Enquanto os fãs da Fórmula 1 se lamentam pelo modo como a categoria ficou sem graça nos últimos tempos, quem curte ralis não tem muito do que reclamar: embora o WRC não tenha os mesmos ícones dos anos 1980 e 1990, a categoria segue extremamente competitiva e deliciosa de assistir. Nós gostamos das duas e, de verdade, acabamos aprendendo a apreciar o modo como as corridas de carro evoluíram com os anos. É preciso se divertir com o que se tem.
Dito isto, ficamos encantados quando vimos este vídeo de rali das antigas feito no Brasil. Mais precisamente, da edição de 1990 do Rally da Graciosa, tradicional rali de velocidade cuja primeira edição aconteceu em 1980. Parte dos campeonatos Parananaense e Brasileiro de rali de velocidade por anos, a prova aconteceu na Estrada da Graciosa, que liga a capital paranaense Curitiba às praias do estado, passando por dentro da Mata Atlântica.
Sempre considerada uma das mais emocionantes do rali nacional, a prova da Graciosa aconteceu até 1999 em seu percurso original e, ao longo destes 19 anos, tornou-se uma das favoritas dos pilotos por sua semelhança com os percursos europeus de rali, com curvas sinuosas; piso de asfalto, paralelepípedo e terra; e muitas variações de relevo, além de trechos urbanos que propiciavam um ótimo acesso para o público e, consequentemente, possibilitavam filmagens como esta:
Repare como as pessoas faziam comentários totalmente leigos a respeito do desempenho dos carros. Se alguém freava muito antes de uma lombada ou curva cega, logo era vaiado pelos espectadores. A pressão devia ser enorme
Se o seu negócio é ver carros nacionais preparados para rali acelerando de verdade, você vai curtir demais estes 26 minutos. O Volkswagen Gol é maioria absoluta, sem dúvida, mas outros representantes da família, como o Voyage e a Parati, também aparecem com frequência. Menos comuns são carros como o Fiat 147 e o Oggi, o Chevrolet Chevette e o Kadett, ou mesmo alguns modelos vendidos apenas nos países vizinhos, como Paraguai e Uruguai como o Renault 18.
Normalmente usando preparação naturalmente aspirada, que envolvia troca de comandos de válvulas, adoção de relações mais curtas no câmbio, carburadores maiores, cabeçotes com melhor fluxo e outras técnicas feitas com o que havia disponível na época. Os patrocinadores costumavam ser empresas menores, de atuação regional (com exceções, claro), e alguns carros sequer eram patrocinados, e sim inscritos e bancados pelos próprios participantes.
O rali continuou depois de 1999, porém, as autoridades locais começaram a dificultar cada vez mais a concessão do trecho para realizar as provas. O motivo eram questões ambientais: o trânsito de automóveis e pessoas e a instalação de toda a infraestrutura necessária para a realização do rali interferia na vida da fauna e da flora locais, especialmente na Mata Atlântica, incluindo espécies em extinção. Por esta razão, a prova deixou a estrada da Graciosa e passou a acontecer apenas em outras estradas da região. Foi assim até 2015, quando os organizadores finalmente conseguiram uma nova autorização para disputar o Rally da Graciosa na estrada que lhe deu nome.
Não é tarefa simples encontrar informações sobre a história do evento, mas isto é parte da beleza do Rally da Graciosa: uma competição bastante radical, pois se trata de um dos poucos ralis de velocidade com trechos urbanos no Brasil. Assistir às provas das antigas traz à mente os ralis europeus, com o público perigosamente próximo dos carros em alta velocidade e as construções da cidade ao fundo. Não dá para não ficar nostálgico (mesmo eu, que nem era nascido ainda quando o vídeo foi gravado, fiquei).
Filmagem da edição de 2005
Agora, uma coincidência: ao pesquisar por vídeos e fotos do Rally da Graciosa, você pode topar com images feitas em Portugal. É porque lá também existe um Rally da Graciosa, porém realizado na Ilha da Graciosa como parte do Campeonato de Rali de Açores. E, veja só, também é um rali de velocidade em estradas de montanha e trechos urbanos cobertos com paralelepípedos:
Dito isto, um rali internacional bastante parecido com a prova brasileira era o Rali Paraguayo que, pela proximidade com nosso País, também contava com a presença de carros comuns no Brasil, como o VW Voyage e o Fiat Uno:
Dica do leitor Marcos Amorim