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Ferrari 308 GTB/Huffaker: uma Ferrari americana de corrida que nunca entrou nas pistas

Se um automóvel de corrida fosse uma pessoa, a maior frustração de sua vida seria ser impedido de correr. Guardadas as devidas proporções, foi mais ou menos isso que aconteceu com os raríssimos Ferrari 308 GTB/Huffaker IMSA GTU. Apenas três foram fabricados e, quando estavam prestes a entrar na categoria para a qual foram criados, uma mudança na regra os deixou de fora do grid. E um deles, o de chassi 002, está à venda no eBay. Vale conhecer um pouco mais da história desse guerreiro sem guerra, assim como do modelo que o originou

A Ferrari 308 é uma descendente direta das Dino, mais especificamente da Dino 308 GT4, obra do grande Marcelo Gandini. A 308 GTB, por outro lado, é cria de Leonardo Fioravanti, da Pininfarina, pai de carros como a Daytona, 288 GTO e a Ferrari mais aclamada de todos os tempos, a F40. Veio para substituir a Ferrari Dino 246.

A 308 GTB nasceu em 1975. Tinha chassi tubular, carroceria de plástico reforçado por fibra de vidro, 4,23 m de comprimento, apenas 2,34 m de entre-eixos, 1,72 m de largura, 1,12 m de altura e pesava apenas 1.050 kg. Era fabricada pela Carrozzeria Scaglietti. Seu motor V8 2.9, o F106 AB, era montado transversalmente e rendia 255 cv a 6.600 rpm e usava carburadores de corpo duplo Weber 40DCNF, com cárter seco. Alguns modelos, exportados para a Austrália, Japão e EUA usavam cárter comum.

Em 1977 a carroceria de fibra de vidro (que equipou 808 unidades) foi substituída por uma de aço, que deixou o carro 150 kg mais pesado. Em 1980, ganhou injeção eletrônica, passou a se chamar GTBi e sua potência foi reduzida para 214 cv. Em 1983 o motor ganhou quatro válvulas por cilindro, rebatizando o carro para 308 Quattrovalvole, que encerrou carreira em 1985, com o lançamento da 328.

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A 308 em questão só tem relação com o original na aparência. Ela foi inteiramente modificada pelo engenheiro Joe Huffaker, que começou carreira nos anos 1950. Ele foi pai de campeões da SCCA criados sob a encomenda de Kjell Qvale, importador e distribuidor de carros da British Motor Corporation na Costa Oeste dos EUA.

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Dentro das categorias do campeonato de Gran Turismo da IMSA (International Motor Sports Association), havia a GTU, reservada para carros com motores abaixo de 3 litros. Sob a encomenda de Bill Freeman, Huffaker criou três unidades do modelo. Seu 308 tinha motor com montagem longitudinal, conectado a um transeixo Hewland DGB300, da Fórmula Indy. O chassi também era tubular, mas trazia incorporados os braços de suspensão, as molas e os amortecedores, o que reduzia a massa não suspensa do carro. Para levantá-lo, havia quatro air jacks no chassi. A carroceria ficava presa por presilhas Dzus.

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Os freios usavam pinças Alcon com rotores de 330 mm, da Coleman Racing Products. As rodas, BBS, são de aro 16 e com cubo rápido, com 10 polegadas de largura na frente e 12 atrás.

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Os carros ficaram prontos para a temporada de 1991, mas uma mudança nas regras impediu todos os três de competir. Só poderiam competir carros cuja produção tivesse pelo menos três anos. Como o 308 GTB havia saído de linha em 1985, eles ficavam impedidos de participar do campeonato. Imagine a felicidade de Bill Freeman, que havia torrado US$ 1 milhão na construção dos veículos.

O chassi nº 001 ficaria com o próprio Freeman, que o colocaria como um representante de sua empresa na competição. O 002 e o 003 seriam vendidos a consumidores comuns. De fato, em 2008, o chassi 003 foi colocado em leilão na RM Auctions e foi vendido por US$ 137.500.

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O chassi 002 foi o que mais se aventurou por aí. Participou de duas corridas regionais da SCCA, de um track day particular e de um promovido pelo Ferrari Club of America. Com 907 kg e motor rendendo 390 cv a 9.600 rpm, ele chegou a bater uma F40 por 2,9 segundos em um encontro do Ferrari Club no Summit Point Raceway.

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O motor, como se pode imaginar, sofreu mudanças expressivas. Preparado pela Bill Pond Automotive, ele teve sua parte frontal reduzida em 8,9 cm para caber no cofre na longitudinal com o transeixo Hewland instalado. A bomba de água foi realocada e o sistema de comando de válvulas foi alterado. As correias são da Testarossa e as polias dentadas do comando de válvulas são ajustáveis.

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O próprio comando é de competição, com levante das válvulas de admissão em 0,514 polegada (13 mm) a 320º e das de escape em 0,490 polegada (12,5 mm) a 324º Os pistões são forjados, feitos de um material de baixa expansão. As bielas, também forjadas, têm um diâmetro de pino maior. Cada câmara de combustão tem apenas duas válvulas, comuns, com retentores de titânio. O sistema de injeção eletrônica é da Hillborn Fuel Injection, controlado por uma ECU EFI Technology. O sistema de cárter seco usa uma bomba Weaver Bros externa e reservatório do tipo “swirl”.

A Ferrari 308 GTB/Huffaker IMSA GTU de chassi 002 terá melhor sorte do que o 003. Enquanto a primeira foi vendido a US$ 137.500, o 002 está à venda por US$ 425 mil por venda direta. Quem tiver essa grana pode comprar diretamente, sem leilão. Mas ainda restam 9 dias de lance. Quer arriscar? Dê seu lance aqui!