Sammy Wasem tinha 15 anos quando, em 2007, entrou no Facebook e criou uma página dedicada à Ferrari, sua fabricante de automóveis favorita. Ao longo dos anos, sua página juntou milhões de fãs, serviu para organizar eventos e transformou Wasem em quase que uma celebridade na internet. Só que a atenção recebida por ele incomodou a Ferrari, que conseguiu tomar para si o controle da página, que hoje conta mais de 13 milhões de fãs. E isto foi só o começo.
Dois anos depois da criação da página, em 2009, a Ferrari decidiu que seria melhor assumir o controle da fanpage — que já tinha mais de meio milhão de fãs, bem mais do que os 3.000 da até então página oficial da marca. Foi enviado, então, um email a Wasem, parabenizando-o por conseguir mais de 500 mil fãs em um ano, porém que “por razões legais”, a Ferrari precisava tomar formalmente o controle da página.
Segundo Sammy Wasem, a Ferrari selou um acordo com o Facebook para tornar a página criada por ele sua página oficial — com logotipos oficiais e tudo. Incrível, não é?
Nem tanto. Wasem conta que, antes mesmo de entrar em contato com ele, a Ferrari já havia tomado todos os procedimentos junto ao Facebook para tomar o controle da página. Mesmo assim, talvez ingenuamente, Wasem seguiu mantendo a página, agora com a supervisão da Ferrari. A página seguiu ganhando likes e, em pouco tempo, tinha um milhão de seguidores — feito pelo qual Wasem foi parabenizado pela marca, que disse ter “planos muito bons” para ele. Uma posição como social media da Ferrari, talvez?
Wasem diz que, ao longo de quatro anos cuidando da página, ajudou a Ferrari a ganhar muito dinheiro. Neste post em seu perfil pessoal, ele dá alguns números — citando, por exemplo, que desde 2010 a Ferrari Store, loja virtual da Ferrari, teve um aumento de 25% nas vendas, em boa parte graças ao peso cada vez maior de sua página no Facebook.
Foi ali que as coisas começaram a ficar claras para Sammy Wasem. Com o apoio de seu pai, ele é piloto amador desde muito jovem, e esperava que este acordo com a Ferrari fosse, ao menos, render a ele algum dinheiro, que o ajudaria a financiar sua carreira nas pistas e, quem sabe, até torná-lo um profissional. Não foi o que aconteceu — pelo contrário. Depois de algum tempo, a Ferrari tirou de Wasem o poder de publicar na página — efetivamente removendo seu nome da lista e tomando para si o controle total.
Ironicamente, em 2012 a Ferrari divulgou o vídeo abaixo, agradecendo aos fãs por conseguir 10 milhões de likes em sua página oficial — a mesma criada por Wasem —, e não deu a ele nenhum tipo de crédito, nem em forma de agradecimento.
A situação levou Sammy Wasem e seu pai, Olivier, a entrar na justiça da Suíça — onde eles vivem —, processando a Ferrari por danos financeiros e exigindo uma compensação financeira por 5.500 horas de trabalho não pago. Calculada com correção, a soma pedida é de 10 milhões de francos suíços, ou mais de R$ 25 milhões. É muito dinheiro e, claro, a Ferrari não está disposta a pagar. E mais: segundo Wasem, a marca nega publicamente que existe um processo contra ela na corte de Genebra — ainda que tenha enviado, à própria corte, declarações reconhecendo a convocação para duas audiências (e não mandando representantes para nenhuma delas).
Pelo contrário: a marca está, agora, processando os Wasem por uso indevido da marca — lembrando que a política do Facebook permite que um consumidor ou fã crie uma página dedicada a um produto ou marca, desde que deixe claro que não fala em nome da companhia. Aparentemente, foi exatamente isto que Wasem fez — ele se considera, mesmo hoje, um grande fã da Ferrari, porém diz que pretende levar o processo até as últimas consequências.
A história já conta seis anos desde a criação da página por Sammy Wasem — e este não é o primeiro caso do tipo. Em 2008, a Coca-Cola se encontrou em uma situação parecida: dois fãs criaram uma página de muito sucesso dedicada ao refrigerante. A empresa os contratou e deu a eles todos os recursos para que continuassem realizando o bom trabalho.
Talvez, apesar de tudo o que já aconteceu, fosse melhor para a Ferrari fazer algo parecido. Com a postura atual, a marca corre um risco muito grande de manchar sua imagem — que já não é das melhores no quesito “proximidade com os fãs”.
regras do facebook permitem a criação de pages de marcas, desde que o criador deixe claro que não está falando em nome da companhia. É o que Wasem afirma ter feito, tendo a ferrari tomado controle da pagina por ver potencial comercial.
Certamente o caso “Wasem vs. Ferrari” vai fazer muito barulho. Vamos nos manter atualizados.