Os carros estão mudando, e isto naturalmente inclui os superesportivos – eles nunca foram tão potentes, velozes e cheios de tecnologia como hoje. Conjunto híbrido, câmbio de dupla embreagem, múltiplos modos de condução, suspensão e aerodinâmica ativas são alguns dos elementos que se encontra na maioria dos supercarros atuais. Alguns até abriram mão da tração traseira para apostar na tração integral, algo que contribui para o desempenho em arrancadas e retomadas.
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Embora jamais tenham ficado mais alcançáveis financeiramente, os supercarros de fato se tornaram mais acessíveis do ponto de vista técnico – os assistentes eletrônicos estão mais avançados do que nunca e, até certo ponto, podem ajudar condutores menos experientes a acelerar na pista sem se matar ou causar prejuízos a si mesmos e aos outros.
Isto tudo posto, não falta quem exalte os superesportivos orgânicos do passado – quando os três pedais ainda eram a norma e babás eletrônicas não tinham vez. Embora nunca tenham deixado de sê-lo, os supercarros eram ainda mais perigosos há 20 ou 30 anos, e muitos entusiastas dizem que eles era melhores assim. É uma visão meio romantizada, mas explicada pelo apelo de um supercarro totalmente analógico, de raiz, com fama de indomável.
Em parte, é graças a este apelo que a TVR é cultuada por fãs de carros no mundo todo. A fabricante britânica foi fundada em 1946 e, nos anos 1960, fez fama com seus esportivos compactos, leves, bonitos e bons de guiar. Nas décadas que se seguiram, a TVR especializou-se em fabricar carros selvagens, reputação que atingiu seu auge nas décadas de 1990 e 2000. Modelos como o TVR Cerbera, o TVR Griffith e o TVR Sagaris eram vistos como alguns dos mais selvagens esportivos de seu tempo.
Nenhum deles, contudo, era tão selvagem quanto o lendário TVR Speed 12, evolução do Cerbera que era movido por um motor V12 de 7,7 litros – feito a partir de dois motores seis-em-linha Speed Six unidos pelo virabrequim – capaz de entregar até 960 cv. Apresentado em 1996, o TVR Speed 12 quase chegou a ser produzido em série, mas até mesmo Peter Wheeler, presidente da companhia na época, chegou à conclusão de que ele era selvagem demais para rodar em vias públicas e devolveu todos os depósitos antecipados que haviam sido feitos. Sobraram alguns protótipos, mas sua melhor chance de conduzir um TVR Speed 12 ainda são os games – em especial Gran Turismo 2 e os títulos seguintes da franquia. Onde o supercarro é praticamente incontrolável.
Acontece que existe um pessoal que, em pleno 2019, está dedicando todos os seus esforços a tornar realidade o sonho do TVR Speed 12 produzido em série – mesmo que limitada. São seis ex-engenheiros da TVR, que se juntaram para formar a TR Supercars. E eles já colocaram nas ruas a primeira unidade do TVR Speed 12 renascido, que foi batizado simplesmente… TR Speed 12.
Problemas com copyright não foram mencionados, talvez porque a atual conjuntura da TVR – uma empresa totalmente nova, capitaneada pelo empresário Les Edgar – está ocupada demais com o desenvolvimento do novo Griffith. Mas parece não haver empecilhos que impeçam a TR Supercars de mencionar o antigo Speed 12, e nem de declarar abertamente que seu próprio Speed 12 é uma continuação do original.
Ao que parece, os engenheiros trabalham para uma companhia britânica chamada Helical Engineering, firma especializada em componentes automotivos de alta performance, como atuadores pneumáticos para turbocompressores e sistemas de escape com válvulas eletrônicas. A Helical Engineering, então, criou a marca TR Supercars para cuidar do desenvolvimento do Speed 12 renascido.
O carro utiliza a mesma estrutura básica do Speed 12 original – um chassi tubular do tipo spaceframe, que fica parcialmente exposto no habitáculo, e serve de apoio para a carroceria de fibra de carbono. A silhueta básica da década de 1990 foi mantida, mas o novo Speed 12 tem o para-choque dianteiro e o difusor traseiro redesenhados. Os faróis são praticamente idênticos aos utilizados em alguns dos protótipos, mas as lanternas traseiras são peças novas que, aparentemente, utilizam luzes de LED. Quem conhece o Speed 12 consegue perceber imediatamente do que se trata o novo superesportivo.
O interior do carro, contudo, ficou mais próximo de um carro de rua do que antes – agora há revestimentos de couro e Alcantara costurados à mão, além de um desenho mais moderno e “finalizado” para o painel. O cluster de instrumentos ainda é digital, e o volante com três raios de metal é uma peça bem old school. No geral, o ambiente do carro ainda possui uma aura meio artesanal – característica que, em um TVR, faz parte de sua personalidade.
A suspensão usa braços triangulares sobrepostos e possui geometria totalmente ajustável, e a TR Supercars garante que o novo Speed 12 será um carro mais domável do que o modelo original. Os freios são de carbono-cerâmica, abrigados sob rodas de 19×10,5 polegadas na dianteira e 20×13,5 polegadas na traseira.
O carro tem 4,66 metros de comprimento, 2,01 metros de largura e 1,17 metro de largura, com entre-eixos de 2,73 metros. As bitolas dianteira e traseira são de 1.621 mm e 1.627 mm, respectivamente. O peso em ordem de marcha fica em 1.448 kg – sem fluidos, são 1.282 kg – distribuídos em 52% na dianteira e 48% na traseira.
É uma distribuição quase perfeita se considerarmos o enorme V12 de seis litros na dianteira. Ao que tudo indica, o motor é derivado do V12 Aston Martin – as medidas de curso e diâmetro são idênticas, 89×79,5 mm, e o desenho do coletor de admissão é praticamente o mesmo.
Com dois turbocompressores e taxa de compressão de 8,3:1, o motor entrega, segundo a TR Supercars, 1.012 cv a 6.700 rpm e 85 mkgf de torque. A rotação máxima é de 8.750 rpm, e no vídeo abaixo – que mostra o primeiro exemplar vendido – é possível ouvir o ronco produzido pelo V12 e amplificado pelo sistema de escape de titânio.
De acordo com a TR Supercars, o novo Speed 12 é capaz de ir de zero a 100 km/h em 2,9 segundos, com velocidade máxima de “mais de 350 km/h”. Eles até divulgaram o tempo estimado do superesportivo em Nürburgring Nordschleife: 7m12s33. E também deixam claro que, diferentemente do original, este Speed 12 vem com controles de tração e estabilidade – embora não tenha aberto mão do câmbio manual.
O preço do TR Speed 12 parte de £ 1,2 milhão – aproximadamente R$ 5,8 milhões, em conversão direta – mas pode ficar ainda mais alto caso o futuro proprietário opte por customizar seu exemplar. Se você está montado na grana e acha que o novo TVR Griffith, que tem um V8 Cosworth de 500 cv, é manso demais, eis sua chance.