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Car Culture Zero a 300

Ferrari Testarossa dissecada: relembre o ícone em detalhes que você nunca viu!

Apesar de ter sido um ícone dos anos 1980, a Ferrari Testarossa nunca foi uma unanimidade entre os entusiastas e até mesmo entre os ferraristas. As principais críticas ao carro sempre foram direcionadas ao seu design, que tinha uma traseira imensa (culpe o flat-12, não Leonardo Fioravanti) e com cantos retos, as laterais aletadas e a dianteira baixa e mais estreita que a traseira. Mesmo assim ela conquistou seu espaço e até virou estrela de TV.

Nascida em 1984, ela entrou nos anos 1990 com apenas seis anos de carreira, o que já é considerado o fim da vida em termos de ciclos de produto no mercado automotivo. Seu visual já estava envelhecido pelos faróis auxiliares não-integrados e com canto retos, pelo spoiler e saias laterais pretos, que remetiam à combinação de suas irmãs mais velhas, a 512BB e 308 GTB. Para piorar, a chegada da F40 eliminou completamente qualquer chance da Testarossa em manter seu status de Ferrari dos sonhos. Não dava para competir.

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Aliás, falando em competir, a Testarossa foi uma das únicas Ferrari que não tem um histórico nas pistas. Com seus quase 1.700 kg ela nunca foi pensada para atacar pontos de tangência com a voracidade das demais Ferrari V12. Seu negócio era cruzar estradas, te levar para o mais longe possível confortavelmente em alta velocidade. Mas isso era um valor no qual nem mesmo a Ferrari estava interessada na época, como fica evidente pela existência da F40.

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Em 1992, seu oitavo ano de vida, a Testarossa mudou de nome passando a se chamar 512TR, ganhou uma dianteira mais moderna, com para-choques inspirados na dianteira da 348 e lanternas mais aparentes sobre a grade traseira. No final daquele ano a 456 GT apareceu para mostrar como seriam as Ferrari dos anos 1990, e em 1994 foi a vez da F355 tornar a 512TR ainda mais antiquada. As maiores memórias que as pessoas têm da Ferrari Testarossa nos anos 1990 certamente são do game Cruisin’USA — onde ela se chamava Italia P69. Nem mesmo o facelift que ela sofreu (e sofreu mesmo) naquele ano ajudou. Com lentes no lugar dos faróis escamoteáveis ela ganhou um sorriso simpático como o Austin Healey Sprite “frogeye”, mas as laterais e as lanternas traseiras circulares destoavam demais de um visual que nunca foi perfeito.

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Para piorar, seus rivais pareciam muito mais modernos — e de fato eram se você considerar que estamos falando do Lamborghini Diablo e do McLaren F1. Por isso,à medida em que os anos 1990 avançavam a Testarossa ia ficando para trás. Esquecida, ela deixou de ser produzida dois anos depois, em 1996. Morreu como Eleanor Rigby.

Mas aí veio o revival dos anos 1980, aquele ciclo de tendências que se repetem a cada 30 anos. A estética oitentista ganhou as ruas, as lentes, as capas, as redes, os games, os alto-falantes e fones de ouvido. A Ferrari Testarossa, com seu visual que era a cara daquela década, veio no embalo e voltou ao estrelato, agora como um ícone retrô.

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E como um ícone, decidimos dar uma boa olhada naqueles detalhes que nunca apareceram nos pôsteres, nos vídeos, nos games e nos clipes. Para isso, contamos com a ajuda do manual do proprietário da Testarossa, um dos manuais integrantes da biblioteca secreta do FlatOut, e de algumas fotos dos americanos da LBI Limited.

Primeiro uma boa olhada por fora.

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Abra as portas e você irá reparar as aletas que direcionam o ar para os radiadores, instalados nas laterais traseiras, em frente às caixas de roda.

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É isso o que te recebe lá dentro:

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Aqui temos o quadro de instrumentos, que parece ter saído diretamente de uma loja de souvenires de “De Volta Para o Futuro”. Os números até lembram os circuitos do tempo. E tem uma pegadinha aí. Dê uma boa olhada e veja se você nota alguma ausência:

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Notou? Qual a quilometragem do carro? Quanta gasolina ele ainda tem no tanque? A resposta está pouco mais ao lado e embaixo, no console central:

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Sim: a Ferrari Testarossa tinha seu odômetro no console central, abaixo do relógio digital e de um par de instrumentos. O de cima mede a temperatura do óleo do motor, e o de baixo o nível do tanque de combustível, que tem capacidade para 115 litros.

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Já que estamos no console central, você também deve ter notado que a Testarossa não tem nenhum comando aparente no painel, certo?

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É porque tudo foi deslocado para baixo, entre os bancos, assim você não precisa esticar os braços, nem desencostar do banco para ajustar o ar-condicionado, abrir os vidros ou até mesmo abrir o porta-luvas.

