não de uma supermoto. Mas é que carros pequenos e leves com motores giradores e barulhentos têm um belo apelo, é inegável. E este pequeno Suzuki Cappuccino equipado com o quatro-cilindros em linha de uma Suzuki Hayabusa peparado para entregar pelo menos 350 cv nas rodas é a mais nova evidência de que estamos falando a verdade.
Quer dizer, não é um projeto exatamente novo — o vídeo abaixo foi publicado no Youtube há cerca de três anos, e já mostra o carro montado e funcionando. No entanto, a gente ainda não conhecia. Afinal, são tantos os carros bacanas que vemos por aí todos os dias…
O Cappuccino foi um kei car esportivo (sim, é possível!) fabricado e vendido no Japão entre 1991 e 1997. Com visual que lembra um filhote de Mazda Miata e Dodge Viper com nanismo, o Cappuccino era movido por um três-cilindros turbo de 657 cm³ com turbo e 63 cv, tinha tração traseira e câmbio manual de cinco marchas disponível. Não ouse dizer que este conjunto não ficava divertido em um roadster minúsculo que pesava apenas 725 kg.
Mas tem gente que sempre que mais, e não podemos culpá-los por isso. Os caras da preparadora britânica Z-Cars, por exemplo — ou melhor, um cliente deles, que pediu para que eles transformassem seu Cappuccino em um esportivo de respeito. A solução encontrada foi colocar nele o tal do quatro-cilindros da Suzuki Hayabusa, além de modificar suspensão e detalhes estéticos a fim de impor mais respeito por seu tamanho.
Aliás, a Z-Cars (pronuncia-se “Zed Cars”, pois estamos falando de ingleses) é a mesma companhia que transforma o Mini Cooper clássico em um pequeno devorador de supercarros ao colocar um motor de superbike atrás dos bancos — a gente até falou deles aqui, portanto, seu trabalho não é novidade.
No caso do Cappuccino, porém, a proposta não foi mudar a essência do carro, e sim explorar ao máximo seu potencial. Assim, o motor continua sendo dianteiro, porém ocupa quase todo o cofre com seu 1,3 litro de deslocamento (o dobro do deslocamento do motor original, que deixava bem mais espaço). O quatro-cilindros todo de alumínio com comando duplo no cabeçote respira melhor com a ajuda de um turbocompressor Garrett GT28 RS com intercooler e recebeu um módulo de controle programado sob medida, além de pistões e bielas forjados. O resultado foi um belo ganho de força: de pelo menos 155 cv (que correspondem à potência das primeiras versões da Hayabusa), para 380 cv aferidos no dinamômetro.
Quem se encarrega de levar a cavalaria para as rodas traseiras é a caixa sequencial de seis marchas controlada por borboletas Geartronics atrás do volante, bem como o diferencial de deslizamento limitado Elite Racing MX200, que conta com um sistema de marcha a ré operado mecanicamente. Na prática, o piloto escolhe a direção desejada (para a frente ou para trás) e pode ir mudando as marchas normalmente. Ou seja: dá para andar o tempo todo de ré. Mas é claro que você não vai querer fazer isto, não é?
O carro teve os para-lamas alargados para acomodar as novas rodas, que são bem avantajadas (especialmente as traseiras, com 10” de largura!); ganhou um body kit mais agressivo e, por dentro, bancos concha e painel digital. Mas não é só beleza e força bruta: a dirigibilidade também recebeu atenção e o carro tem subchassi traseiro e conjunto de molas e amortecedores feito sob medida. Afinal, não basta chegar aos 100 km/h em menos de três segundos, aos 160 km/h em cerca de 6,5 segundos e continuar acelerando até os 230 km/h: é preciso fazer curvas direito. A gente não duvida que ele faça.
E, de qualquer forma, este Cappuccino definitivamente não é o primeiro carro pequeno a receber um motor de supermoto. Olha só:
O carinha aí em cima você provavelmente já conhece – ou, ao menos, algum de seus “irmãos”. Isto porque é muito comum que se coloque o motor da Hayabusa (ou de qualquer outra superbike, na verdade) no Smart da geração passada – que, pensando bem, parece ter sido feito para isto, pois já tem motor central-traseiro e entre-eixos curto. Não é à toa que, normalmente, os Smart com motor de Hayabusa (ou “SmartBusa”, o apelido mais óbvio que já vimos) costumam ser usados em arrancadas.
Por outro lado, há quem prefira colocar o motor da Hayabusa na traseira de pequenos modelos da Fiat, como o 126 e o 500. E você também já viu alguns desses por aqui – como o azulzinho aí em cima, que é quase tão largo quanto é comprido e também ganhou um motor 1.3 de Hayabusa na frente do eixo traseiro. E ele corre tanto que o vídeo parece ter sido acelerado mas, acredite, não foi!
E esta aqui: a não ser que você seja Jeremy Clarkson, o Golf de primeira geração não é pequeno a ponto de ser considerado um minicarro. Mas ele é bem pequeno e, todo depenado, com para-lamas bem largos e um estranho kit aerodinâmico, dá uma incrível cadeira elétrica para subir montanhas se um motor de Hayabusa entrar na equação.
Falando em Golf, que tal um carrinho de golfe com motor de Hayabusa? É praticamente motor, rodas e volante e bem… muita vontade de morrer, não é?