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Lançamentos

Fiat 124 Spider testado: o que andam falando do novo roadster italiano?

Uma das maiores mágoas que os entusiastas têm no Brasil é a ausência da pequena maravilha que é o Mazda MX-5 Miata. Desde 1989, o roadster é sinônimo de esportividade sem apelar para rios de potência — tanto que a geração atual ficou menos potente que a última —, mas só veio ao Brasil em pequenas quantidades depois da abertura das importações em 1990. Depois disso, nunca mais.

Nada disso impediu a gente de cobrir o lançamento do novo Miata, e muito menos de falar de seu “irmão”: o Fiat 124 Spider. Ele foi lançado em novembro de 2015, e agora começaram a surgir os primeiros reviews lá fora. E, assim como fizemos uma meta-avaliação do Miata, chegou a hora de fazer o mesmo com o 124 Spider. Como ele anda, segundo os gringos?

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O Fiat 124 é a conclusão de uma história que começou lá em 2012, quando muito se falou a respeito de um roadster Alfa Romeo desenvolvido com a ajuda da Mazda. No entanto, as reviravoltas do Grupo FCA acabaram colocando um emblema Fiat na grade do roadster, que também recebeu visual inspirado no clássico da década de 1960. Rolou até um ensaio fotográfico com os dois carros, um antigo e um novo, lado a lado.

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O visual traz inspiração no Fiat 124 Spider lançado em 1966, desenhado por Tom Tjaarda (o mesmo responsável pelo De Tomado Pantera) no estúdio Pininfarina. Ele tem faróis maiores e arredondados, lanternas traseiras quadradas, uma dianteira mais pronunciada e balanços maiores. O formato da grade lembra o original, e o capô traz o ressalto duplo que, no original, era uma referência ao comando duplo no cabeçote do quatro-cilindros projetado por Aurelio Lampredi.

Dito isto, o entre-eixos tem os mesmos xx metros do Miata. As portas são iguais, bem como o para-brisa. No mais, os painéis da carroceria são todos diferentes. É um carro retrô, mas não de forma tão evidente como no Fiat 500 — é algo mais leve.

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As mudanças na carroceria, além de um aumento de 10 litros na capacidade do porta-malas, deram ao carro um capô proporcionalmente maior e, consequentemente, um discreto quê de grand tourer. E, de certa forma, isto acaba revelando um pouco sobre a personalidade do Fiat 124 Spider.

Não foi apenas uma publicação que chamou o carro de “Miata para adultos”, “Miata crescido” ou “Miata mais maduro” — topamos com outras variações sobre o mesmo tema em boa parte dos reviews que lemos. Um carro que continua compacto e bom de curva, mas ficou um pouco mais pesado, ganhou alguns cavalos e foi repaginado para ficar mais confortável para uma longa viagem. Será que deu certo?

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Se era realmente esta a ideia, deu certo, sim. No entanto, a gente sentiu que os europeus ficaram mais satisfeitos com o carro do que os americanos — que, aliás, receberam uma versão um pouquinho mais potente: o Fiat 124 americano, em todas as versões, tem o mesmo 1.4 turbo MultiAir do 500 Abarth vendido por lá, porém com 1,5 bar em vez de 1,2 bar de pressão. O resultado: 162 cv a 5.500 rpm e 25,4 mkgf de torque a 2.500 rpm. O modelo europeu traz uma versão menos potente do mesmo motor, com 140 cv e 24,4 mkgf de torque. Em ambos os casos, o câmbio é manual de seis marchas igual ao do Mazda Miata, bem como a caixa automática opcional da Aisin, também de seis marchas. De qualquer forma, a Fiat não permitiu que os jornalistas obtivessem dados de desempenho.

A maior mudança aqui é o fato de o Miata ter um motor 2.0 naturalmente aspirado, capaz de produzir 155 cv. Considerando que o Fiat 124 Spider é cerca de 100 kg mais pesado, a impressão geral é de que os carros têm desempenho em linha reta semelhante. No entanto, o motor do Miata parece mais esperto em baixa rotação — matemática básica: Fiat sofre com turbolag — o turbocompressor só “enche” perto do meio da faixa de rotações — e por isso o motor demora mais para funcionar “a plenos pulmões”, digamos assim. Além disso, o ronco do motor agradou mais aos americanos — como os caras do Autoblog:

O motor do 124 Spider é mais notável por sua falta de personalidade auditiva. Claro, motores turbinados costumam mesmo ter roncos mais discretos, mas o 500 Abarth, de onde vem este motor, é famoso por sua trilha sonora. Já o 124 Spider não tem um som tão agradável quanto o MX-5, que consegue uma nota perceptível e maravilhosamente afinada que não se perde ou incomoda.

Isto, no entanto, tem a ver com a personalidade mais madura do carro — que recebeu pára-brisa acústico, isolamento sonoro extra atrás do painel e um vidro traseiro mais espesso. O interior, como já comentamos no post de lançamento, é praticamente idêntico ao do Miata, mas recebeu novos revestimentos nas portas, forração macia em certas partes do painel, novas faces para os mostradores do cluster e bancos com novo desenho (porém a mesma armação usada no Mazda). A gente não curtiu isto, e os caras da Road and Track também não: “compartilhar detalhes assim com um carro tão diferente por fora não funciona muito bem. Perde-se o charme do carro original.”

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Agora, a Fiat não trocou apenas a carroceria e o motor do Miata: a suspensão também sofreu reajustes na geometria: ainda que componentes como buchas e braços de controle, sejam os mesmos, o carro agora rola menos nas curvas. No entanto, a suspensão ficou um pouco mais macia e transmite menos imperfeições do piso — e também acaba com um pouco da experiência visceral do Miata. A conclusão da Road and Track resume perfeitamente suas impressões:

Basicamente, este é um carro incrível que foi transformado em um carro bom. Se o Miata não existisse e o Fiat 124 tivesse acabado de ser lançado, a equipe desta revista estaria dando piruetas. E este é o problema. Como o Miata existe, tudo o que o Fiat faz é te lembrar o quanto ele é bom.

Pelo menos eles ainda podem escolher entre os dois, não é?

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