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Aqui podemos ver tudo em detalhes: os três botões ao lado da alavanca de câmbio servem para fechar ou abrir a recirculação do ar-condicionado (o de cima), ativar/desativar o ar-condicionado (meio) e ativar o modo de desembaçador (embaixo). Lá no alto, o “Stop”, serve para interromper o aquecedor.

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O botão com o detalhe amarelo é a velocidade do ventilador, seguido pelo seletor de temperatura no meio e, embaixo, o acendedor de cigarros. Na parte de baixo, o interruptor à direita é o seletor de saída da ventilação do lado do passageiro, enquanto o da esquerda é o do lado do motorista. Os dois recortes indicam qual saída está selecionada.

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Ao lado, próximo do motorista, está o ajuste elétrico do retrovisor externo (o joystick em cruz), o seletor das luzes de estacionamento (o botão verde com a letra P) e o interruptor do pisca-alerta (você sabe qual…).

No outro lado, o interruptor do topo aciona o vidro da janela do motorista, o do meio a janela do passageiro e logo abaixo dele (acima do seletor da saída da ventilação) está o interruptor que ativa a fechadura eletromagnética do porta-luvas, que tem um espelho de cortesia integrado:

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Ainda no console central, o pomo do câmbio indica a ré para a frente e a primeira marcha tipo dogleg…

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… e com atenção à grelha você poderá ver o interruptor da luz de ré, acionado quando a alavanca o pressiona.

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Atrás desse painel de comandos, fica o descanso de braço, que esconde um porta-objetos e um porta-fitas-cassete. 1986, cara!

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Isso porque originalmente a Ferrari Testarossa tem um toca-fitas como sistema de áudio original. Ele fica escondido atrás desta tampa no painel:

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Mas neste exemplar, ao abri-la, você topa com um CD player Alpine 7900, feito na virada dos anos 1980 para os anos 1990:

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Depois vamos aos bancos. Embora na maioria das fotos eles pareçam inteiriços, com o encosto de cabeça integrado, eles na verdade têm ajuste de altura do apoio para a cabeça — afinal, trata-se de um grã-turismo, e não de um rato de pista.

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O ajuste é elétrico, feito por três botões quase escondidos na lateral externa dos assentos:

Ah, outra curiosidade é que o freio de mão da Testarossa não fica no console central e muito menos usa um quarto pedal. Ele fica esmagado entre o banco e a soleira, logo ao lado destas alavancas cromadas:

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A alavanca da frente abre o capô por meio de um mecanismo eletromagnético. A alavanca de trás abre a tampa do motor, também por um sistema eletromagnético. Ambas têm uma cordinha escondida no acabamento da cabine para a abertura mecânica caso a bateria acabe descarregada — o que não é difícil de acontecer com uma Ferrari que sai da garagem esporadicamente.

Ainda na cabine, podemos ver como as caixas de roda imensas ocupam espaço para os pés — especialmente do motorista, cuja pedaleira fica encaixada justinha no espaço que sobrou:

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Note como os pedais são deslocados em relação à linha de centro do banco. Nesta outra foto abaixo dá para ver os pedais mais claramente, a alavanca de ajuste da coluna de direção e a cordinha da abertura mecânica do capô, que falei mais acima no texto, dando as caras sobre o alto-falante:

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Hora de sair do carro. Com os comandos elétricos todos no console central, o painel da porta é limpo:

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A maçaneta fica escondida sob o puxador:

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E a porta tem uma luz de cortesia para iluminar onde você irá pisar:

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Agora que descemos do carro, vamos dar uma olhada no porta-malas da Testarossa:

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Diga a verdade: você esperava que ele fosse assim espaçoso? E que ainda tivesse espaço para todas essas ferramentas?

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E se você olhar a dianteira com o capô aberto, encontrará as buzinas FIAMM e o reservatório do lavador do para-brisa:

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Vamos fechar o capô e dar uma olhada lá atrás.

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Reparou que ela tem só um duto de admissão no spoiler? É porque ele alimenta o condensador do ar-condicionado, que fica instalado em frente à caixa de roda dianteira esquerda.

Abra a tampa e…

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… você topa com isso: o inspirador de seu batismo: o motor flat-12 F113 com as tampas de válvulas vermelhas.

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Como já foi explicado centenas de vezes ao longo da história, testa é a palavra italiana para cabeça, e rossa é o nome da cor vermelha. Pode chamar de ruiva:

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Apesar da posição baixa do bloco em V aberto a 180 graus (que é a definição de um flat-12), a admissão fica em posição elevada, principalmente para dar comprimento aos dutos de admissão, o que ajuda a acelerar o ar que entra no motor.

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Nesta foto acima também é possível apreciar a disposição dos componentes do motor. Os abafadores ficam encaixados sob a boca da admissão, acima do câmbio. São eles que você vê através da grade traseira, e não o motor em si.

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Ou nem verá nada, considerando a velocidade na qual a Testarossa irá passar por você:

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Foto: Ron Alder/Flickr