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Car Culture

Estrela de “Grand Prix” morre aos 86 anos: ator e piloto James Garner e o filme mais realista sobre F1

Na manhã do último domingo o mundo acordou com a triste notícia da morte do ator James Garner. Ele tinha 86 anos e morreu de causas naturais em sua casa na Califórnia. Garner ficou mais conhecido por seu papel na série (e depois no filme) Maverick, na qual interpretava um jogador de pôquer do Velho Oeste, mas para universo gearhead ele sempre será o piloto Pete Aron, de Grand Prix, o clássico filme de 1966 ambientado no circo da Fórmula 1.

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Foi em Grand Prix que Garner pegou gosto pelos carros, a ponto de dispensar dublês para as cenas de ação, e mais tarde, decidiu disputar corridas pelos EUA e América do Norte. Ele chegou a disputar o Baja Rally com um Oldsmobile 442 e as 24 Horas de Daytona entre 1969 e 1971 e se tornou um ícone gearhead, especialmente com o passar dos anos e o apelo cult que o filme ganhou nas últimas décadas.

Curiosamente, a participação de Garner em Grand Prix aconteceu por acaso. Quem estava escalado para o papel de Pete Aron era, na verdade, Steve McQueen, gearhead de primeira e que também dispensava dublês para cenas de pilotagem, como fez em “Fugindo do Inferno” (The Great Escape – 1962), onde contracenou com Garner.

Durante as negociações para integrar o elenco, McQueen e Eddie Lewis, sócio do diretor John Frankenheimer, se odiaram logo de cara, e McQueen mandou John e “esse tal de Grand Prix” às favas. Frankenheimer não parecia fazer muita questão de ter Garner como ator, mas sua contratação foi uma imposição do estúdio depois do desentendimento com McQueen. No fim, John Frankenheimer aceitou, e ele e James acabaram se dando muito bem. Dizem que McQueen só foi assistir ao filme dois anos mais tarde, e por insistência de seu filho Chad.

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Talvez por ter substituído McQueen, Garner decidiu fazer aulas de pilotagem para dar vida a Pete Aron na trama. Ele se inscreveu na escola de pilotagem de Carroll Shelby e teve aulas com o piloto de F1 Bob Bondurant a bordo dos GT350 de Shelby.

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Garner aprendendo o tangenciamento de curvas com Bondurant

Assim como “As 24 Horas de Le Mans” (Le Mans – 1971), a trama de Grand Prix não tem muitos segredos da sétima arte: a história se passa na temporada de F1 de 1966 e se baseia na relação de quatro estrelas ficcionais da categoria: Jean-Pierre Sarti, da Ferrari, um francês bicampeão do mundo no fim de sua carreira; Pete Aron, um americano decadente que quer dar a volta por cima; Scott Stoddard, um britânico que se recupera de um grave acidente em Mônaco; e Nino Barlini, um novato italiano que já fora campeão de motociclismo — claramente inspirado em John Surtees.

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Garner entre Graham Hill e Jo Bonnier

O filme também tem a participação de grandes nomes da F1 da época, como Phil Hill e Graham Hill, que também ajudaram a gravar cenas onboard. No caso do personagem Scott Stoddard, quem gravou algumas das cenas onboard foi ninguém menos que Jackie Stewart — e é por isso que o piloto sempre aparece com uma espécie de máscara nas cenas (primeira foto abaixo). Na época ela era usada para não acabar com a cara preta de fumaça e sujeira, mas no filme ela foi conveniente para ocultar o rosto dos pilotos de verdade.

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Mas como dito antes, James Garner foi à escola de pilotagem para atuar no filme, e é por isso que ele é o único piloto que aparece de cara limpa acelerando para valer nas cenas de ação. Além disso, ele também protagoniza uma das raríssimas cenas do cinema onde o ator está dirigindo (ou pilotando) com a postura correta, como nesta sequência a bordo de um Shelby GT350 Hertz, usado para um passeio com a esposa de seu companheiro de equipe pela costa da França. Nessa sequência você vê o carro “pendurado” nas curvas e se ouve os pneus cantando. Sem colagens nem projeções em fundo verde: Garner mostrou que seu curso valeu cada minuto investido.

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Confiante, Garner dispensou dublês e decidiu guiar os carros (que eram modelos de Fórmula 3 caracterizados como Fórmula 1) mesmo nas cenas mais perigosas, como no acidente do GP de Brands Hatch, quando seu carro pega fogo. Mais adiante no filme, é possível ver uma cicatriz no pescoço de Garner. Ela foi causada na gravação do acidente e por conta isso a seguradora cancelou a apólice do ator, que fez os últimos 45 dias de filmagem sem cobertura.

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Como resultado, Grand Prix é considerado até hoje (ou ao menos até o lançamento de Rush) a melhor representação da Fórmula 1 nos cinemas. A sequência de abertura do filme é algo realista como jamais visto até hoje:

Parte disso se deve à direção de John Frankenheimer, que presenteou o público com cenas do funcionamento dos carros e da movimentação da categoria durante os Grandes Prêmios, mas sem dúvida nada disso faria muita diferença sem um ator que soubesse o que estava fazendo como foi Garner. O próprio Bob Bondurant foi um dos que elogiaram a atuação de Garner no filme:

Acho que Garner fez um belo trabalho ao volante. Ele era suave e veloz. Se tivesse competido de verdade teria deixado muita gente para trás”. 

Outro que se entregou ao trabalho de Garner foi o diretor do filme, John Frankenheimer:

Acredito, honestamente, que se Garner tivesse decidido ser piloto quando jovem, teria feito uma grande carreira”. 

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